Parei em frente à pequena casa, tudo me parecia igual desde a última vez que aqui estive. As ripas de madeira que mantinham a habitação de pé estavam mais gastas, e as janelas pareciam mais pequenas, ou estariam iguais? Já não sei dizer...Tinha chegado aqui à pouco tempo mas não demorei a lembrar-me do caminho, a aldeia em que eu tinha passado tantos anos da minha vida, a minha antiga alcateia, a alcateia dos meus pais melhor dizendo. Eu sabia que eles viriam por mim, que me viriam procurar, mas não estava preocupado com isso. Bati à porta após hesitar, à anos que não via estas pessoas, eram pessoas do meu passado, que me faziam lembrá-la, mas o meu filho estava aqui e eu tinha de ultrapassar isso por uns momentos. A porta abriu-se devagar e eu imediatamente reconheci a figura que se apresentou, a mãe da minha amada, elas eram tão parecidas em figura que me custou olhar para ela, o seu corpo era magro como o dela apesar de mais velho, os olhos da mesma cor, aquela cor que está sempre presente na minha vida...
-Viste mais tarde do que eu pensava, ele está lá em cima - Chegou-se para o lado para eu entrar.
O meu corpo estava paralisado, parecia que estava preso à porta da entrada, não sei se queria entrar nesta casa, tantas lembranças, esperava vê-la lá ao fundo a andar para mim, talvez se olhasse melhor ela estaria lá. Não foi até que ela me tocou na cara que eu reparei que estava a respirar fortemente, as minhas mãos apertadas contra as minhas coxas, ela olhava para mim com tristeza, como se soubesse o que eu estava a passar, ninguém sabia, ninguém sabia nem metade do que eu sentia.
-Isto é um mundo de homens, mas não significa nada sem uma mulher pois não? - Perguntou mais para ela do que para mim, julgava eu ao menos.
Pegou-me pelo braço e fez-me atravessar a porta, quando o fiz parecia que tinha ultrapassado algum tipo de meta, que tinha atingido algo que nem eu sabia o que era. Tudo parecia igual, tanto por dentro como por fora, a cozinha impecavelmente limpa, o chão encerado, o cheiro de canela no ar, sempre tudo tão familiar, mas era a isto que se resumia a minha vida. A lugares intocados, a paisagens absortas de sentimentos, como se eu ainda estivesse à espera dela, como se ela fosse voltar, como eu era estúpido. Ainda não queria acreditar que a solidão tinha tomado conta da minha vida, que um dia eu iria morrer sozinho, sem ninguém para me segurar a mão enquanto eu dava o meu último suspiro, tenho os meus filhos eu sei, mas eles iriam seguir com a vida deles, um dia terão filhos deles para se preocuparem, e eu ficarei aqui, como sempre fiz, a olhar para um passado que nunca mais voltará. Como eu era estúpido.
-Ele está lá em cima, o Milas ainda não chegou por isso estás a vontade - Demorei a perceber que se estava a referir ao seu companheiro, o homem com quem eu ia passear à anos atrás, como isso me parecia à uma eternidade.
Ela saiu deixando-me sozinho no meio da sala, olhei para os sofás castanhos, para os tapetes grossos, para os quadros, tudo estava igual, tudo estava parado. Esfreguei os olhos onde uma dor de cabeça se estava a formar, tomei coragem e subi as escadas. Não olhei para nada enquanto subia, não precisava estava tudo na minha memória, parei em frente à porta onde eu sabia que o Kyle estava, o seu cheiro estava espalhado pela casa toda, mas era mais persistente aqui, porque tinha de ser aqui? Bati à porta, esperando que o tempo que ele demorasse a responder desse para eu me recompor, sentia que estava a ficar maluco nesta casa, que estava a sufocar. Ele abriu a porta rápido demais para mim, e ele não parecia muito melhor que eu . As roupas que trazia vestidas estavam largas no seu corpo outrora grande, a sua pele pálida, o seu cabelo grande a barba por fazer, os olhos sem brilho. Senti pena do meu filho,e o meu instinto foi abraçá-lo,e foi isso que eu fiz. Segurei-o junto do meu coração, onde ele poderia ter sempre conforto, o que era o que eu sempre deveria ter feito. Ele afastou-se de mim e entrou no quarto, segui atrás dele para a grande cama e sentei-me, não olhei para nada, não queria, este era o quarto dela e eu não queria recordar, não estava aqui para isso, não agora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Sombra de Kora
WerewolfKora é uma loba que fugiu da alcateia com a sua família, obrigada a voltar pelo alfa, descobre que o seu futuro sempre tinha estado naquela aldeia. Rodeada por dois irmãos gémeos que fazem de tudo para a ter, Kora vai ter de lidar com a indecisão e...