POWER

Capítulo 20 ― Partida (Parte 2)

Aquilo devia estar entre as coisas mais desagradáveis que teria que fazer na vida, Wendy tinha certeza. A mesa da sala de jantar da casa dos Fawkner era duas vezes maior que a que elas tinham em casa e, naquele instante, parecia abrigar todos os continentes.

Sentado na cabeceira da mesa, Lennon Fawkner parecia o mais feliz dos homens ao segurar a mão de Tina, que, igualmente, parecia uma mulher muito diferente daquela que lhe criara nos últimos dezoito anos. Do lado oposto ao seu, com um semblante fechado, estava Ellen, que dava a impressão preferir estar em qualquer lugar, menos ali. Ao lado dela, Oliver mantinha seu sorriso diplomático, guardado para as ocasiões que ele evitava, mas era obrigado a encarar de qualquer forma.

Por sua vez, Wendy tentava ao máximo manter a compostura e o sorriso no rosto. Ainda estava abalada com a despedida de Robbie e Savannah. Não esperava ter chorado tanto quanto chorou, muito menos que eles fossem chorar junto com ela. Seu coração partido tinha conseguido a proeza de se partir ainda mais. Se fosse ser sincera consigo mesma, duvidava que, algum dia, aquela parte de si voltaria a estar cem por cento inteira depois de tantas provações.

Estavam em uma conversa pós-almoço difícil. Lennon não deixava o silêncio predominar e se esforçava para manter a conversa em andamento, em uma clara tentativa de agradar Tina, que o seguia sem vacilar. Oliver, sendo quem era, não tinha dificuldade em opinar nos assuntos que os mais velhos abordavam, sempre verbalizando seus pensamentos e posições sem dificuldade. E, apesar de tudo, Wendy não queria magoar sua mãe. Por isso, e apenas por isso, também estava se esforçando. Ria das piadas de Lennon, concordava com algumas coisas que ele falava e, vez ou outra, dizia o que pensava de qualquer que fosse o assunto ― ou livro ― da vez escolhido por ele. Seu esforço, assim como o do homem, não estava sendo em vão: o sorriso parecia não sair do rosto de Tina, apesar de Ellen ter desistido de se engajar naquela conversa após a primeira meia hora.

Realmente, Wendy era uma boa atriz. Conseguir rir quando tudo o que queria fazer era deitar em posição fetal e chorar pelo resto do dia era um feito muito grande, até mesmo para ela.

Lennon, Ellen e Oliver ainda não sabiam dos seus planos de mudança. Ela acordara bem cedo naquele dia, telefonara para a tia em Phoenix e, só após receber uma resposta positiva, contara seus planos a Tina. Claro que não podia expressar toda a dimensão dos acontecimentos, como a morte de Joe ou tudo que envolvia seu término com Peter, mas a mãe sabia que ela estava pior do que deixava transparecer, afinal, era sua mãe e a pessoa que mais lhe conhecia no mundo.

Tina, assim como Robbie e Savannah, chorou mais do que ela imaginava, mas, ainda assim, aceitou sua decisão, ainda que não entendesse sua pressa. Ajudou-lhe a arrumar e organizar, em duas malas e uma mochila, as roupas e objetos de higiene pessoal necessários, além de seus livros escolares ― ela ainda estava no ensino médio e teria que começar em uma escola nova, no fim das contas ―, enquanto lhe assegurava de que, se o serviço de correios americano lhe ajudasse, mandaria todos os documentos de transferência escolar antes que o recesso de Natal acabasse, para que ela pudesse começar em janeiro em uma nova instituição em Phoenix. Elas conversaram sobre a possibilidade de Wendy conseguir um emprego durante os fins de semana e, quem sabe, visitar Chicago em alguma ocasião especial, mas desistiram logo em seguida, concordando que, caso alguma vaga surgisse, o dinheiro deveria ir direto para o fundo de universidade para o qual Tina economizava há muito tempo.

Por fim, se arrumaram para o almoço e ficaram sentadas no sofá da sala de estar por um algumas horas, abraçadas e tentando aliviar previamente uma saudade que ainda nem começara, mas já as sufocava. Permaneceram assim até saírem de casa, quando Wendy foi procurar Savannah para se despedir, e Tina seguiu para a residência dos Fawkner ajudar Lennon a terminar de preparar o almoço.