Tentativa || Parte 2

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- Eu tentei, eu tentei! Eu juro que tentei. – dizia para si mesma enquanto entrava pelos portões da escola no dia seguinte.

Na hora parecia tão certo. Era tão verdadeiro o que sentia quando ele a tocava e a beijava. Mas depois que chegou na empresa e viu que em poucos dias a realidade deles seria outra o peso que havia abandonado seu coração caiu com o dobro de intensidade sobre seus ombros. As duas horas que passou ao lado dele simplesmente deixaram de existir no momento em que colocou os pés no Hall de entrada e que jogou uma cara de nojo na direção da recepcionista, Ashley.

- Boa tarde, srtª Ana. Deseja alguma coisa? – fazia questão de dizer todos os dias com um olhar de desdém que não descia a garganta de Carolina. A todo o instante tentava a perturbar, a tirar do sério e se continuasse assim teria sido um dia em que Carolina perderia completamente a cabeça e voaria no pescoço da Ashley. Mas respirou fundo e simplesmente retrucou.

- Bom dia, loura de farmácia. Pena que a genética não foi favorável à você como foi a mim. – ergueu uma sobrancelha, colocou a melhor cara de sebosa que tinha e a fitou de cima a baixo. – Ta na hora de retocar essa raiz.

Nem retrucar Ashley era mais capaz de melhorar seu humor. Havia tido um desempenho meia boca, que foi cobrado pelo pai, por dois produtores e outro diretor. Acabou tendo que ficar até tarde na empresa só conseguindo chegar em casa depois do jantar. Nem dormir dormirá direito. Passou a noite toda com o violão do lado e várias partituras espalhadas em cima da cama. Só parou mesmo quando Sophia, que dormia no quarto ao lado, foi reclamar.

- Se você continuar tocando a porra desse violão eu vou enfiar ele dentro da tua goela.

Deitou para dormir, mas não consegui pregar os olhos remoendo possíveis conversas com Billie na cabeça. Pensava em como seria a reação dele. Seria ele capaz de entender? De a perdoar? Viu o sol nascer, os olhos pesavam, mas nada além disso, pois o sono mesmo não veio.

Assistia à aula com a cabeça entre as mãos, os olhos iam se fechando de leve entrando em um sono leve até que seu consciente a alertava, abriu os olhos num susto e se deparou com uma professora enfezada.

- Já que está dormindo na minha aula, Srtº Mazzini, creio eu que já saiba a matéria toda de cor. – a professora ajeitou os cabelos cacheados atrás da orelha e empurrou os óculos, que eram grande demais pro seu rosto, para mais perto. – Vejamos: se cruzarmos um camundongo heterozigoto com uma fêmea de genótipo recessivo, qual será a proporção provável para seu descendente?

Estava tendo aula de Genética, olhou para o quadro atrás da professora e só tinha desenhos de células de cromossomos homólogos. A cabeça, por falta de descanso, latejava aquela dor insuportável que começava na altura da nuca e ia até as têmporas.

- Vamos! Responda.

- Ai, calma! A resposta é 50% dominante, 50% recessivo. Só não grita que eu to com dor de cabeça.

Mesmo tendo acertado a pergunta isso não a impediu de ir parar no banco da sala de espera da diretora enquanto seus pais estavam lá dentro. Soprava a franja em sinal de nervosismo, tinha que sair de lá e ainda dar tempo de encontrar com Billie. Pelo vidro da porta pode ver seus pais levantando e apertando a mão da diretora. Preparou o ouvido para começar a ouvir as reclamações do pai, mas nada disso aconteceu.

- Filha, eu sei que ontem foi um dia muito cheio para você. – John sentou ao lado dela enquanto sua mãe estava a sua frente. – Sophia me disse que passou a noite toda tocando, tentando deixar as partituras prontas. – segurou na mão da filha e a acariciou com delicadeza. – Mas quero que saiba que você não precisa se esforçar tanto a ponto de deixar sua vida escolar em risco.

O Futuro de Nós DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora