Wendy entrou em casa e soltou um longo suspiro ao ver a mãe sentada no sofá da sala de estar. Tina ergueu os olhos imediatamente, como se estivesse esperando-a e Wendy precisou se apoiar na porta para não ceder ao esgotamento físico e mental que recaía sobre seu corpo. Agora que a adrenalina havia passado, o que restara era um misto de dor, confusão, decepção, culpa e tristeza.
Se não fossem as asas, não sabia o que teria feito. Elas lhe deram suporte durante todo o caminho de volta, lhe guiando pelos céus para longe de um ambiente no qual ela não queria estar, de pessoas das quais ela não queria ver naquele momento. O céu escuro e frio lhe acalmou ligeiramente e a escondeu do mundo por algum tempo, mas agora ela já estava de volta à sua casa, sentindo-se, entretanto, como se não fosse bem-vinda ali. Todavia, antes de entrar pela porta da frente, se esgueirara até o pequeno pátio traseiro para lavar o sangue de Savannah, desejando, pela segunda vez no dia, um banho quente mais do que qualquer outra coisa. Porém, sabia que aquilo teria que esperar.
Encarou sua mãe e, pela primeira vez em toda a sua vida, não soube o que dizer a ela.
― Está tudo bem, meu amor? ― Tina levantou-se do sofá e precipitou-se na direção dela, com a intenção de abraçá-la. Wendy, entretanto, recuou, seu coração se apertando com aquela ação instintiva. Sua mãe parou imediatamente. ― Wendy?
― Mãe... Acho que não tive um dia tão horrível na vida desde que papai faleceu. ― a loira disse e suas asas balançaram, como se quisessem dar ênfase à afirmação. O olhar de Tina se tornou mais preocupado do que estava antes e a mulher parecia confusa. ― E uma das coisas que contribuiu para este dia ser tão horrível como está sendo é o fato que eu tive que descobrir, por ninguém menos que Ellen, que deve ser a pessoa que mais me odeia no mundo, que você está em um relacionamento com o Sr. Fawkner, que, por acaso, é pai dela.
Tina deu um passo para trás, levando a mão aos cabelos tão loiros quanto os da filha.
― Fadinha, eu não queria que você soubesse dessa maneira. Lennon e eu planejávamos...
― Eu odeio quando você me chama desse jeito. ― Wendy suspirou, arrancando a bolsa do ombro e jogando de qualquer jeito no chão. Tina, que nunca tinha visto a filha agir daquela maneira, recuou outro passo. ― Eu odeio o fato de você ter escondido um relacionamento de mim, como se eu fosse uma criança que não estivesse preparada para lidar com o fato de que você superou o papai. Eu odeio o fato de você não ter tido confiança o suficiente em mim para me contar sobre uma coisa tão comum quanto um relacionamento quando eu te confiei a história das asas e o meu maior segredo. E eu odiei, mais do que tudo no mundo, ter que ouvir da boca da Ellen o que você não teve coragem para me dizer, mãe. Por que você não me contou? Por que você não me deu ao menos um sinal de que as coisas tinham mudado? O que isso significa para o nosso relacionamento, para a confiança que eu tinha em você? Eu nem sei se quero saber, honestamente.
Sua mãe voltou ao sofá, onde apoiou os cotovelos nas coxas e enterrou o rosto nas mãos. Parecia perdida por completo, sem saber o que dizer.
Wendy jamais havia falado daquele jeito com ela, mas sentia que havia chegado o momento. Desonestidade, insinceridade e omissão de sentimentos haviam lhe levado àquele ponto e ela tinha feito uma promessa interna de nunca mais chegar ali outra vez. Jamais deixaria que aquilo se repetisse de novo.
Não iria mais ser humilhada daquele jeito novamente e tampouco magoaria alguém como havia feito com Peter. Tinha visto a dor nos olhos dele e saber que era a razão daquele sofrimento fora o bastante para ela decidir que já bastava de guardar seus sentimentos para si mesma.
Daquele dia em diante, seria diferente.
Seria melhor.
Seria uma pessoa que faria seu pai, aonde quer que ele estivesse, sentir orgulho de suas escolhas.
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POWER
Teen FictionP O W E R conta a história de Peter Cartwright, Oliver Fleshwood, Wendy McGarden, Ellen Fawkner e Robert Johnson, cujas vidas passam a se interligar profundamente a partir de um acidente em uma excursão escolar. Aos poucos, os cinco começam a sentir...