Capítulo 11 ― Castigo (Parte 2)

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Wendy adorava aquele lugar.

Robbie podia perceber isso pela expressão dela enquanto ela estava deitada ao lado dele na grama. Os dois conversavam sobre banalidades e ela parecia mais leve do que de costume. Mais feliz.

― E foi assim que ela começou a me chamar de fadinha. Dá pra acreditar em uma porcaria dessa? ― Robbie riu do tom indignado dela. ― É o pior apelido que já foi criado! Sério, eu morro por dentro cada vez que ela me chama desse jeito.

― Nunca passou pela sua cabeça simplesmente dizer que você não gosta? ― ele ergueu as sobrancelhas.

― E magoar a minha mãe? Claro que não! Ela faz tudo por mim e sempre fica feliz quando me chama desse jeito. Não posso magoá-la!

― Eu acho que ela entenderia se você conversasse com ela. ― o garoto palpitou, levando os braços para trás da nuca, em busca de uma posição mais confortável. ― Quer dizer, quem nunca teve um apelido ridículo que odiou com todas as forças?

― Você teve um? ― ela se virou para ele, os olhos brilhando de curiosidade.

― Eu sempre fui um garoto muito agitado, sabe? Ficava pulando o dia inteiro, pra cima e pra baixo, sem cansar um segundo. Meus pais costumavam dizer que eu seria um dos maiores atletas dos Estados Unidos. ― Robert abriu um sorriso triste com a lembrança. Porém, o sorriso logo sumiu. ― Então, eles faleceram e a minha vida inteira mudou. De repente, eu não tinha mais o meu pai pra me ensinar as contas de matemática e não tinha mais a minha mãe me contando histórias pra dormir. ― Wendy se entristeceu pelo modo como ele falava. Era difícil acreditar que um garoto que estava sempre alegre e fazendo piadas escondia dentro de si um menininho quebrado. ― Sempre amei meus avôs, mas foi muito difícil ir morar com eles no começo. Eu costumava ficar sentado na calçada de casa olhando pro céu e me perguntando quais estrelas eram os meus pais. As outras crianças da rua me achavam esquisito. Elas sempre caçoaram de mim... Não que eu me importasse. Nunca fez diferença pra mim o que os outros diziam. Só que a mãe de uma dessas crianças era amiga da minha avó e ela ficou sabendo do motivo de eu ter vindo morar aqui no bairro. Não faço ideia do motivo, mas ela contou isso pro filho dela. E aí eles começaram a me chamar de "pequeno órfão". ― a voz dele ficou fria e os olhos azuis escureceram. ― Nunca fui um garoto violento, mas eu ficava com muita raiva. Queria bater neles até eles engolirem tudo o que diziam. Então, um belo dia, o filho dessa mesma mulher começou a me provocar. Não vale a pena repetir o que ele disse. Tudo o que você precisa saber é que eu, no auge dos meus sete anos de idade, meti a mão na cara do imbecil e tenho orgulho de dizer que estraguei, mesmo que temporariamente, o rosto dele. A mãe dele cortou relações com a minha avó. Dona Linda nunca soube porque eu bati naquele idiota, mas ela passou meses decepcionada comigo.

― Por que você nunca contou? ― Wendy sussurrou, com lágrimas nos olhos.

― Eles iam ficar muito preocupados comigo, mais do que eles sempre foram. Iam me colocar em uma terapia e pagar pra alguém me fazer superar a morte dos meus pais. E a morte dos meus pais é um assunto meu, sabe? Eu disse pra mim mesmo que ia lidar com isso e eu consegui. Sempre vou sentir falta dos meus pais, mas não sofro mais como antes. Agora, eu consigo conviver com o fato de que eles se foram, e eu fiquei. Tenho meus avôs comigo e sei que eles não vão ficar aqui pra sempre, mas, quando eles se forem, eu vou conseguir me virar, porque eles me ensinaram como fazer isso.

― Eu não sei se conseguiria pensar assim no seu lugar. ― a garota ainda sussurrava, tentando piscar de volta as lágrimas.

― Tenho muita sorte, Wendy. Não fui parar no sistema de adoção, em uma fila sem fim, pulando de casa em casa. Eu continuei com a minha família e sempre tive amor. ― ele pausou e virou o rosto para olhar para ela. Abriu um sorriso singelo. ― Você também tem sorte de ter uma mãe como a sua.

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