Reading a Letter

218 19 6
                                    

Já eram meia noite e Billie não criará coragem para abrir a carta, sabia que não tinha motivos para evitar tanto, mas no fundo temia a leitura mais do que tudo. Era um medo bobo que se misturou com os questionamentos sobre o motivo de ter sido ele o nomeado de toda a herança de Otto. Pensou na morte de Madeleine e o quanto foi egoísta por não ter estado do lado do amigo em um momento tão difícil quando Otto esteve ao seu lado quando Ammy o abandonou. Mais uma pontada de dor atingiu seu coração, as lagrimas começarão a escorrer. Billie era um cara de poucos amigos, e se contentava com isso, eles sempre estiveram lá por ele como ele sempre esteve pelos amigos, mas saber que em um momento tão doloroso para seu amigo ele não pode estar por perto o entristeceu.

Levantou-se da poltrona e caminhou até o banheiro, lavou seu rosto, atravessou a porta que dava acesso ao seu quarto, a luz da lua entrava pela grande janela de vidro que ocupava toda uma parede, abriu mais as cortinas e ficou ali parado encarando a noite, de vez em quando podia ouvir um barulho de carro, mas fora isso era um silêncio absoluto, o que só e possível em uma terça-feira de madrugada.

Tirou seu blazer e o pendurou atrás da porta, sentou-se na cama e jogou os sapatos longe, desabotoou sua blusa, tirou seu cinto e abriu o zíper de sua calça, caminhou de volta para o banheiro e já nu jogou sua roupa no cesto e tomou seu banho. Junto com a água quente lhe escorriam as lágrimas, tudo o que ele não conseguiu chorar em dois meses chorara agora. Chorava pela noiva que o abandonara pela morte de Madeleine e de seu amigo Otto, chorou por não ter estado ao lado do amigo em um momento tão difícil, chorou por se sentir tão vazio por dentro, como se toda a possibilidade de esperança fosse apagada de dentro dele antes mesmo de existir.

Sentia-se exausto, e já enxuto foi cambaleando para a cama onde se deitou nu do lado esquerdo e virado para a janela assistia ao céu escuro e gradativamente foi pegando no sono.

**************

A luz do sol infiltrava o quarto assim acordando Carolina antes da hora programa em seu despertador, foi abrindo os olhos devagar até se acostumar com a claridade e assim conseguiu olhar para o dia ensolarado que era moldado por sua janela. Continuou deitada fitando o teto de seu quarto, sorria pensando no dia em que a sua mãe decidirá reformar seu quarto, dizia: "Vamos trazer mais vida pra cá, estas paredes estão muito brancas". Durante uma semana Carolina teve que dividir o quarto com sua irmã mais velha que não gostou muita da ideia. E mesmo depois de 7 dias sofridos na mão da irmã, que a empurrava da cama, cutucava e se mexia toda hora, quando Carolina entrou pela primeira vez em seu quarto recém reformado sentiu que valeu a pena cada ponta pé que levou. Agora as paredes eram rosas claras com os acabamentos do teto e rodapé pintados de dourado, os móveis foram substituídos por novos de uma madeira escura, sua cômoda nova tinha um espelho em formato oval, sua escrivaninha era toda detalhada com formas de onda, sua cama tinha uma cabeceira acolchoada de cor marrom e combinava com o grosso lençol também rosa. No banheiro em anexo agora tinha uma banheira branca com o registro dourado que era da mesma cor do chuveiro que ficava em cima, o balcão da pia era branco e o espelho também dourado, os enfeites eram todos em tons de azul, a cor favorita de Carolina.

O som de seu despertador a tirou de suas lembranças, se sentou na cama e o desligou, esticou os braços e manteve sua coluna reta, estalou o pescoço e foi em direção ao banheiro. Escovava seus dentes enquanto fazia xixi e ainda sentada tirou sua roupa, cuspiu a espuma branca na pia e foi direto para o banho. Entrando na banheira e ligando o chuveiro pensou que nunca tinha tempo de tomar banho de banheira, o que era um pena.

Enrolada na toalha pegou a roupa suja que tinha jogado no chão do quarto e no chão do banheiro as colocando no cesto. Vestiu uma blusa limpa da escola, foi até a janela, analisou o céu e conclui que talvez não chovesse, voltou até a cômoda e colocou sua saia que batia dois dedos abaixo de seu joelho, colocou suas meias e vestiu seu calçado, penteou o seu cabelo que por algum milagre tinha ficado preso durante a noite toda. Pegou sua mochila e arrumou com o material do dia e fez o mesmo com sua bolsa do balé.

O Futuro de Nós DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora