Estava deitada na cama, já não tinha as máquinas ligadas a mim, o que era um alívio, o apito daquilo já se estava a tornar irritante. Nem o Jake nem o Kyle estavam aqui, tinham ido a casa buscar roupas para mim, para eu puder, finalmente ir para casa. A Jane tinha vindo esta manhã dizer que já não precisava de ficar mais aqui, mas que ainda tinha que ter alguns cuidados e que tinha de mudar regularmente os pensos, o que era um alívio, estava farta de estar aqui. Decida a não esperar deitada, levantei-me e sai do quarto.
A enfermaria era grande, corredores estendiam-se dos meus dois lados com portas de cada lado, deveriam ser quartos. A decoração era mais alegre, as paredes eram de um tom alaranjado que dava a sensação de calor, ornamentada com quadros de paisagens de mares e florestas, tornava o ambiente mais acolhedor, assim como as grandes janelas de madeira que deixavam entrar muita luz, e por onde se podia ver a floresta e algumas casas da aldeia. Á minha frente havia uma porta aberta por onde se podia ver uma sala com cadeiras azuis, que não pareciam muito confortáveis e uma televisão, devia ser uma sala de espera, andei até lá na tentativa de achar alguma coisa para comer. E achei mesmo uma máquina automática, bingo. Tentei escolher entre os imensos chocolates que ali haviam, mas não me conseguindo decidir acabei por levar todos, precisava de calorias, certo? Ataquei os chocolates enquanto ia passeando pelo corredor, ouviam-se vozes em alguns quartos, enfermeiras davam instruções a pacientes e até se ouviam alguns risos, dei uma gargalhada quando ouvi um homem a mandar um piropo a uma delas. Os chocolates estavam a saber-me mesmo bem, ia dar um trinca no meu Mars quando ouvi um choro, vinha de um dos quartos há minha direita. Cheguei mais perto na tentativa de perceber de onde vinha, era um dos quartos com a porta entreaberta. Espreitei e vi um quarto idêntico ao meu, mas com uma disposição diferente, na cama estava uma rapariga deitada de costas para mim, vestia uma bata igual há minha, o seu corpo abanava com a força dos seus soluços, abraçava-se a ela própria, os seus cabelos castanhos que lhe davam pelas costas estavam espalhados pela cama. Era a mulher humana que já tinha ouvido falar, o seu cheiro era diferente do dos lobos. Abri a porta e entrei, não estava aqui ninguém, entrei devagar, não querendo assusta-la e fechei a porta atrás de mim, dei a volta à cama de modo a puder ver a cara dela. Tinha os olhos fechados, o corpo encolhido e a cara retorcida numa careta, estava a sofrer.
-Olá – falei-lhe suavemente.
O corpo dela esticou-se, olhou para mim quase de imediato com os seus olhos verdes e abriu a boca como se quisesse gritar, tentei acalmá-la para que ela não o fizesse.
-Sou a Kora, estou num dos quartos ao fundo do corredor, só queria saber se estavas bem, ouvi-te a chorar. – Continuava a olhar para mim mas não respondeu. Tinha-a assustado de certeza, os lobos podiam ser intimidantes.
-Sou a Sophie. – Falou com a voz tão incerta que não sabia se ela tinha a certeza do que estava a dizer.
-Importas que me sente Sophie? – Como ela não respondeu, limitei-me a sentar na cadeira que estava ao lado da cama, era confortável.
Olhando para ela mais atentamente reparei que tinha a cara magra, os lábios eram cheios e bem delineados, mas o que mais me chamou a atenção foi o facto de ter marcas na cara, um dos seus olhos não estava totalmente aberto, e as suas mãos estavam enfaixadas, tinha sido bastante maltratada ao que parece, devia estar traumatizada com o que tinha acontecido.
-Sei o que estás a passar, eu também estava lá, aquele homem era horrível, mas ele está morto, e tu estás em segurança aqui. – Sentia simpatia por ela, parecia bastante fragilizada.
-Eu sei… - a sua voz era apenas um sussurro, estava pensativa.
-Posso-te ajudar em alguma coisa? Nem que seja apenas para falar.
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A Sombra de Kora
Hombres LoboKora é uma loba que fugiu da alcateia com a sua família, obrigada a voltar pelo alfa, descobre que o seu futuro sempre tinha estado naquela aldeia. Rodeada por dois irmãos gémeos que fazem de tudo para a ter, Kora vai ter de lidar com a indecisão e...