A Sombra de Kora

Capítulo 31

 Estava a caminho da clínica com o Jake, ele ainda continuava com as tentativas para me fazer mudar de ideias, mas eu não ia desistir independentemente da sua insistência, isto era algo importante para mim, apesar de tudo ele não vinha para ficar, apenas me queria acompanhar aqui. A presença dele fazia-me bem e dava-me segurança. A noite tinha sido difícil, os meus sonhos persistentes não me tinham deixado dormir, nem muito menos comer esta manhã, era difícil fazer alguma coisa ficar no meu estômago com tudo isto, lágrimas estavam sempre encravadas na minha garganta, mas eu recusava-me a chorar, pelo menos não em frente a outros membros da alcateia, só com o Jake, e apenas com ele. Assim que chegámos à porta da clínica, virei-me para ele, a sua cara demonstrava que ele também não tinha dormido nada, os seus olhos estavam fundos e a sua expressão cansada, suspirei.

-Tens a certeza que não queres ficar? 

-Não pequena, tenho assuntos urgentes a tratar com o meu pai, mas eu volto assim que tiver acabado - O seu tom era baixo mas sério.

Deu-me um beijo rápido na bochecha e virou-se apressado, sabia pelos passos urgentes dele de que assunto se tratava mas não quis abrir o jogo, não valia a pena estar sempre a tocar na ferida, só esperava que o que quer que fosse desse resultado, e que o Kyle voltasse para casa, esperava que Darren pudesse ajudar, esperava mesmo. Esfreguei o peito, onde a dor sempre persistia em estar, um formigueiro que estava sempre presente no meu corpo, era algo impossível de ignorar como uma dor de cabeça que nunca parava.

Entrei na clínica, sendo imediatamente recebida por um abraço caloroso da Jane, que já devia estar do outro lado da porta à minha espera, esta mulher tinha timing. Deixei-me ficar nos seus braços por um momento, era bom ter alguém que nos reconfortasse nos maus momentos, e ela parecia sempre saber o que eu precisava, a mulher era maravilhosa, queria estar aqui para assistir quando ela encontrasse o seu companheiro, homem de sorte ele iria ser. Afastei-me dela e constatei que ela estava sorridente como sempre, a felicidade estava sempre estampada na cara dela, o que seria contagiante se o momento não fosse tão inoportuno. Deu-me o braço e levou-me até onde tínhamos estado a ultima vez, onde estavam todas aquelas pessoas, e ai virou-se para mim.

-Queres mesmo fazer isto? - Estava preocupada - Não digo isto para contrariar o que queres fazer, só que seria normal se neste momento não tivesses disposição para este tipo de coisas, são pessoas que requerem muita atenção, a qual tu podes não puder oferecer agora - Tinha as mãos nos meus ombros  e pressionava-os com gentileza.

Acenei com a cabeça - Eu quero, estas pessoas merecem o meu apoio, e não têm culpa dos meus problemas, eu sou a alfa e tenho de ajudá-los. - Para além de que tudo isto iria-me distrair dos meus pensamentos.

-Muito bem, longe de mim contrariar a alfa, ainda tenho de ir descobrir o castigo para isso - Riu-se para mim, querendo aliviar a tensão - Vamos lá então.

Abriu a porta e seguiu em frente, o ambiente ainda estava como da última vez, tudo esterilizado, camas ocupadas por todo o lado, pessoas de todos os tamanhos e feitios, idades e etnias estavam aqui. Tinha de ajudá-los. Segui Jane enquanto andava apressadamente para as camas mais afastadas do cómodo, deveria querer começar pelo fim o que era mais lógico. Parou perto de uma cama, onde um menino estava deitado, o seu corpo era pequeno e estava encolhido como se ele quisesse ficar invisível. Tinha os olhos fechados, não sabia se ele estava a dormir ou só a fingir, máquinas soavam à volta dele, trabalhando o seu pequeno corpo e tentado curando os seus hematomas, ou pelo menos era o que eu esperava. A sua respiração era suave e continuou assim até que Jane falou com ele suavemente. O menino sobressaltou-se e encolheu-se na cama com o som da voz dela, mas quando viu quem era pareceu descontrair-se um pouco.

-Mark, esta é a Kora, ela é a alfa desta alcateia - O menino olhou para mim de soslaio - Ela veio para ajudar.

O menino não disse nada, limitando-se a mover os seus olhos castanhos entre mim e Jane, ela deu-lhe festas no cabelo castanho ralo para acalmá-lo e pareceu resultar, ela já devia ter ganho a confiança do menino que parecia à vontade com os seus gestos.