A Sombra de Kora

Capítulo 40

-O que foi aquilo?

Perguntei-lhe assim que chegámos a casa, ela tinha corrido para aqui de depois do que se tinha passado com a Kora. Andava de um lado para o outro na sala, sem saber o que fazer, nem sequer olhava para mim, limitava-se a tremer. Cheguei ao pé dela na tentativa de a fazer notar a minha presença, agarrei-lhe o braço puxando-a para mim, mas ela tentou afastar-me. As mãos dela estavam em punhos e batiam-me no peito, mas eu não sentia nada disso, a minha dor era no meu coração, matava-me por dentro vê-la assim, ainda que ela não o soubesse.

-Deixa-me Mika, por favor! Eu não aguento isto, eu não quero nada disto! - Ela tentava desesperadamente sair do meu agarre, mas eu não ia deixar.

Ela continuou a manifestar-se contra mim, a bater-me, mas eu não queria saber, a unica coisa que me importava era saber que ela estava bem, e neste momento ela nem estava perto disso. Eu queria protegê-la e que ela estivesse sempre a sorrir, se é que tal fosse possível com tanto mal neste mundo. Mas eu faria o meu melhor para a proteger de tudo isso, era o meu dever como companheiro dela, era o meu dever como homem, era o meu destino e eu sabia-o, era impossível mudar aquilo para o qual nascemos.

-Diz-me o que se passou Soph por favor, desabafa comigo - Sussurrei-lhe assim que ela parou de protestar. 

-Não posso, eu não posso Mika - Respondeu-me fracamente. 

-Toma o teu tempo princesa - Afaguei-lhe as costas tentando acalmá-la.

-O que eu faria sem ti?... 

-Mais do que tu pensas, tu és uma pessoa espectacular,  querida para todos, e é por isso que eu, neste pouco tempo que estou contigo,  aprendi a amar alguém para além de mim mesmo. 

Ela olhou para mim, os seus olhos vermelhos do choro, as bochechas vermelhas que a faziam tão adorável. 

-Não devias ser assim para mim, se soubesses aquilo que eu sou, eu sou uma aberração Mika. Por favor não faças isto mais difícil do que é. Por favor,  vai-te embora - Não me afastei, ela dizia que queria que eu fosse embora, mas as mãos dela agarravam-me com força a camisola, obrigando-me a manter-me junto a ela. 

-Fica sabendo que eu não vou a lado nenhum, por muito que me peças ou que me implores, estás agarrada a mim para a vida -Sorri para ela.

-Porquê?

Puxei-lhe o queixo para ela olhar para mim, tinha uns olhos tão lindos, era-me impossível descrever o que sentia quando olhava para ela, era como ver o sol nascer à minha frente, como presenciar um milagre da natureza, e de certa forma era isso, ela era o meu milagre pessoal.

-Porque é o que estás acostumada não é? Que as pessoas te abandonem e que não queiram saber de ti, eu não sou esse tipo de pessoa. Eu sou o tipo de pessoa que nunca te vai deixar ficar mal, que nunca vai desistir de ti por nada, e o que quer que me estejas a ocultar neste momento não me vai fazer fugir, porque eu estou cansado disso, eu quero alguém com quem eu possa enfrentar as coisas, alguém que esteja por mim, como eu estou por ela. E eu quero-te a ti Sophie, ainda que tu penses que tudo o que eu te digo seja passageiro, que vai mudar. Eu digo-te aqui e agora que o meu coração é teu, e agora tu é que sabes o que queres fazer com ele. 

Ela olhava para mim com lágrimas não derramadas, o seu perto sempre forte em mim. Beijei-a cuidadosamente, querendo que ela percebesse que eu estava aqui para tudo. 

-Eu...vejo coisas - Falou ela a medo.

-Que tipo de coisas?

-Quando eu toco em alguém...eu vejo a vida deles, é como se eu estivesse dentro da cabeça deles -Abanou a cabeça com força, fazendo a sua cabeleira saltar.