Capítulo 2 (Revisto)

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                                                                                    Kora



O tempo passa demasiado devagar quando o assunto é sério, os últimos momentos na casa onde passei oito anos da minha vida foram uns dos mais penosos que eu já vivi até hoje. A Susie sempre tinha vivido nesta casa e faze-la ver que isto era algo necessário foi uma tarefa difícil que levou horas para ela entender, ela não queria ir mesmo depois disso. Eu não poderia estar mais de acordo com ela, mas eu sabia que não tinhamos outra escolha, se não fossemos de livre vontade, o alfa com certeza não nos viria buscar em pessoa, mas isso não o pior dos casos, o pior era se o chateassemos mais do que ele provavelmente já estava, aí era como se estivessemos mortos, e não era uma opção.

      Não sei quanto tempo demorou a viagem até à nossa antiga aldeia, não conseguia tomar atenção ao caminho, mas eu sabia-o quase de cor, os meus pensamentos insistiam em rebelar-se enquanto eramos embalados pelo andar do carro. Clã Dark Moon, não sabia exatamente quantas pessoas faziam parte dele, era sempre impossivel conhecer toda a gente mas diria que pelo menos uma centena de pessoas faziam parte desta pequena comunidade. Tudo ficava situado no meio da floresta, onde nos sentimos melhor ficava tudo em sintonia com a natureza, afinal até nós faziamos parte dela. As casas eram feitas de madeira, com bastantes janelas para se aproveitar a luz solar, os caminhos eram de terra batida, tudo muito anticuado. Aqui todos respeitavam as tradições porque isso era fundamental para pessoas como nós, não éramos nada sem a pequena parte que nos lembrava que ainda eramos humanos acima de tudo, ainda que houvesse pessoas que gostavam de esquecer isso.

— Estamos a chegar? — Susie perguntou ansiosa.

— Está quase pequena — assegurei-lhe.

Ela passou o resto da viagem a fazer-me perguntas, algumas das quais eu não queria responder. Parecia entusiamada por irmos para um sítio diferente, e eu achava que seria bom para ela, teria mais liberdade para fazer outras coisas, poderia estar com outras crianças, com outras pessoas e era apenas por isso que eu estava feliz. Para mim já era um pouco diferente, eu não podia dizer que não estava ansiosa por voltar mas eu sabia demasiado para não estar preocupada. Teria mais liberdade aqui, na cidade os meus pais raramente nos deixavam sair com medo de sermos descobertos. Isso inlfuenciou a nossa vida, não tinhamos amigos nem ninguém para conversar, era tudo entre nós e isso era frustrante. Eu estava desejosa para poder falar com outras pessoas, por sair e não ter de me preocupar com nada, apenas aproveitar, e eu esperava que isso fosse possível novamente, que pudessemos ser uma família aqui como uma vez fomos, apesar das circunstâncias da nossa vinda, podia ser que algo de bom viesse disto.

Ficámos na nossa antiga casa, aparentemente ninguém tinha ido para lá depois de nós sairmos, foi um pouco estranho entrar na casa que morámos em tempos, era como retroceder no tempo. Era visível que algumas partes tinham sido arranjadas, mas no entanto a estrutura continuava a mesma, assim como a mobília, ninguém tinha tocado em nada. O meu antigo quarto estava vazio, estava tudo despido de qualquer decoração, assim como eu o tinha deixado, nunca pensei que fosse voltar aqui e por isso tinha levado tudo, parece que estava enganada. Não me importei muito em deixar as coisas apresentáveis ou totalmente ao meu gosto, também a únicas coisas que tinha trazido eram as minhas roupas. Não sabia quando teriamos de ir perante o alfa por isso decidi sair mas levaria a Susie comigo, far-lhe-ia bem sair um pouco e ficar a conhecer outras pessoas, para além dos sítios. Entrei no quarto dela e encontrei-a à janela, nunca me cansaria de a observar, ela tinha uma beleza única apesar de ela me dizer que eu também a tinha. A única diferença física entre nós é que ela tinha os olhos verde-esmeralda e os meus eram cinzentos, quase brancos. De resto, o cabelo loiro ondulado, as sardas e o corpo esbelto era igual. Sempre pensei que o companheiro dela iria ter muita sorte em tê-la, sempre foi doce e simpática com todos, não vê maldade em nada, e essa é a derradeira diferença entre nós. Eu sou a tempestade na noite e ela o sol que alegra o dia, ela a inocência e eu o pecado.

A Sombra de KoraOnde histórias criam vida. Descubra agora