Capítulo 19 ― Cicatrizes (Parte 1)

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Quando Wendy pisou na grama do lado de fora da casa e respirou o ar puro da noite bonita e sem nuvens daquele dia, misturado com o cheiro de ferrugem que a ferida de Savannah exalava, quase desabou ali mesmo. Savannah era alta, mas bem magra e não lhe incomodava tanto assim carregá-la. As asas haviam lhe tornado mais forte fisicamente, mas seu psicológico estava em frangalhos.

Enquanto Savannah e Joe estavam atracados no que, quem diria, se tornara uma luta mortal, Wendy havia conseguido soltar o fio do regulador de oxigênio que estava prestes a matar Ellen. Assim que ela o fez, o aparelho começou a emitir um ruído mais alto e ela pôde ver os pulmões da ruiva dentro da cabine trabalharem mais rápido e com mais força até que, provavelmente sobrecarregada por receber tanto oxigênio de uma vez só após ter sido privada dele por algumas horas, Ellen engasgou.

Oliver não perdeu um segundo sequer. Com suas mãos ainda emanando sua já conhecida energia, ele tocou no trinco automático e, literalmente, o fritou. O metal estalou e estalou até queimar e, com um estalo maior, a porta da cabine se abriu.

Assim que Peter percebeu que eles iam conseguir tirar Ellen da prisão de vidro, não hesitou ao pegar Robert em seus braços e erguer o corpo do amigo do chão. Todavia, Savannah ainda estava atracada com Joe, o que lhe preocupava. Ele se conectou mentalmente a Wendy que, antes que ele pudesse mandar alguma mensagem ou pensar em alguma coisa, declarou surpreendentemente:

Não saio daqui sem ela.

Sem precisar de mais palavras, ele se virou, com Robbie nos braços, e deixou a sala.

Oliver já tinha Ellen nos braços. Ela ainda estava desacordada e respirava com dificuldades, mas um pequeno vestígio de cor havia voltado ao seu rosto. Ele olhou de relance para Wendy e para Savannah e Joe antes de seguir pelo mesmo caminho que Peter havia ido.

Então, Wendy desceu do teto de vidro da cabine e, com lágrimas nos olhos, assistiu enquanto Savannah foi ferida, sem poder fazer nada para ajudar; suas asas pareceram mais inúteis do que nunca naquele momento. Logo após, testemunhou enquanto a leoa matou Joe antes que ele pudesse terminar de esfaqueá-la.

Agora, enquanto a segurava nos braços e pedia a todas as entidades divinas pela vida da loira que odiou com todas as forças na noite anterior, Wendy se dirigiu até onde a caminhonete de Peter estava estacionada. Oliver estava no banco da frente, com Ellen ainda desacordada em seu colo, encolhida como se fosse uma criança. No banco de trás, ela conseguiu ver que Peter estava ajustando Robbie da melhor forma possível, uma vez que esse último continuava inconsciente.

Quando chegou perto deles, Oliver a encarou pela janela aberta com a expressão mais devastada que ela já havia visto cruzar seu rosto, e Peter prendeu a respiração.

― Joe tinha uma faca. ― ela explicou e sua voz soou tão rouca pelo tempo que havia ficado em silêncio que ela pigarreou. ― Ele está morto.

Oliver suspirou, parecendo resignado e arrasado ao mesmo tempo. Peter balançou a cabeça, com um semblante tão destruído quanto ela mesma imaginava que o seu deveria estar.

Nunca ia conseguir esquecer aquela cena: a leoa ferida e determinada rasgando o pescoço de garoto arruinado e apavorado, enquanto ele gritava em desespero e angústia, a vida se esvaindo de seu corpo a cada segundo que se passava...

Peter ergueu os braços para pegar a loira e Wendy a passou cuidadosamente para ele. Savannah abriu os olhos por um instante, olhando para ela com gratidão, antes de voltar a fechá-los. Peter deu a volta no carro para depositá-la ao lado de Robbie no banco traseiro, murmurando para ela que a dor já ia acabar, mas que ela precisava continuar pressionando a ferida.

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