A primeira palavra que passou pela cabeça de Peter Cartwright quando o barulho do despertador soou pelo quarto foi um palavrão. Sua cabeça reclamou e ele desligou o aparelho maldito. Tinha ido dormir dez horas antes, mas parecia que tinha apenas tirado um cochilo de cinco minutos.
Como em um ritual diário, ele afastou sua coberta quente, colocou os pés para fora da cama e se levantou de uma vez só. Seu corpo se retraiu com a temperatura fria do chão, mas ele apenas continuou seu caminho em direção ao banheiro, esfregando os olhos e se esticando. Tomou um bom banho quente e colocou suas roupas usuais ― camiseta lisa, casaco por cima, jeans e Vans preto ― antes de descer para tomar café da manhã. Porém, foi interceptado na escada com algum objeto não identificado voando em sua direção. Por reflexo, sua mão direita se ergueu rapidamente para apanhar as chaves que seu pai havia lhe jogado, guardando-as em seu bolso logo após.
― Depois você reclama que espera um século para abrirem a porta, Pete. ― Richard Cartwright brincou com o filho, que terminou de descer os degraus rindo. ― Tenha um ótimo dia, filho.
― Você também, pai. Bom trabalho! ― disse, despedindo-se do pai com um abraço antes que ele saísse para trabalhar em seu usual paletó e com uma de suas muitas gravatas.
Ao entrar na cozinha, sua mãe estava arrumando a já arrumada mesa de café da manhã.
― Bom dia, dona Mary! ― Peter deu um beijo no rosto de sua mãe, que passou a mão nos cabelos do filho com a intenção de arrumá-los. Para a sorte de Mary Cartwright, os cabelos de Peter não eram tão rebeldes quanto os do melhor amigo dele, Oliver Fleshwood.
― Bom dia, querido. Arrumou direito a sua mochila? É hoje aquela sua excursão da escola, não é? ― a mulher se sentou para ver seu único filho fazer sua primeira refeição diária, em mais um dos rituais Cartwright.
― Aham. ― Peter respondeu, entre um gole de café e outro. ― "Exploração de recursos naturais" ou alguma coisa assim. Eu nem sabia que existiam recursos naturais nos Estados Unidos, quem dirá aqui em Chicago.
Mary apenas continuou a conversa simples com o filho, tentando mantê-lo falando, nem que fosse sobre besteiras. Peter tinha tido uma infância difícil. Tinha sido um menino pequeno e magrelo, o que fazia com que garotos maiores insistissem em implicar com ele. Aquilo teria traumatizado qualquer criança, mas Peter apenas tinha chegado em casa dizendo "tudo bem, mamãe, eu sou forte" e aguentado todas as provocações com uma tranquilidade incomum.
O tempo passou e Peter começou a crescer em um ritmo constante. Quando Mary se deu conta, seu garotinho já estava mais alto que ela. Os cabelos naturalmente lisos, que um dia haviam sido loiros, escureceram até chegar a um tom bonito de castanho. Ele tinha um nariz proporcional ao rosto, muito parecido com o do pai, e seus olhos eram de um azul tão límpido e brilhante que ela achava difícil encará-los por tempo demais sem querer lhe dar um abraço forte. O olhar de Peter era, provavelmente, a característica mais marcante de seu rosto. Além disso, o basquete também tinha feito com que seu corpo melhorasse, tornando-se cada dia mais forte, e agora ele era rapaz lindo de quase dezoito anos tomando o mesmo café da manhã que tomava quando tinha dez. Orgulho era pouco para nomear o que ela sentia por ele.
Peter ergueu o rosto de seu prato limpo e olhou para sua mãe. Com um sorriso, ele a abraçou.
― A senhora tem que parar com essa mania de ficar me olhando, mãe. Não vou a lugar algum, sabe? ― ele murmurou carinhosamente.
― Promete? ― Mary se sentiu como uma criança, mas precisava daquela resposta para se sentir mais calma.
― Claro que sim, mãe. Prometo. ― Peter beijou a testa da mulher, olhando-a com os olhos azuis de seu pai.
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POWER
Teen FictionP O W E R conta a história de Peter Cartwright, Oliver Fleshwood, Wendy McGarden, Ellen Fawkner e Robert Johnson, cujas vidas passam a se interligar profundamente a partir de um acidente em uma excursão escolar. Aos poucos, os cinco começam a sentir...