Capitulo 52

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          Andámos até ao quarto dentro da clínica. Alexis tinha acordado e nós estávamos a ir falar com ela, era importante retirarmos informação dela antes de pormos em prática o nosso plano. Eu, o Jake, o Kyle e o Darren entrámos no quarto, mas este estava vazio, a cama estava desfeita, mas rapidamente reparámos que Alexis estava na casa de banho adjunta ao quarto. Ela saiu devagar, fumo saia detrás da sua figura dando-lhe um ar misterioso. Ela agarrou-se à porta com medo de cair, o seu cabelo ainda pingava do banho e a bata branca chegava-lhe ao meio das pernas. Darren xingou ao meu lado e o Jake e o Kyle suspiraram, não entendi o porquê ao início, mas logo reparei no que estava à frente, ela era uma linda e inconfundível cópia de Caroline. Neste momento entendi que aqueles olhos azuis que me fitavam abertamente eram assustadoramente iguais aos do Jake e do Kyle, não podia ser uma coincidência, esta era sem dúvida alguma filha de Caroline, a qual ela queria que eu protegesse. 

     -Como é possível, és igual a ela... - Darren sussurrou.

   -Senhor, eu não sei do que está a falar. - Alexis falou enquanto tentava, sem sucesso sentar-se na cadeira ao lado da cama. 

    Darren chegou ao pé dela e abriu a carteira dando-lhe um bocado de papel. Os olhos de Alexis rapidamente encheram-se de lágrimas, tapou a boca na tentativa de abafar um grito. A mulher estava claramente perdida neste momento, isso era claro na sua feição e no seu corpo que não parava de tremer.

    -Eu nunca conheci a minha mãe, o meu pai disse-me que ela tinha morrido ao dar à luz. - Ela proferiu espantada.

   -Que idade tens tu? - Jake questionou.

Ele acenou quando ela respondeu. 

   -És mais velha do que nós, por isso ela ainda estava viva depois de tu nasceres. 

  -Nessa altura eu estava a juntar-me com a Caroline, foi na altura que nós fugimos, ela deve ter-te tido antes disso. 

   -Tens mesmo a certeza disto? - Alexis perguntou relutante.

    -Não, mas que outra explicação poderia haver?

Ela assentiu e deu de novo a fotografia ao Darren. 

   -Podes ficar com ela, eu tenho bastantes.

  -Obrigada... - Ela falou baixinho. - Nunca pensei em encontrar uma família.

  -Bem, se tudo isto for verdade, tu és tecnicamente nossa irmã mais velha. - Kyle disse-lhe com um pequeno sorriso para a tranquilizar.

   Ela mordeu o lábio e olhou para todos com receio, até que um soluço escapou dos seus lábios, rapidamente começou a chorar, o seu corpo tremia devido aos espasmos violentos. Agarrava a fotografia fortemente contra o peito, como se tivesse achado algo à muito perdido. Ninguém conseguiu pronunciar uma palavra, os gémeos estavam demasiado chocados até para se mexerem, e eu não me queria intrometer, por não saber como dizer que de alguma forma eu já sabia que tudo isto era verdade. Darren abraçou-a de modo a acalmá-la mas isso só a fez chorar mais, mas ele não se importou, e segurou-a mais forte, afinal ambos estavam feridos pela mesma coisa, a ausência de Caroline. 

   -Quando voltar eu conto-te tudo o que quiseres saber sobre ela, mas agora precisamos de te perguntar umas coisas, pode ser? - Darren perguntou-lhe cuidadosamente. 

Ela afirmou com a cabeça e acalmou-se, limpou a cara à bata e respirou fundo, a sua cara estava agora vermelha e os seus olhos inchados.

  -Quem é o teu pai? - Darren perguntou suavemente. 

  Ela olhou para as mãos nervosa, e fitou o Darren quando respondeu. - O nome dele é...David.

Ninguém falou, se o pai dela era o David Carter, queria dizer que ela estava, infelizmente na duas frentes da guerra, ela era filha do inimigo e filha do aliado. Era evidente, apesar de eu não a ter conhecido, que Caroline amava o Darren e se ela tinha tido uma criança com outro homem, não tinha sido de bom agrado... Parecia-me a mim que o Darren deveria ter procurado mais respostas ao seu pai, mas agora era demasiado tarde para isso.

