O Futuro de Nós Dois

Vou Pintar o Sol

- Uma hora vamos precisar nos falar. - disse sorrateiramente no pé do ouvido dela a pegando desprevenida, deixando-a sem reação por alguns segundos.

Sua reação foi de completa surpresa. Estava arrumada como se fosse a uma festa, os saltos super altos, maquiagem acendendo os olhos azuis e delineando as maçãs do rosto, sem contar o lábio vermelho que é sua marca e que o deixava louco.

– Como você sabia que eu estava aqui? – evitou o encarar nos olhos, levantou-se da cadeira onde experimentava uma sapatilha e fingiu-se distrair com uma bolsa azul camurça.

– Tem certeza de que não sabe? – sorriu debochado.

– As vezes eu me pergunto de que lado a Sophia esta. – assoprou a franja que caia-lhe o rosto em sinal de chateação. – De qualquer forma foi você quem foi embora sem se despedir. - estava magoada, mesmo tendo ciência de que o erro tinha sido seu.

– Eu te liguei do carro, você não atendeu, te esperei dentro do carro e você não apareceu. – Carolina tentou dizer algo, mas Billie logo interrompeu. – E não venha me falar que não sabia, pois a Sophia confirmou que tinha te avisado.

Estavam dentro de uma loja de sapatos conversando, as atendentes em volta prestando atenção a cada palavra que lançavam no ar. O interesse em saber da conversa do outro era algo inexplicável para Billie, irritava-se vendo as pessoas em volta prestando atenção neles.

– Vamos conversar em um local mais privado? – Carolina confirmou, seguiu até o balcão e pagou por suas compras. Era segunda feira de manhã, não tinha chego nem à hora do almoço e a menina dos cabelos dourados já estava fazendo compras.

Passou o cartão de débito na maquininha enquanto Billie a observava. Cada pedaço do corpo dela tenso. As atendentes encaravam o homem dos olhos verdes que só tinha olhos para uma mulher que saía loja a fora guardando a carteira na bolsa.

– O senhor é o motorista dela? – a atendente estendia duas sacolas - Aqui estão as compras dela.

– Inacreditável. – possesso, pegou as sacolas e seguiu atrás de Carolina. - Você disse a ela que eu era seu motorista?

– Claro que não B. – e sorria tímido. Quando estava em encrenca fazia piada, virava humorista para descontrair o clima tenso. Através do riso, como sempre, disfarçava o nervosismo que a corroia por dentro. Fazia piada tentando afastar a conversa séria que Billie queria ter.

– Você não devia estar na escola?

– Você não devia estar na empresa? – respondeu com o olhar desafiador, podia fazer isso por horas.

– Você sabe ser irritante Aninha.

– Meu pai diz isso o tempo todo.

– Mas eu não sou seu pai, sou seu namorado – os olhos visivelmente tristes a observavam tentando entender o motivo da atitude grotesca dela. – e quero que me trate da forma que eu trato você. - cruzou seus dedos nos dedos dela e juntou seus lábios em um beijo singelo, porém cheio de desejo.

– Minha mãe tem um amigo que é dono de uma agência, há um tempo ele já tinha demonstrado certo interesse, mas eu nunca tive vontade. No sábado eles se encontraram lá na festa e ele fez o convite. Fui ao escritório dele de manhã cedinho.

– Agora quer ser modelo?

– Seria um bom passa tempo, um dia vou ter que me afastar da empresa de qualquer forma. – fitava jóias expostas em uma vitrine enfeitada com as cores do outono, mesmo estando quase no verão. – Aquela pulseira é linda demais. – vidrou os olhos no singelo pingente em formato de coração, entretanto o valor não era tão singelo.

– Quer ir lá pra casa para nós conversamos? – quis a atenção dela.

– Eu não sei, acho que quero ir pra minha casa. – estava exausta física e psicologicamente, há dias já não se sentia bem, há dais queria apenas o conforto de sua cama e alguns filmes em preto e branco passando por sua televisão. Os remédios, de um jeito bem retardatário, aos poucos iam dando conta, mas nada era para sempre. Uma hora o efeito passava e a onda de agonia a atingia novamente. Era um circulo vicioso, quase que infinito, onde por momentos ela se encontrava no céu e em outros estava imersa em escuridão querendo cada vez mais se afundar na própria lamuria.