Estava numa sala iluminada, era tudo tão branco que me fazia arder os olhos. Pânico apoderou-se de mim, gritei a plenos pulmões por ajuda, por alguém que me ajudasse, mas a única voz audível era a minha. Quando isso não resultou corri, não sei em que direcção nem para onde me dirigia mas não me importei. Corri durante o que me pareceu muito tempo, mas não me era possível dizê-lo com certeza, nada se movia, não havia sequer uma brisa no ar, nem um perfume, nenhuma voz nenhum som. Mil e uma questões levantaram-se na minha mente, mas foram rapidamente interrompidas quando ouvi uma voz.
-Kora - A voz era suave, feminina, apenas um sussurro no meio de tanta quietude.
Olhei para todos os lados mas não encontrei a origem dela, nenhuma figura era visível, mas a voz continuava a falar comigo.
-Não tenhas medo, eu não te quero magoar - A sua voz era como um bálsamo profundo, um timbre suave que me fazia acreditar nas suas palavras.
-Quem és tu? - A minha voz soou mais fraca do que eu pretendia, sê forte pensei para mim mesma.
A resposta não veio de imediato, o tempo passou e eu pensei que estava novamente sozinha, voltei a olhar para todos os lados talvez encontrasse uma saída daqui para fora. O suor brotava da minha testa, empapando as minhas roupas, grudando-as ao meu corpo mas eu não me importei, limitei-me a andar novamente.
-Kora - A voz chamou-me novamente.
Parei e olhei para trás, e o que eu vi fez-me gritar e cair no chão, uma mulher estava à minha frente, uma mulher linda. A túnica branca que lhe chegava atá aos pés ficava um pouco lassa no seu corpo, mas isso não tirava a sua graciosidade, os seus cabelos pretos chegavam um pouco abaixo dos seus ombros, mas o que mais me fez suspirar foram os seus olhos, aquela cor do mais limpo dos céus que eu conhecia tão bem, o azul electrizante. Ela estendeu os seus braços finos na minha direcção, acção que eu não entendi até que notei que ainda estava sentada no chão, olhando fixamente para ela. Olhei para aquela pele da cor da neve, e clareando a minha mente, aceitei a sua ajuda, a sua figura frágil não demonstraria a força que ela tinha, uma vez que me levantou sem sequer alterar a sua respiração, ela claramente era sobrenatural. Amiga ou inimiga? Vendo as coisas em perspectiva, ela ainda não tinha feito pretensões de me atacar, mas talvez tivesse à espera de algo, ou de alguém, tais pensamentos puseram-me em alerta, não podia baixar a minha guarda na sua presença. Mantive-me a uma certa distância dela, não querendo pô-la em alerta, tinha de ser discreta, não queria que ela se apercebesse da minha estranha atitude.
-Quem és tu? - A saliva ficando presa na minha garganta dificultando a minha fala.
-Eu pensei que me irias reconhecer, mas isso também não é tão inesperado - A sua expressão corporal nunca se alterou apesar de as suas feições demonstrarem uma certa tristeza - Eu sou a pessoa que te vai ajudar.
-Porquê eu iria querer a ajuda de alguém que nem sequer me diz o nome dela? E ajuda no quê? - Olhei para ela confusa, não entendendo nada da conversa, o pânico apoderando-se de mim novamente, mas respirei fundo tentando afastar os meus medos de mim.
A pequena mulher sorriu para mim, e foi a coisa mais bonita que eu já vi, os seus dentes brancos perfeitamente alinhados adornavam a sua cara redonda e pálida, o seu nariz arrebitado como se tivesse a gostar da provocação.
-Agora eu entendo o que eles gostam em ti...uma mulher com personalidade supera tudo - Ela deu-me as costas não me dando tempo para lhe responder.
Eu segui-a pelo simples facto de que ela se referia ao Kyle e ao Jake, ela sabia quem eles eram evidentemente isso não era possível negar, mas como isso era possível? Não sei para onde me levava, mas limitei-me a perseguir a pequena túnica branca pelo meio do infinito, ela andava decidida como se soubesse exactamente para onde ia, para mim era tudo igual, nem consegui distinguir o fim do chão e o começo das paredes, mas nunca abrandei o passo. Ela parou em frente a uma parede que me parecia igual a todas as outras, mas ela estudou-a como se houvesse algo de diferente nela, e abriu uma porta que se abriu silenciosamente. Inclinou o corpo a um lado para que eu entrasse primeiro, mas eu limitei-me a olhar para ela, não pensava seriamente que eu fosse entrar numa sala desconhecida primeiro que ela. Ela entendeu a minha reticência e sorriu para mim como se compreendesse, com um pequeno aceno de cabeça ela entrou na sala, e eu entrei logo depois dela. Não reconheci a divisão onde estávamos, mas parecia fazer parte de uma casa, o quarto com a grande cama escura, tinha inúmeras fotografias nas paredes, e todas desta mulher que se encontrava ao meu lado, uma delas chamou-me a atenção, Darren estava lá, e o seu sorriso brilhante nunca deixava de me surpreender de tão raros que eles eram, mas naquela fotografia ele estava radiante, até se pode dizer feliz, talvez fosse pela mulher que ele segurava contra o seu peito, a mulher dele que estava aqui ao meu lado. Ela olhava o grande cómodo com tristeza no seu olhar, como se recordasse as vezes que tinha estado ali, chegou a pegar numa fotografia onde mostrava a família toda, mas nunca proferiu uma palavra, perdida nos seus próprios pensamentos suponho eu.
