"Dentro das muralhas deste castelo, ocultam-se os ossos daqueles que sacrificaram suas vidas para erguê-lo. Enquanto seu senhor reina sobre o trono, envolto em luxuosos trajes e ornado com sua coroa, o povo sofre sob o peso de seu domínio. Ele clama por méritos, erguendo-se como o arquiteto dessa grandiosidade, enquanto os gemidos daqueles que tombaram ecoam além dos muros."
Erick:
Desde pequeno, carrego comigo uma vergonha profunda pelas escolhas que fiz. É uma sensação que me consome, um peso que não consigo aliviar. Sempre senti que falhei, não apenas comigo mesmo, mas também com aqueles ao meu redor. Essa mágoa é especialmente direcionada à minha mãe, uma mulher que sempre controlou tudo à sua volta.
Meu pai nunca se preocupou verdadeiramente com a família. Ele estava obcecado com a ideia de se tornar um político de renome, um objetivo que consumiu sua vida inteira. Desde criança, seus casos extraconjugais nunca foram um segredo para nós.
A vergonha e a mágoa são minhas companheiras constantes, e a cada dia luto para encontrar um caminho para a redenção. Olho a Chloe dormindo ao meu lado, seus cabelos esvoaçados cobrem os travesseiros brancos e eu passo a mão carinhosamente pelo seu rosto delicado... Tudo o que mais desejo é me casar com ela e tirá-la do emaranhado que infelizmente a coloquei.
A culpa me consome todos os dias. Estou apaixonado por ela de uma forma que nunca senti antes, e essa paixão é ao mesmo tempo a minha maior alegria e a minha mais profunda dor. Cada momento que passo ao seu lado é tingido por um sentimento avassalador de culpa. Quando ela sorri para mim, sinto um nó na garganta. Queria poder contar a ela a verdade, mas sei que isso significa perdê-la para sempre. Porém, ao olhar para o futuro, consigo enxergar grandes oportunidades para me redimir e dar a ela a vida que ela merece.
Passado:
– Você sabe muito bem que seu pai vai deixar todo o império que pertence a ele para o Thomas e para a Kate, e você ficará em uma óbvia desvantagem. E a culpa é toda sua. O Thomas sempre se importou com os negócios, diferente de você que nunca se envolveu. E seu pai não vai deixar isso barato. Você vai ficar absolutamente sem nada. Esse é o teu futuro – disse minha mãe há sete meses, e eu ainda não havia esquecido. Ela andava de um lado para o outro, estava nervosa. A feição amarga denunciava a tristeza em seu rosto e eu sabia que ela precisava desabafar. Meu pai havia cometido uma série de escolhas que a machucavam intencionalmente, mas ter se envolvido em um caso de traição com uma das empregadas dentro da mansão havia sido demais para ela. Principalmente depois dele ter tirado dela a grande chance de ser feliz em um outro relacionamento, mandando assassinar o homem que ela tanto amava.
– O que espera que eu faça? – perguntei, bebendo um gole de uísque, esperando ouvir mais algum de seus devaneios. – Você sabe perfeitamente, mamãe, que eu não nasci para o mundo dos negócios. – Por mais que eu odiasse dizer isso, era verdade... Eu era bom lidando com a burocracia e papelada de escritório, mas de longe seria o melhor para coordenar os esquemas fraudulentos que meu pai chamava de empresa.
Ela sentou-se no sofá e continuou a mexer as pernas ansiosas.
– Eu preciso me vingar daquele desgraçado! – ela gritou, colocando um pouco mais de ímpeto em sua voz, e por um minuto quase acreditei que dessa vez ela tomaria alguma atitude.
– Por que não pede o divórcio? – fiz a sugestão. Desde que eu era adolescente, observava o mesmo ciclo de traição se repetindo, quase como se a infidelidade fosse parte natural de um casamento.
– Acha mesmo que seu pai arriscaria perder a imagem que ele tanto preza se divorciando de mim? Já imaginou todos esses jornais anunciando que seu pai está se divorciando? Erick, seu pai mandou matar o homem que eu amava. Ele não tem limites. Sozinha, eu não posso fazer isso.
