"Algo precisa ser dito enquanto me despeço..."
Capítulo 50
Thomas
Ela sentou-se ao meu lado do canto da cama e segurou o balde de pipoca no colo, encarou a televisão prestando a atenção no filme de animação que coloquei para ela. Eu fiquei em silêncio enquanto observava ela sorrir com as falas das personagens. Eu nunca tinha assistido aquele filme, mas de certa forma era um pouco divertido: "meu malvado favorito".
-Não sente sono? - Perguntei ao vê-la bocejar. - Parece cansada...
Ela terminou de comer as pipocas e colocou o balde em cima da cômoda: - O pouco que dormi, tive pesadelos. Confesso que estou com um pouco de medo... Eu sei que parece infantil demais, mas...
-Ei, vai ficar tudo bem. - Ela abraçou o meu braço e deitou sobre o meu ombro: - Se somos amigos não tem problema eu te abraçar, não é?
-É você quem está dizendo... - Eu abri um sorriso: - Mas, se quiser, posso ficar aqui enquanto você dorme...
Eu quero que você desligue a luz...
-Seu desejo é uma ordem, senhorita. - Levantei da cama e desliguei a luz. Alguns minutos depois ela dormiu, encostada no meu ombro.
Eu desliguei a televisão, coloquei um travesseiro para ela e cobri o seu corpo. Encostei a porta e sentei na sala com um computador.
Eu abri meu email e digitei uma mensagem para uma velha amiga:
"Jéssica, eu estou na casa do campo. Preciso de você... Se puder me traga roupas dos tamanhos das suas, é para uma amiga... Eu sei que fazem alguns meses desde a última vez que nos falamos... Notei que a casa está bem cuidada: as geladeiras cheias, as roupas limpas e aquele mesmo ambiente acolhedor de sempre. Você têm feito um bom trabalho. Obrigado."
Eu não estava pronto para ter retornado aquela casa. Tudo estava sendo muito difícil para mim. Por um momento fechei os olhos e senti os braços envolverem-me pelo pescoço em um delicioso abraço. Os cabelos loiros caíam sobre meu ombro e eu a escutei sorrir... Jussara. Abri os olhos e me deparei com a realidade de não vê-la ali. Por mais que tanto tempo tenha passado, eu ainda tinha um conflito interno preso àquela situação. E porque era tão difícil assim?
Escutei um barulho no quarto e corri até lá... A Chloe estava se debatendo na cama. Eu a segurei em meus braços tentando acalmá-la. Ela estava tendo pesados...
- Chloe, vai ficar tudo bem... - Sussurrei enquanto tentava acordá-la. Aquela situação era desesperadora...
Ela abriu os olhos e abraçou-me com força. Estava em lágrimas, desesperada. Segurei em seus cabelos: - Eu estou aqui, fique calma...
Ela se acolheu em meus braços... Fechou os olhos e ficou ali por alguns minutos, então escutei a sua voz: - Você prometeu... Mas, mesmo assim eu sinto que está mentindo pra mim e tem alguma coisa, que não faz sentido.
-Eu não estou mentindo para você princesa- Afirmei se encará-la.
-Eu gostaria de entender... Aquela mulher, disse coisas sobre o Erick, disse que queria se vingar. Não havia policiais, e agora eu estou aqui com você, sem entender o que foi que aconteceu. Sem conseguir dormir direito. Estou surtando.
Eu fiquei de frente para ela, segurei suas mãos pequenas: - Sim, Chloe, você tem razão... Aquela mulher fez o que fez por vingança de algo que eu não tenho como lhe explicar, justamente porque eu não sei o que foi. Mas, entenda que existem pessoas ruins espalhadas por aí que fazem coisas que não entendemos. A família Walker conhece muitas pessoas... E eu estou com você aqui, porque quebrei todas as regras para estar aqui agora.
-Parece que vocês vivem quebrando regras.
-Porque somos assim, quebramos as regras... Não somos pessoas corretas e é uma das razões pelas quais eu lhe queria longe.
-Ainda me quer longe? - Ela me olhou novamente com aquele olhar doce.
-Eu a quero por perto, onde eu possa cuidar de ti. Mas, se em algum momento quiser ir embora e recomeçar a sua vida... Eu jamais a impediria de ir. Porque tudo o que eu não quero nessa vida é te ver em perigo. Eu não quero cometer uma loucura sujando as minhas mãos de sangue para te salvar.
-Está vendo? Escute o que está dizendo... Isso não é coisa de alguém que não sabe de nada. Isso nem é coisa de pessoas normais falarem. Sujar as mãos de sangue? Para que iria precisar disso! - Ela alterou a voz: - Desde o início você age como se tivesse um grande mistério por trás disso. Sua família age como se tudo fosse um grande segredo. Caramba! - Ela colocou as mãos na cabeça: - Eu nem sequer consigo entender que droga está acontecendo na minha própria vida.
-Eu não sou uma boa pessoa, senhorita. Nenhum de nós veste a camisa do bom moço.
-Nunca esperei coisas boas de você Thomas. Nunca pedi para ser um anjo. Eu sempre te pedi a verdade. Mas, você me nega isso. Sempre fala que sou sua amiga.. Que quer o meu bem. Mas, como?
- Não foi pelo dinheiro. Foi alguém querendo se vingar do Erick. Descontaram o erro que ele cometeu no passado em você, mas isso você já sabe.
-Por que você está aqui agora, e não o Erick? Essa é outra pecinha que não se enquadra no quebra cabeça... - Ela gritou novamente, estava surtando.
- Por que eu gosto de limpar a bagunça do meu irmão.
-Então é isso que me considera: uma bagunça?
- Não me entenda mal. Você é a única coisa boa que existe dentro daquela casa. Foi por isso que lhe pedi inúmeras vezes para ir para bem longe.
-E se hoje eu quisesse acabar com tudo... Eu ainda sim não teria escolha. Nem para onde ir.
-Eu a ajudaria. - Ela abriu um sorriso. Parecia mais calma com o que eu havia acabado de dizer.
-Ficaria contra o Erick?
-Eu ficaria do seu lado. Não importa muito o que isso significasse... - Respondi.
-Porque?
-Não tente me colocar contra a parede, você tem todas as respostas das quais precisa. Só durma, amanhã eu te levo de volta.
-Eu não vou conseguir dormir.
-Eu vou ficar te olhando e cuidando de ti. Não tem perigo nenhum... Só saiba que eu gosto muito de ti.
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Aliança Perigosa
RomanceAliança Perigosa "A Noiva do Meu Irmão" Em seus devaneios mais românticos, jamais imaginara que o destino reservaria uma trama tão intrincada. Um amor inocente, tão puro quanto a aurora, agora se desdobra em uma teia de perigos imprevistos. Um noiva...