Capítulo 7 ― Controle (Parte 1)

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Um mês depois

Quando o despertador de Peter Cartwright soou naquela manhã, o garoto não estava muito interessado em acordar, como sempre. Sem paciência para lidar com aquele barulho irritante, ele levantou o rosto amassado do travesseiro e focou sua irritação matutina habitual no aparelho, que saiu flutuando depressa de sua cômoda para se espatifar na parede, seus pedaços caindo perto da porta. Com um sorriso sonolento, mas completamente satisfeito, ele voltou a mergulhar na inconsciência.

Mary entrou no quarto após alguns minutos sem perceber nenhuma movimentação do filho. Riu para si mesma ao ver o despertador quebrado no chão — sabia que aquilo iria acontecer algum dia — e pôs-se a tentar acordar Peter. O garoto tinha alguns dias muito ruins no que dizia respeito a acordar cedo, mas, depois de muitas tentativas por parte da mãe, ele finalmente se rendeu ao fato de que ainda era um estudante e ainda precisava ser aprovado em uma universidade.

Logo que Mary saiu do quarto e ele se viu sozinho, Peter deixou uma pontada de raiva fluir por seu corpo e, assim que se levantou da cama, focou-se nos lençóis. Estes, mesmo que devagar, começaram a se arrumar sozinhos. Sua cabeça começou a latejar ao mesmo tempo em que seu travesseiro flutuou alguns centímetros para que as cobertas se colocassem no lugar e desceu logo depois, em câmera lenta. Cama arrumada: confere.

Quando chegou ao banheiro, sua cabeça já o incomodava muito mais. Ele tentou fazer com que os objetos viessem ao seu encontro, mas era extremamente difícil se concentrar no sentimento de raiva quando a dor o torturava daquela maneira. Após tentar pelos cinco costumeiros minutos, desistiu e se entregou à normalidade. Por mais que ficasse frustrado, sabia que sua cabeça agradeceria mais tarde.

Escolheu suas roupas como um adolescente normal, visto que ainda não conseguia fazer com que fossem sozinhas em sua direção e, depois de se vestir, checou o estoque de Tylenol em sua mochila: havia um mísero comprido da caixa com vinte e quatro que havia comprado na semana anterior. Eles não costumavam fazer o efeito esperado, mas ajudavam a aliviar o sofrimento quando o rapaz tomava dois de uma única vez. Desde que a dor havia surgido, ele suspeitara que algo ligado às suas novas habilidades não estava funcionando como deveria. No entanto, por mais que pensasse e formulasse uma teoria improvável atrás da outra, não conseguia chegar a nenhum motivo lógico para aquilo estar acontecendo. Não havia razão para estar sentindo aquelas dores.

Tentando deixar aquela questão de lado e fazendo um lembrete mental para ir à farmácia comprar uma nova caixa do remédio, ele guardou o seu último comprimido para o caso de alguma emergência. Colocou a mochila nos ombros e se dirigiu à porta, parando antes de sair para analisar o ambiente e ver se estava tudo em ordem - e estava, menos o despertador quebrado no chão... Como aquilo havia acontecido, afinal?

Sentindo-se melhor ao perceber que sua dor havia diminuído, Peter fechou a porta atrás de si e foi tomar um rápido café da manhã. Ele não pretendia demorar muito em casa.

[...]

Oliver Fleshwood levantou em um pulo só ao ouvir o alarme de seu celular ecoar pelo quarto. Seu corpo inteiro reclamou, já que ele estivera dormindo em uma posição nada confortável... No chão.

Com um grunhido de dor, esticou-se para tentar aliviar seus músculos doloridos. Tinha pegado no sono enquanto fazia experiências, mais uma vez. Aquilo já estava se tornando um episódio rotineiro, para a infelicidade completa de Oliver. Quando não ficava com Ellen ou quando ela não lhe fazia companhia, ele chegava da escola e se trancava no quarto com os objetos velhos que vinha reunindo. Celulares antigos, lâmpadas sem utilidade, pedaços de metal de algum ferro velho, até o microondas antigo sua mãe ia jogar fora... O lugar tinha se tornado um depósito de velharias.

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