-Eu estou morta? -Perguntei-lhe receosa, nenhuma outra explicação me parecia plausível neste momento, eu estava aqui, onde quer que isto fosse com a mãe dos meus companheiros, que estava morta.
Ela não olhou para mim, limitando-se a olhar em torno do quarto - Não - Respondeu-me suavemente.
E foi isto, uma simples negativa, nenhuma explicação nenhum esclarecimento, quis gritar com ela por tal crueldade, mas forcei a minha voz a manter-se calma de nada adiantava irritar a mulher.
-Então onde estou? Se eu não morri, tem de haver uma explicação.
-E há, tu estás a sonhar.
-A sonhar? Bem é melhor do que estar morta suponho. Mas deixe-me dizer que já tive melhores sonhos do que este - As palavras saíram-me sem pensar, não queria de alguma maneira ofende-la nem soar rude, afinal era minha sogra. Sogra? Ainda soa mal aos meus ouvidos.
Ela sorriu para mim, um sorriso sincero e sentou-se na cama olhando tristemente para o chão. Nesse momento apeteceu-me correr para a consolar, a expressão no olhar dela fazia-me acreditar que trazia as dores do mundo dentro dela, e era algo tão triste de se ver. Aquela mulher linda tinha o coração partido e isso era visível a qualquer um que a visse.
-Deixá-los foi a coisa mais difícil que eu já fiz...a dor insuportável que senti no peito quando os abandonei é indescritível, mas eu não tive escolha, eles tinham de continuar sem mim. Mas eu tentei... - Fez uma pausa como se recuperasse a voz - ...eu tentei falar com eles, fazer com que eles me ouvissem, mas nada resultava, eu vi-os crescer e tornarem-se nos homens que são hoje. E eu estou orgulhosa do que eles se tornaram - Sorriu olhando para mim, pequenas lágrimas desciam pelo seu pálido rosto, tornado os seus olhos baços - Eu tinha a pequena impressão que eles teriam a mesma companheira um dia, mesmo em pequenos eles partilhavam tudo, às vezes a vida leva tudo à letra.
-Mas porque estás aqui agora? Nos meus sonhos? Não é que eu me esteja a queixar, eu estou só curiosa, como é que isto é possível visto que tu estás...
-Eu não sei...por muito tempo eu tenho tentado comunicar com alguém mas contigo foi ao contrário, tu atraíste-me até aqui, como um chamado, e por isso eu vim - Ela abanou a mão na minha direcção - E não me perguntes como porque eu não sei.
Teria sido a Sophie a desencadear tudo isto? Afinal o nosso ultimo encontro não tinha sido muito bom, e algo tinha acontecido em mim, algo que eu não sabia explicar. Fiz uma nota mental para me lembrar de falar com ela mais tarde, tinha de obter respostas, e acreditava que só ela mas podia dar.
-...e é por isso que tu tens de me ajudar - Ela pediu. Ela tinha continuado a falar e eu não tinha ouvido nada.
-Desculpa, o quê?
Ela levantou-se e começou a andar de um lado para o outro, as mãos entrelaçadas no seu peito - Algo horrível foi feito comigo no passado, eu era jovem e estava com demasiado medo para falar com alguém, até mesmo com o Darren, mas eu não vou cometer o mesmo erro novamente, eles precisam de ser protegidos, e é por isso que eu preciso da tua ajuda.
Olhei para ela confusa, tentando encaixar as peças do puzzle na minha cabeça, mas nada batia certo, parecia que me estavam a faltar bocados - Ajudá-la como?
Ela parou à minha frente, os braços baixos ao lado do seu corpo, os seus olhos determinados - Eu preciso que tu digas ao Darren que eu o amo mais do que tudo, mas ele precisa de passar por cima da sua dor para ver o que está a acontecer ao seu redor, ele precisa de ver, ele precisa de saber!
-De saber o que?
-Que eu tenho uma filha, e que a culpa é toda do pai dele, ele precisa de a proteger, encontra-a Kora!
Acordei com um grito que sacudiu a cama toda, o meu corpo ainda estava encharcado em suor, a roupa colada. Não sabia o que pensar de tudo o que aconteceu, mas eu agora estava sozinha, ela já não estava aqui. O que é que eu faço?
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A Sombra de Kora
Про оборотнейKora é uma loba que fugiu da alcateia com a sua família, obrigada a voltar pelo alfa, descobre que o seu futuro sempre tinha estado naquela aldeia. Rodeada por dois irmãos gémeos que fazem de tudo para a ter, Kora vai ter de lidar com a indecisão e...