Capítulo 12

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Frio, muito frio, era a única coisa em que pensava. Tentei mexer-me mas não consegui, o meu corpo estava demasiado pesado, tentei abrir os olhos, o que me custou imenso, mas ao fim de um tempo lá consegui. Dei de contas que estava na minha cela escura, o ar bafiento e gelado. Estava deitada na cama, nua, a cama já não tinha cobertores, apenas o colchão me servia de apoio. Tentei mexer-me, mas a dor era muita, levei a mão às costas e senti pontadas de dor, não me estava a cicatrizar. A minha mão voltou cheia de sangue, e entrei em pânico. Sabia que já estava inconsciente à algum tempo, o sangue que já tinha perdido era bastante e não parava, fui deixada ali para morrer. O meu corpo não parava de tremer e eu não me conseguia sequer levantar, falar estava fora de questão, requeria muita energia que eu não tinha. Só me restava ficar aqui, a olhar para a parede lisa, do meu pequeno cubículo, à espera do inevitável. A minha esperança de ser salva estava completamente destruída, o que estaríam o Jake e o Kyle a fazer? Estariam á minha procura? Tinha saudades deles, do seu toque, do seu cheiro, queria tê-los conhecido melhor, ter feito mais perguntas, tê-los beijado mais, mas agora de nada valia. Ouvi passos vindos do longe, apenas um par de sapatos, que pararam à porta da minha cela, a porta abriu-se fazendo o barulho do ferro soar demasiado alto para os meus ouvidos, não me mexi. O Morcego parou á minha frente, só lhe conseguia ver as pernas, até que ele se ajoelhou, ficando com a sua cabeça ao nível da minha. A sua cara distorcida num sorriso malvado, como sempre. Deu-me uma festa na cara, a sua mão cheirava a carne queimada, o que fez um vômito subir à minha garganta. O seu toque paralisava-me, sentia um frio por todo o meu corpo. Sentou-se no chão á minha frente, as pernas cruzadas, os olhos postos em mim, passava a mão pelas minhas costa, causando-me uma dor excruciante, o que me fazia arquear o corpo. Mordi o lábio inferior para não gemer, não lhe daria essa satisfação, mas ele sabia o que estava a fazer, os seus olhos nunca pararam de olhar os meus, tentando desvendar os meus sentimentos. Levou as mãos até às minhas feridas, apertando com força os cortes, as suas unhas cravadas na carne aberta, fazendo-me gritar, contorci-me tentando-me livrar do seu agarre, mas não consegui, estava demasiado fraca. Sangue pingava para o chão, o colchão já estava ensopado, a minha visão estava a ficar escura, mas ele largou-me nesse momento, como se soubesse que estava prestes a desmaiar, e se estivesse a divertir demasiado para isso. Encostou a sua cara à minha, sentia o seu bafo nas minhas bochechas, o calor que a sua pele irradiava.
-Por esta altura pensava que já estarias mais disposta, mas quando me aproximo de ti, vejo apenas um vazio. E eu não gosto disso, quero que sintas medo, terror de mim, afinal, não sou eu uma criatura maldosa? - A sua testa enrugava-se como se tivesse a fazer um esforço imenso para entender.
-Pensas demasiado de ti mesmo, só falas comigo porque estou neste estado, se estivesse recuperada e sã não tinhas hipótese nenhuma. - Não lhe ia dar o prazer de me ver fraca, de me submeter, se ia morrer que ao menos que fosse com dignidade. Apesar de a minha voz sair tão fraca que ele teria que fazer um esforço para me ouvir.
-E agora quem pensa mais de si mesmo? Vocês lobinhos só porque uivam para a lua, pensam que controlam o mundo, mas deixa-me dizer-te uma coisa, querida, quem controla o mundo somos nós, pensei que o tínhamos deixado esclarecido quando invadimos as vossas terrinhas. - O seu tom de voz já tinha subido, estava praticamente a gritar, a sua voz a preencher a cela como uma aura.
Então ele tinha feito parte da invasão, tinha sido ele a destruir, a matar pessoas que eu conhecia, que tipo de ódio pode chegar tão longe, que tipo de pessoa?
A confusão devia estar marcada na minha cara, pois ele olhava para mim com olhos cerrados.
-Demorei muito tempo para te encontrar, mas felizmente tive uma ajuda da tua amiguinha, Sarah se não me engano. Ela não parecia querer-te por perto, e eu queria-te, juntamos o útil ao agradável, não te parece? -Continuou de seguida - Não sabes o tempo que gastei à tua procura, durante estes anos todos andaste escondida, mas agora voltaste e tomei a minha oportunidade. - Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro na pequena divisão, a mão a coçar a barba.
-Porquê? Se é a minha que querias, para quê raptares outras pessoas? - Queria descobrir o mais possível sobre este assunto, queria ficar esclarecida, entender o porquê.
-Sou uma pessoa muito curiosa, gosto de entender como as coisas funcionam, desde pequeno que sou assim. Quando soube da vossa existência, da vossa raça fiquei obcecado. Estudei tudo sobre lobos, o que faziam, como eram. Não conseguia dormir de noite, e de dia tentava descobrir uma maneira de vos achar. Com muito esforço consegui rastrear um de vocês, que vim a descobrir ser o teu pai, pensei em trazê-lo comigo, mas pensei que se o continuasse a seguir iria encontrar a alcateia. E foi mesmo isso que aconteceu. - Parecia um lunático, falava rápido demais e tinha dificuldade em perceber algumas coisas que ele dizia, tinha o olhar vazio como se tivesse a olhar para o passado. - Ele foi ter com uma mulher, uma muito bonita, beijou-a, e depois tu apareceste. Eras a coisa mais linda que eu já tinha visto, o cabelo quase branco do sol e os teus olhos translúcidos, tinhas uma energia invejável, e uma cara de anjo. Nesse momento soube que tinha de te ter. Só precisei embutir medo nas pessoas certas e invadimos a vossa aldeia. E eu apanhei-te, eras tão perfeita, tão linda, queria ver do que eras feita, o que te fazia tão bonita. - Ele encontrava-se sentado à minha frente enconstado a mim, a sua boca perto da minha, as suas mãos navegavam pelo meu corpo causando-me dor, mas eu não fiz nenhum som.
A obsessão dele metia-me medo, nojo até, só de pensar que ele observara a minha família. Tinha medo do que ele podia fazer-lhes caso eu morresse, continuaria ele com a mesma obsessão? Fechei os olhos na tentativa de deixar tudo para trás, não queria pensar mais, a cabeça doia-me, os olhos estavam pesados, a dor pesava-me no corpo. Quando olhei nos olhos deste homem horrível, ele beijou-me, foi um toque rude, áspero, desprovido de sentimentos, olhou para mim fixamente, como se tivesse a ler algo nos meus olhos.
-Não morras já, ainda tenho muitos planos para nós. - Um sorriso formou-se nos seus lábios, mas este desvaneceu-se assim que uma sirene começou a tocar. Uma luz vermelha era emitida do lado de fora da minha cela, causando sombras. O barulho estridente entrava-me pelos ouvidos, fazendo-me gemer.
O Morcego levantou-se, as mãos puxavam o cabelo como se o quiseres arrancar pela raiz, a sua cara vermelha de fúria. Abriu a porta de ferro e fechou-a com força, agarrava as grades com tanta força que se viam os ossos das mãos.
-Espero que sejam os teus amigos, pode ser que te venham fazer companhia, eu digo-lhes que disseste olá. - E desapareceu no corredor.
Seria mesmo o Jake e o Kyle? Como é que sabiam onde eu estava? E se eram mesmo eles, espero que tenham cuidado, pelos sons que ouvia, havia muita munição a ir contra eles.

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