Capítulo 16 ― Sequestro (Parte 5)

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Anteriormente...

― E você sabe, Joe?! Você sabe o que é amar de verdade? ― ela questionou, o tom de voz obviamente irônico. ― Você pensa que você me conhece, mas você não tem a menor ideia de quem eu sou! Faz anos que eu não troco sequer um "oi" com você, garoto! Acorda! Você acha que só porque tem um monte de fotos da minha vida em uma parede, você me conhece? Você podia estar lá, me espionando e me perseguindo, mas nunca esteve comigo. Nós nunca tivemos sequer uma conversa inteira! Você não sabe o que eu gosto de fazer no meu tempo livre ou o que eu gosto de comer no café da manhã... E, principalmente, não tem a menor ideia do motivo pelo qual eu sou quem eu sou! Você pode me manter presa nessa merda pra sempre, mas nunca vai me conhecer. E, sem me conhecer... Acredite. Você não pode me amar sem me conhecer.

O garoto parecia ter levado um tapa na cara. Encarou a ruiva, com a raiva evidente em seus olhos azuis. Ellen o encarou de volta, sem hesitar, mas, mesmo que tivesse tido algum tipo de aviso, nada a teria preparado para o que aconteceu a seguir.

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Subitamente, Joe virou seu corpo inteiro na direção de sua cabine de vidro e, com uma calma que assustou a garota, desabotoou e retirou o sobretudo preto e largo que vestia. Por baixo do mesmo, era possível ver um traje de um azul tão escuro que era quase negro, com um grande círculo vermelho no centro, bem no meio do tronco do rapaz. Ele respirou fundo, os olhos brilhando como se anunciassem um perigo do qual ela não seria capaz de fugir, sem importar a velocidade na qual corresse. Inúmeros sentimentos ― medo, horror, nervoso, ansiedade, certeza que ia morrer ― percorreram o corpo de Ellen quando ela percebeu que algo importante estava prestes a acontecer.

Ao mesmo tempo, o círculo vermelho do traje começou a brilhar, como se ali dentro houvesse algo forte e intenso que não aguentava mais ficar contido e iria se libertar a qualquer momento. Joe ergueu os braços, em um gesto teatral, mas com uma expressão de concentração máxima no rosto, para que nada fugisse do que ele tinha em mente. O brilho vermelho, Ellen percebeu horrorizada, aumentava cada vez mais até que, enfim, pareceu atingir o seu ápice. Uma espécie de raio vermelho ofuscante se soltou do peito do garoto e atingiu a entrada da cabine, causando um tremor que percorreu todo o componente e a desequilibrou por completo, fazendo com que precisasse se segurar com força para não cair. Porém, apesar do grande choque que havia sofrido, o vidro sequer trincou.

Joe ficou ali, parecendo extasiado e satisfeito consigo mesmo, enquanto o cérebro de Ellen tentava processar e enxergar através do imenso choque que havia acabado de sofrer.

Ela já tinha visto aquilo em algum lugar, com certeza. Provavelmente na televisão ou em algum filme de super-herói no cinema. Foi então que, de repente, conseguiu ouvir a voz de Robbie em sua cabeça, o eco de uma lembrança distante de comentários animados vindos do amigo, dizendo: "Não é possível, Ellen! Você já viu algum filme dos X-Men antes? Pelo amor de Deus. É o irmão do Ciclope, você sabe, aquele que sempre morre, absorve energia e a libera em forma de rajadas energéticas de plasma, etc e tal. Não acredito que você nunca ouviu isso na vida, em que mundo você vive?".

A ficha da garota caiu.

Joe também era uma aberração.

― Por essa você não esperava, não é mesmo, querida? ― ele riu, parecendo muito satisfeito com a expressão de puro horror no rosto dela. ― Que você e seus amiguinhos não fossem os únicos "especiais" a ter saído daquele acidente. Mais uma vez, você não faz a menor ideia. Enquanto vocês estavam um ao lado do outro, se ajudando e se completando, eu estava aqui. ― ele abriu os braços, para indicar a sala ao seu redor. ― Vocês acharam o galpão de vocês, e eu também achei o meu. Descobri aqui tudo o que eu era capaz de fazer, sem treinador, sem ajuda, sem amigos e sem você. ― seus olhos brilhavam de uma forma tão cruel, que Ellen precisou depositar todo o seu peso sobre a parede de vidro atrás de si, certa de que, caso tentasse ficar de pé, suas pernas não conseguiriam sustentar seu peso. ― Consegui por conta própria mais do que vocês jamais conseguiram. ― o olhar no rosto dele era cínico e frio. ― Me diga, querida, o que você acha que teria feito sozinha? O que aquela tapada da Wendy McGarden teria conseguido sozinha? O que vocês teriam alcançado sem Merritt Henson? ― quando Ellen arregalou mais os olhos, ele sorriu com malícia. ― Sim, eu sei tudo sobre Merritt e Marilyn Henson, seu galpão e seus treinamentos. Eles contaram tudo a vocês, não foi? ― o olhar no rosto dela denunciou a resposta. ― Eu sempre quis saber... Ver as coisas, infelizmente, não é a mesma coisa que ouvir.

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