Eu terminei de beber a bebida e coloquei o copo em cima do aparador, estiquei um pouco mais as pernas.
– Você pode me ajudar? – falou animada com o seu próprio brilhantismo.
– Quer que eu mate o papai? – perguntei com um sorriso nos lábios. Não que eu estivesse considerando a ideia.
– Pelos céus, Erick! Eu o odeio, mas não quero matá-lo. Ele precisa sofrer muito para amargar pelas coisas que fez nossa família passar – ela deu uma pausa. – Eu estive pensando em uma coisa que me parece bem interessante. A filha do Jordan continua viva. Foi o acordo que o Thomas fez com seu pai.
– E daí? – questionei. – A morte da garota não iria interferir em nada. Iria?
– Pelo contrário, meu filho. O fato dela estar viva é uma vantagem. A garota não sabe de nada, mas mesmo assim é herdeira de tudo o que pertencia ao Jordan. Ou seja... Tudo isso aqui pode pertencer a você caso se case com a garota.
Ela me fez rir.
– Me casar? Olha... Mãe, eu não sei se é uma boa ideia.
– Você precisa se envolver com os negócios da empresa. Exija seu direito como filho e tome o espaço que puder. Seu pai se sentirá orgulhoso se perceber que você está se tornando um homem responsável e vai passar a confiar em você. Você deve fazer um fundo de emergência, acumular o dinheiro que puder. Caso algo dê errado... – ela deu uma pausa. – A garota mora aqui na cidade. É uma pobre coitada sem nenhuma expectativa de vida e você deverá fazê-la se apaixonar por você. Sei que, nesse quesito, você herdou seu pai. Não irá decepcionar – ela piscou. – O casamento deverá acontecer o mais rápido possível. Ela se sentirá como uma vencedora da Mega Sena. Mas depois de casado, você será dono de metade de tudo o que pertence a ela. Ou seja... Seu pai não terá chances de deixar você sem nada. E na sequência dos acontecimentos, eu irei pedir o divórcio. Vou precisar da sua ajuda e da sua proteção, porque o que restar para seu pai, ele terá que dividir comigo. Quando seu pai passar a confiar em você para as ações financeiras, quero que faça o maior número possível de problemas sem solução, quero deixá-lo sem nada...
– Você só pode estar ficando louca. Eu não vou colocar uma aliança no dedo.
– Erick... Nós sabemos muito bem que você não tem muita escolha. É a única oportunidade que você tem para ter alguma coisa. O casamento não é tão ruim assim... Você só precisa aguentar por um tempo.
– E quando eu me divorciar, a garota levará metade de tudo... A única a ter vantagens aqui é você, mamãe.
– E quem disse que falei em divórcio?
Atualmente:
Olhei pela janela do quarto através da cortina, observando os primeiros raios de sol surgirem no horizonte e mais uma vez meus olhares se voltaram para aquela garota deitada em minha cama, dormindo profundamente... Os planos de minha mãe haviam dado certo e, se não fosse por uma ideia engenhosa, essa mulher jamais estaria ali comigo, eu nunca teria entrado naquela cafeteria e consequentemente não estaria noivo.
Minha mãe amava uma novela trágica e não se importaria em colocá-la em risco caso ela descobrisse a verdade. Me apaixonar também não era um pré-requisito, mas eu estava rendido aos pés daquela garota, enciumado pela possibilidade de perdê-la.
Por outro lado, meu coração estava temeroso... Havia um passado do qual eu jamais conseguiria fugir e me fazia lembrar de quão implacável Izabel conseguia ser para conquistar seus objetivos.
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Aliança Perigosa
Roman d'amourAliança Perigosa "A Noiva do Meu Irmão" Em seus devaneios mais românticos, jamais imaginara que o destino reservaria uma trama tão intrincada. Um amor inocente, tão puro quanto a aurora, agora se desdobra em uma teia de perigos imprevistos. Um noiva...