A minha cabeça estava pesada. Levantá-la era doloroso demais, penoso até. Contentei-me por abrir os olhos, e mesmo isso demorou algum tempo, estavam bastante pesados. Quando finalmente o fiz, deparei-me apenas com uma parede cinzenta. Um cheiro deplorável inundava o sítio, um cheiro a mofo, como um baú que não era aberto à muito. Comecei a ter percepção do meu corpo. Estava deitada numa cama metálica, tapada apenas por um fino cobertor, trazia vestido uma bata cinzenta e nada mais. Sentei-me na cama, tendo de imediato uma enorme tontura, levo a mão á cabeça e sinto uma ferida aberta na temporã, ainda sangrava mas pouco, já estava a cicatrizar. Do meu ponto de vista já tinha uma vista mais ampla de onde estava.
O quarto era muito pequeno, como as celas da prisão. Uma pequena sanita encontrava-se atrás da cama e um espelho ao lado, com um lavatório por baixo. E mais nada. Sem janelas, sem luz. Aos pés da cama havia grades, agarrei-me a elas, para ver onde me encontrava. Havia um corredor de ambos os lados de celas, que pareciam iguais à minha. Não conseguia ver lá para dentro, também não havia luz. A única fonte de luminosidade encontrava-se a uns 10 metros de mim, de um candeeiro antigo, pendurado no alto teto por aros de ferro.
Queria falar, gritar, tentar que alguém me ouvisse, mas não queria chamar a atenção das pessoas erradas, para além de que não tinha a certeza se havia mais pessoas, para além de mim, ali presas. Tentei aguçar a minha audição, de modo a tentar ouvir alguma respiração, uma voz, algo que me indicasse que não estava sozinha. Ouvi uns choramingos. Pareciam de uma figura feminina, numa das celas à minha frente.
-Ola? Consegues ouvir-me? - falei baixinho, um mero sussurro. Se fosse uma loba não teria dificuldade em ouvir.
Não obtive resposta, decidi tentar outra vez.
-O meu nome é Kora, sabes onde estamos?
-Shhhh! Não faças barulho, eles podem ouvir-te. - não sei quem tinha respondido, perscrutei todas as celas na tentativa de descobrir, e fui ai que a vi. Era uma rapariga, não devia ter mais do que a minha idade. Estava de pé numas celas á minha frente. A vestimenta era igual á minha, mas o seu estado muito pior. A sua cara tinha ferimentos não sarados, cortes no lábio, contusões perto dos olhos e a cara inchada, o que sugeria que tinha sido bastante aleijada. Mas onde raio estava?
-Quem é que nos vai ouvir? Onde estamos? - talvez pudesse escapar de alguns forma, levar aquela rapariga comigo, e outras pessoas que também cá estivessem.
-Ele...ele é muito mau, odioso, não precisa de razões para nos maltratar. Ele odeia a nossa espécie. - A sua voz num mero sussurro, os seus olhos marejados de lágrimas. Recolheu-se para dentro da sua cela, terminado aí qualquer futura pergunta que tivesse.
Só poderia estar a falar daquele homem horrendo da clareia, o de olhos frios. Só de pensar nisso, um arrepio paralisou-me, devia ser ele que estava a comandar este sítio. Se for esse o caso, o melhor era matar-me já, não duvidava que mal tivesse oportunidade, ele iria atormentar-me bastante.
Sentei-me na cama a pensar nisto tudo. Não sei quanto tempo estive inconsciente, daí não poderia dizer a altura do dia que era, poderia ter passado dias pelo que sei. O Kyle e o Jake deveriam estar tão preocupados, por esta altura já deveriam ter virado a alcateia do avesso, posto toda a gente ao rubro, para me encontrar. Ou pelo menos é o que eu gostaria de pensar. Os meus sentimentos por eles eram um pouco confusos, não me queria enganar a mim própria, pensando que os filhos do alfa gostavam de mim, alias nem sequer sabia se era possível uma loba ter dois companheiros. Companheiros...era mesmo isso que eu queria que eles fossem para mim? Não me imaginava nesse papel, sempre pensei que iria ser uma loba selvagem, se é que tal existisse. Mas quando estou perto deles, o meu coração fica descompassado, batendo a mil á hora, ameaçando sair do meu peito. É-me impossível não lhes sorrir, não lhes tocar, não imaginar acordar todos os dias ao seu lado.
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A Sombra de Kora
Hombres LoboKora é uma loba que fugiu da alcateia com a sua família, obrigada a voltar pelo alfa, descobre que o seu futuro sempre tinha estado naquela aldeia. Rodeada por dois irmãos gémeos que fazem de tudo para a ter, Kora vai ter de lidar com a indecisão e...