O Futuro de Nós Dois

Você é um péssimo marido.

A noite mal dormida no sofá da sala só contribuiu para a dor muscular e dor de cabeça que a atacava incansavelmente. Fazia vinte minutos que Clara finalmente tinha dormido depois de ter passado a noite toda chorando inquieta no colo da mãe. Os seios estavam machucados por tanta terem sido magoados sem querer pela filha que estava agoniada pela dor em sua gengiva por conta dos novos dentes que estavam prestes a brotar. O som estridente e agudo de Clara não permitia Carolina nem de bocejar, a choradeira da filha havia funcionado como um energético para o corpo cansado da mãe.

Não lembra bem quando pegou no sono, mas agradeceu mentalmente por ter conseguido ficar cinco minutos com os olhos fechados e com o bebê quieto ao seu lado dormindo, depois disso o cansaço retornou e tomou conta de seu corpo por inteiro. Acordou não mais no sofá, as duas deitadas e cobertas na cama de casal e o cheiro de café subia as escadas aguçando o seu olfato. No relógio era oito horas, o que significava que estava atrasada com a sua rotina. Pisou com o pé no chão e logo o choque de dor percorreu de seu calcanhar irradiando até o tornozelo. Apreendeu o rugido entre os dentes e procurou se escorar na parede. Desceu as escadas em um pé só. Seguiu o barulho que vinha da cozinha e encontrou Billie adoçando seu café preto.

– Como ela ta?

– Dormindo. – respondeu mal humorada enquanto abria a geladeira atrás de uma garrafa de água. – Vou levar ela na Dr. Karen, acho que não custa nada o cuidado. – ingeriu todo o conteúdo da garrafa de uma vez, saciando a cede e secura que sentia.

– Que horas você pretende ir?

– Depois de passar na empresa, tenho que resolver uns contra tempos com o Eric e Andrew. Sabia que ele e o Ryan estão pensando em morar juntos? – comentou desvencilhando do assunto central.

– Legal. Espero que não seja genético e de que em um ano seu irmão não decida ir pra outro continente.

– Me desculpa, ta bom? – colocou-se diante do noivo mantendo seus olhares conectados.

– Pelo que? Por me fazer acreditar que seriamos uma família?

– Nós somos uma família, B! – segurou o rosto do noivo entre as mãos, mas rapidamente Billie as afastou e caminhou para a porta da cozinha.

– Então, por que você quer nos separar? Por que quer ir para o outro lado do oceano?

– Eu vou continuar sendo mãe da Clara e sendo sua. – disse para o nada, era apenas ela na cozinha e não tinha mais ninguém para ouvi-la.

Respirou fundo retardando a necessidade que sentia de chorar, dando maior atenção ao fato de que tinha de ser menos emotiva, ou tentar controlar melhor suas emoções. Desesperar-se acerca do assunto não a levaria a lugar algum. Entender isso foi um trabalho difícil para ela e Rafael que ainda se viam toda semana, mas agora ela entendia e sentia-se mais disposta a fazer como pedido pelo psicólogo. Retornou para o quarto e começou sua rotina duas horas atrasada, arrumou a mochila da filha, em seguida a sua, separou as roupas que iriam usar naquela manhã e levou as mochilas até o porta malas do carro que tinha ganhado dos pais por ter finalmente tirado a licença de motorista. Voltou para casa e no momento em que pisou dentro do quarto sentiu o perfume amadeirado de Billie dominar todo o ar, encarou o noivo que terminava de se arrumar de soslaio antes de marchar rumo ao banheiro para se banhar. Quando saiu enrolada na toalha o encontrou ao lado da filha desperta que resmungava algumas coisas em tom baixo. Clara quando viu a mãe abriu um delicioso sorriso e começou a mexer braços e pernas na cama. Billie a sentou em meio aos travesseiros e ambos assistiram a filha pela primeira vez sustentar o próprio peso sozinha.

– MEEEU DEEEEUS ELA TA SENTANDO SOZINHA! – berrou entusiasmada não conseguindo conter as lágrimas de felicidade. – PEGA A CÂMERA AGORA!!! – ordenou num impulso enquanto assistia abobalhada a filha sentada em meio a cama bagunçada.