Quase Brilhando

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Foi a primeira vez em muito tempo que sentiu o peso sair das costas. Era um peso especifico, nunca havia contado a ninguém sobre sua depressão. Nem Júlia sua única amiga sabia, de resto apenas a família sabia, mas mesmo assim era limitado até os avós, outros tios e primos nunca ficaram sabendo da situação de Carolina.

Quando descobriram era como se tivesse uma doença contagiosa, ficou com medo de que quem soubesse se afastaria dela. Preferiu esconder de todos, até de si mesmo, o que fez a doença se agravar mais.

Retornavam ao local das cabanas onde todos estavam em volta de uma fogueira, John e Margot com uma linha de preocupação no rosto, enquanto os outros aparentavam estar tranquilos.

- Olha a minha menina ai. – Cissa avisou caminhando em direção a oferecendo um xale. – Não sei como esta aguentando o frio que estava fazendo essa noite, ainda mais só de biquíni.

- Eu deixei minha blusa cair na água.

- Você não deve sair correndo por dentro da mata. Isso é perigoso! – John atacou. – Tem ideia do quão preocupados nos ficamos?

- Desculpa. Eu não sei no que eu estava pensando.

John se aproximou de Billie e o agradeceu por ter trago sua filha em segurança, o deu um meio abraço e finalizou com tapinhas nas costas, ação que Billie não gostava.

- Essa menina só me causa problema. Deixa eu avisar aos guardas do parque que vocês retornaram.

- Ela não é um problema, só precisa ser compreendida. – afastou-se deixando John sem graça.

Sentado de frente para as chamas alaranjadas foi permitindo o corpo absorver o calor. Com toda certeza a noite estava fria, ainda mais por ter feito a caminhada toda sem sua blusa por ter a emprestado para Carolina, somente a pegando de volta quando estavam próximos para que ninguém percebesse.

Conforme todos estavam em silêncio, dando atenção somente ao que estava em seus pratos, Billie pensava no quanto a vida o surpreendia.

Carolina sempre tão alegre, jovial, animada... Como as aparências enganam. Nunca que passaria por sua cabeça a possibilidade dela sofrer de depressão, concluiu que isso não era algo bom, só significava que ela escondia o verdadeiro estado de espírito dela e que fingia ser uma pessoa que não é.

"Como isso é possível?" – ele perguntou assim que ela confessou o que a abalava tanto.

"Eu não sei, B. Faz parte de quem eu sou."

Se ser depressiva fazia parte dela, então a tristeza habitava o seu interior com mais freqüência do que o normal, logo ela fingia estar legal bem mais do que o normal.

- Carolina, o que acha de ir no carro do seu pai buscar seu violino? Ele ficou debaixo do banco de sua mãe quando você trocou de carro.

- Mas é quase meia hora até lá, vô.

- Ah isso porque vocês acompanharam o passo lento dos seus avós.

- Eu acho que tenho um bandolim no porta malas do meu carro. – Billie anunciou sorridente, sentindo os olhos azuis de Carolina os fuzilando.

Após muita insistência, Carolina acatou o pedido do avô e na companhia de Billie fazia o percurso até onde os carros estavam estacionados.

Sua bocas lacradas não permitiam som algum sair, apenas os ruídos de animais, do vento e de suas respirações que davam vida a noite friorenta.

Caminhando na frente, escondendo o rosto choroso de Billie, pensava na saúde de sua avó. Era demasiado doloroso pensar na possibilidade de não a ter mais ao seu lado. Sempre tão carinhosa e amiga, dona Ornella quase sempre interpretou o papel de mãe na vida de Carolina, foi ela que a ajudou quando a escuridão tomou conta. Foi Ornella que cuidou desde a ferida até criar casca e sarar, recuperando assim a pele.

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