    -Alexis... - Começou o Darren. - Eu não te quero culpar de nada mas eu preciso de saber se estás aqui a mando de alguém.

  -Eu? - Ela perguntou confusa. - O meu pai sempre me odiou, pelo menos desde que eu me lembro, ele sempre dizia que não queria que eu fosse filha dele, que eu tinha sido contaminada pelo mal. - Ela olhou para nós e falou relutante. - Acho que isso significaria ser como vocês, um lobo...

  -E o que sabes sobre nós?

-Não muito, mas as pessoas falavam onde eu estava, ele não gostava de vocês, ninguém gostava. Assim que ele descobriu que eu também era parte loba, pôs-me em cativeiro, raramente o vi depois disso. Tudo o que eu aprendi foi graças aos enfermeiros que estavam lá, e que tinham a decência de cuidar de mim.

-Quantos anos tinhas? - Kyle perguntou-lhe, estava visivelmente chateado.

-Não sei dizer ao certo, mas não tinha mais do que dois anos, acho eu, a minha memória não era a melhor nessa altura, antes disso penso que fiquei com os meus avós mas também não me lembro deles, eu sei disso porque o meu pai costumava dizer-me que eles me tinham estragado com mimos.  - Ela continuou após reparar nos nossos olhos de tristeza. - Mas eu consegui safar-me, aprendi muita coisa sozinha, apesar de não ter família que me apoiasse, eu consegui e aqui estou eu. - Sorriu fracamente.

-Sabes onde ele está? -Questionou Darren, estava tenso, os seus olhos duros, as mãos apertadas ao lado do seu corpo.

-Não faço ideia, eu estava lá quando vocês invadiram o edifício, mas consegui escapar antes de chegarem até mim, nessa altura as pessoas ficaram muito agitadas e consequentemente distraídas, o que me deu a chance de eu roubar uma chave e fugir. Depois disso consegui arranjar mapas e fugir para a casa do meu pai, onde consegui aquele caderno que dei aos rapazes, sabia que tinha de fugir porque ele vinha à minha procura. Eu tinha de arranjar uma maneira de ficar protegida, e eu não podia fazê-lo sozinha, eu não conheço nada sobre o mundo a não ser maldade e egoísmo, eu tinha de arranjar ajuda. Não me sinto bem em dizer que usei os rapazes para ficar protegida, mas parece que paguei por isso... - Ela disse tocando na barriga, onde estava parte do seu ferimento.

 -Tu não tens culpa de nada do que aconteceu, eras apenas uma criança, e estavas a pagar pelos erros de outras pessoas, o que ele te fez não é de uma pessoa normal. - Kyle explicou-lhe.

-Tu dirás o mesmo de mim, se eu te disser que quero encontrá-lo para que eu possa confrontá-lo com tudo o que ele me fez, de lhe perguntar o porquê de ele me tratar daquela maneira.

-Eu diria que tu só precisas de respostas, o que é normal, ninguém gosta ficar na ignorância para sempre, e tens a minha palavra que eu te vou ajudar a obtê-las, assim que surgir oportunidade. 

-Obrigada, mas eu não quero desperdiçar o tempo de ninguém. - Ela disse suavemente. 

-Não é desperdício de tempo quando ajudamos a nossa própria família, para além disso, tenho de compensar o tempo perdido contigo, não é todos os dias que descobrimos que temos uma irmã. - Ele afirmou e sorriu para ela.

Este episódio lembrou-me sobre uma frase que uma vez li num dos livros da Jane "A verdadeira família é aquele unida pelo espírito e não pelo sangue" de alguém que eu já nem me recordo, mas que fazia o maior sentido neste momento. Alexis tinha vindo do nada, sem ninguém sem conhecer nada sobre o mundo, até encontrar aqui uma família que a estava a receber de braços abertos sem questionar o seu passado, querendo-a ajudar a ultrapassar tudo o que a atormentava, eles querem ajudá-la a deixar o passado onde ele pertence. Nada poderia ser melhor do que isto, mas agora era momento de Darren ir à alcateia do seu pai, e fazer com que eles se ajoelhem, porque se isso não acontecesse algo muito pior do que uma guerra iria acontecer, Darren morreria, porque ninguém o conseguiria salvar no meio de tantos inimigos.


A Sombra de KoraOnde histórias criam vida. Descubra agora