Capítulo 7 (revisto)

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Kora


O sonho começou da forma habitual, comigo no meio de uma floresta e dois lobos de olhos electrizantes a rosnarem e a virem na minha direcção. Mas desta vez, algo tinha mudado, eu tinha a percepção do que acontecia à minha volta. Do interior da floresta ouviam-se rosnados e uivos, e algumas partes da vegetação ardiam, o fogo provocava nuvens de fumo e fazia com que a floresta tivesse um clima fantasmagórico. Atrás de mim ouviam-se vozes humanas, gritos estridentes, sons de armas a serem disparadas. Só nesse momento eu reparei, eu estava na guerra, na que tinha destruído o nosso território, e eu encontrava-me literalmente no meio das duas frentes. Os lobos continuavam a correr na minha direção, e assim que eu me preparei para o empato, nada aconteceu. Eles não vinham por mim como eu pensava, eles vinham pelos humanos que estavam atrás de mim, eles não vinham matar-me como eu sempre tinha pensado, mas sim ajudar-me.

O medo ainda me donimava e única coisa em que eu consegui pensar era que não me podia transformar, o meu corpo era demasiado pequeno as minhas pernas descordenadas, eu era uma adolescente, não podia, ainda não era a altura. Tentei levantar-me e correr mas não conseguia, olhei para o meu corpo e reparei que a minha roupa encontrava-se ensanguentada, e eu não sabia se o sangue era meu, o que me assustou bastante. Alguém chegou por trás das minhas costas e pegou em mim ao colo, era um humano mas não conseguia ver quem era mas sabia que era um homem devido ao seu corpo. Ele correu comigo para longe dos lobos que já estavam a lutar, para longe da minha matilha, não conseguia ver os que me tinham salvado, tive medo que algo lhes tivesse acontecido por minha causa. Tentei gritar mas a voz não saía, sentia-me estranha, como se tivesse sido drogada, mas eu não me lembrava de ele me ter dado alguma coisa. Levou-me para umas cabanas situadas, julgo eu, no outro lado da aldeia, longe da acção, e de toda a minha forma de salvação, estava com muito medo, tentava ver tudo o que me rodeava mas parecia que nada se cravava na minha mente. Uma vez dentro da cabana, posicionou-me numa mesa de ferro e amarrou-me, gelei pertante o contato com que fiz com a mesa, arrepios passaram na minha espinha tornando-me incapaz de mexer, apenas olhar e observar. A divisão estava cheia deles, as suas figuras desfocadas olhavam para mim como um animal no zoo, mas eles estavam inertes, assim pensava eu até que comecei a sentir dores por todo o meu corpo e quando olhei para baixo estavam a espetar agulhas nos meus braços. Um líquido espesso amarelo estava dentro das agulhas, e assim que passou para dentro do meu braço uma dor excruciante passou por mim, o meu corpo esticou-se, a minha cabeça bateu na maca de metal e cerrei os dentes lutando contra as amarras que me prendiam, a minha coluna não tocava mais na mesa. Não sei quanto tempo permaneci nesta posição agonizante, o meu coração ameaçava saltar fora do meu peito, a minha respiração estava acelerada demais, não conseguia falar apenas pequenos sons saiam da minha boca. Os humanos falavam à minha volta mas eu não entendia o que diziam, as suas vozes eram distantes e confusas, nenhum me dava atenção nem parecia preocupado com a minha situação. A dor fazia-me latejar as têmporas, um som agudo soava continuamente na minha cabeça, a luz que eles puseram em frente aos meus olhos era demasiado brilhante. Conseguia ouvir pequenos sons de máquinas ao longe, eles faziam algo no meu corpo, as suas cabeças estavam baixas e concentradas em algo que eu não conseguia ver. E mais uma vez neste indeterminável espaço de tempo uma dor agonizante cortou-me a respiração fazendo-me puxar as amarras e a última coisa que eu vi antes de desmaiar, foi o meu sangue a derramar-se no chão branco.

Acordei aos gritos, os olhos cerrados com medo de acordar no mesmo cenário, contorcia o corpo para lutar contra as amarras invisíveis, contra as pessoas que já não estavam lá. Queria fazer com que a dor desaparecesse, que a visão do meu sangue a cair no chão não me atormentasse mais. Alguém chamou o meu nome, parecia algo tão longe mas familiar que comecei a abrir os olhos lentamente, ainda com medo do que aconteceria. Vi um vulto ao principio, mas ele rapidamente se tornou alguém que eu conhecia, Jake...

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