Capítulo 14 ― Despertar (Parte 3)

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ATENÇÃO: Prestem bastante atenção no que está e no que não está em itálico no corpo do capítulo. Isso faz muita diferença no entendimento da situação.

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Anteriormente...

Robbie e Wendy, no entanto, não conseguiam se mexer. Estavam presos no chão, inúteis, enquanto testemunhavam a armadura forte de Ellen se derreter em meio as chamas que a consumiam. Ao contrário de Merritt, não conseguiram ver a obviedade das próximas palavras de Oliver, muito menos o que elas representavam para o já destruído psicológico da garota em chamas.

— Eu te amo, Ellen.

Por mais que tudo se desenrolasse em uma velocidade aterrorizante, os olhos de Peter visualizaram a cena em câmera lenta: um grito agudo de agonia escapou da garganta de Ellen quando ela desabou no chão. Assim que o corpo dela tocou o solo, o círculo de fogo explodiu.

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Seu cérebro ainda não tinha processado o cenário quando ele se jogou na frente de Oliver, projetando toda a energia que conseguiu reunir na direção das chamas, formando um escudo poderoso que os protegeu da morte. Não sabia de onde a raiva tinha surgido, mas tal fato não importava naquele momento. Nunca tinha sentido tanto poder correndo em suas veias e, principalmente, nunca tinha sentido tanta dor em sua vida inteira. Teve a nítida impressão de que seu cérebro poderia explodir em mil pedaços bem ali, no meio do galpão.

Porém, ao invés de desabar no chão como seu corpo tinha vontade de fazer, ele tomou coragem e deu alguns passos à frente, arrastando o escudo consigo. Tinha que conseguir conter aquela coisa. Precisava proteger os amigos, precisava proteger Wendy. Uma pequena parte da felicidade ainda habitava seu corpo, mas a raiva a anulava cada vez mais. Mal percebeu quando Oliver voltou a ficar ao seu lado, os olhos amedrontados procurando cabelos ruivos em meio às chamas.

De súbito, o ambiente à sua volta mudou.

Não entendeu muito bem como aconteceu, mas as coisas passaram a perder o foco. Sentiu tudo girar momentaneamente e sua visão começou a ficar turva. Nesses poucos segundos, a horrenda dor de cabeça também se extinguiu. Do mesmo modo que viera, ela se fora, rápida e sem qualquer justificativa. Apesar da visão desfocada, Peter nunca tinha experimentado uma sensação tão clara e grandiosa na vida. Comparava-se ao círculo de fogo de Ellen, mas dentro de si: era como se o poder estivesse se expandindo dentro de seu corpo, ficando cada vez maior.

Ele só não esperava que, tão clara quanto aquela sensação, fosse ser a voz de Ellen ecoando em sua cabeça.

Oliver, Oliver, Oliver, dor, dor, dor, chamas, em todo lugar, eu sou a culpada, é culpa minha, eu machuquei Oliver...

O tom de voz da ruiva estava carregado de dor e sofrimento. Ele podia sentir a fraqueza dela dentro de si, a dor se espalhando pelo seu corpo, a mágoa por ter ferido alguém que amava. Sentia o corpo frágil caído no chão, sendo consumido pelo fogo que não a deixava em paz. Sentia o poder descontrolado correr pelas veias, o coração acelerado enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos como gotas de cera.

Sentia-se destruído.

Sentia-se destruído, porque Ellen estava destruída.

Porque bem ali, no meio daquele galpão abandonado, ele se viu dentro da mente perturbada da ruiva.

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