Capítulo 32: Histórias manchadas

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Eu tinha plena consciência de que cada escolha traria consigo um ônus, uma penitência a ser paga no altar da vida. No entanto, mesmo diante da iminente tempestade que se avizinhava, eu permanecia firme em minha decisão, pois sabia que o custo da inação seria ainda mais elevado. Então, com o coração pesaroso, mas determinado, avancei pelos caminhos incertos do destino, pronto para enfrentar as consequências de minhas próprias escolhas.

Stela:

Por mais que o mundo seja movido por discursos motivacionais e frases poéticas, eu e você sabemos que a realidade é bem diferente do romantismo empregado pelas pessoas. Existem aqueles que podem ter tudo, existem aqueles que acreditam que podem ter tudo e existem aqueles que nunca tiveram o direito de sonhar, pois sempre foram assombrados pela realidade. E é bem difícil de acreditar que as coisas vão melhorar quando se sabe a quantidade de boleto que tem para pagar todos os meses.

Eu sou filha de uma mulher que batalhou para criar os dois filhos e que como consequência de um trágico acidente acabou ficando paralítica. Eu comecei a trabalhar aos doze anos porque precisava ajudar meu irmão a comprar comida para dentro de casa. E uma menina que começa a se prostituir aos doze anos de idade acaba descobrindo muitas coisas sobre o mundo das quais não gostaria de saber. Você se assustaria se soubesse a quantidade de pedófilos existente no mundo e o quão perversos podem ser.

Eu conheci o Erick através do meu irmão, ele precisava de pessoas que estivessem dispostas a fazer qualquer coisa por dinheiro. E o meu irmão, estava disposto a qualquer coisa, sem restrições. Ele não me viu apenas como uma prostituta, mas como uma oportunidade de ganhar mais dinheiro. Minha rede de contatos era tudo o que ele precisava para vender o novo produto que tinha em mãos.

Mas, para mascarar qualquer relação que tinha com o submundo universo das drogas e do ambiente a qual frequentava ele se tornou meu cliente e me usava como a desculpa perfeita para estar nos mesmos ambientes que eu. Isso naturalmente não deu certo, algumas semanas depois estávamos andando de mãos dadas e materializando um relacionamento.

Quando não estávamos na cama, passamos as horas comentando as possibilidades de ganhar mais dinheiro. Era prazeroso. Ele era o fabricante, meu irmão o distribuidor, eu o disfarce. Pela primeira vez na vida eu me sentia de certa forma realizada e estar dividindo a mesma cama que ele não era o suficiente, eu acabei me apaixonando. Eu sempre soube lidar com os meus sentimentos e sempre tive conciência do que eu podia ou não ter. Mas, me apaixonar por ele me tornou vulnerável e quando ele se deu conta dos meus sentimentos, me fez acreditar que existia reciprocidade.

Eu estava envolvida em seus braços, ele mexia calorosamente no meu cabelo e sorria. Lembro de como amava olhar para ele e ver aquele sorriso.

-Como foi o seu dia? - Perguntei. Ele parecia mais preocupado do que o normal.

-Não foi um dia muito agradável. Meu pai deixou todos os negócios na mão do meu irmão. E tenho quase certeza que ele pretende me deixar sem nada. É por isso que eu faço isso aqui, sabe? Preciso ter uma garantia para o futuro.

-Entendo. - Eu pelo menos tentava entender.

-Não quero me tornar político. Nem quero criar uma rivalidade pela liderança de uma empresa que não me interessa. Essa é a uma das melhores opções que tenho.

-Eu me preocupo com você, Erick... As pessoas aqui estão acostumadas a fazerem esse tipo de coisa. Mas, você... Está roubando armas que o seu pai tem comercializado legalmente no país para favorecer o comércio ilegal e eu nem quero saber de onde você tem conseguido essa droga.

Ele sorriu: - Você se preocupa demais, Stela. Se tudo der certo estarei exportando armas para a América Latina e vamos ter mais dinheiro do que o meu pai conseguiu a vida toda.

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