Capítulo 14 ― Despertar (Parte 2)

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Robbie percebeu que havia alguma coisa errada assim que abriu a porta de seu quarto, vestido com um short folgado e uma de suas usuais camisetas brancas, logo depois de ter feito seu lanche das dez horas. A cama estava bagunçada e as coisas de Wendy haviam sumido.

Ou melhor: Wendy havia sumido.

Ele franziu a testa enquanto passava os olhos muito azuis pelo quarto, inspecionando cada detalhe. Por manter seu quarto meticulosamente organizado desde que melhorara suas habilidades, não demorou a perceber os rastros deixados pela moça: os lençóis estavam em completa desordem, as roupas com as quais ele a vestira estavam amassadas no chão e a cadeira na qual tinha deixado as coisas dela estava encostada na parede, prestes a cair. O cheiro de bebida reinava no ambiente que, em dias normais, carregava a essência dele.

Aquilo não fazia nenhum sentido para Robbie. Andou pelo quarto arrumando o que ela deixara fora de lugar, tentando achar alguma explicação coerente para o fato de Wendy ter saído sem, ao menos, um aviso prévio. Ela não havia sequer deixado um bilhete rabiscado às pressas como ele mesmo costumava fazer quando saía de casa sem falar com seus avôs. Repassou a cena da madrugada em sua cabeça, enquanto espirrava um pouco de perfume pelo quarto esperando que aquele odor desaparecesse.

A loira tinha aparecido em sua casa às quatro e quinze da manhã, completamente ébria, resmungando coisas que não faziam o menor sentido. Ela tinha desmaiado em seus braços e ele, como o bom amigo que era, fez o mesmo que fizera com Ellen na noite que a ruiva passara ali, no mesmo estado embriagado que Wendy. Tirou as roupas de festa dela ― por sorte, ela estava usando o traje para esconder as asas, então ele não chegou a ver um centímetro de pele que não deveria ― e a vestiu com suas peças folgadas de dormir. Acomodou-a em sua própria cama do melhor jeito que pôde e foi dormir no quarto de hóspedes por respeito ao estado dela. Robbie não se sentia tão confortável com Wendy como se sentia com Ellen. Havia algo estranho no modo como ela olhava para ele, uma mistura de carinho com algo a mais.

Ele congelou no lugar onde estava, o braço erguido no ar enquanto espalhava perfume pelo local. Uma mistura de carinho com algo a mais... O que ela havia dito durante a madrugada? Ele a estava machucando?

Então, tão rápido quanto suas pernas corriam pelas calçadas de Chicago, os pensamentos voaram em sua cabeça. As expressões admiradas de Wendy quando ele falava sobre suas memórias de infância antes de os pais partirem, a recusa dela em tocar no nome de Peter, a necessidade constante que tinha da atenção total dele enquanto estavam juntos, o jeito como a voz dela ficava carregada de desprezo quando falava de Savannah, o modo como tinha olhado para ela quando se conheceram no dia anterior, a pressa em sair da casa dele como se nada tivesse acontecido...

Puta merda. Ele tinha entendido tudo errado. E, aparentemente, Wendy também.

Largou o vidro de perfume em cima de sua mesa de estudos e trocou o short por uma calça jeans, jogando uma camiseta quadriculada por cima da branca que já usava. Ao pegar o celular para colocar no bolso, descobriu que havia uma nova mensagem de Ellen e uma ligação perdida de Marilyn.

Adivinha só?, a mensagem de sua melhor amiga dizia. Ganhamos um treino extra no primeiro dia do recesso de Natal. Quem precisa dormir mesmo, né? Começa às onze. Não se atrase.

Robbie sentiu que precisava falar com Ellen e Oliver antes do treino começar. Só os amigos poderiam lhe ajudar e dizer com todas as letras que estava ficando louco. Sem pensar muito, colocou o primeiro tênis que achou ― não eram os que Marilyn havia lhe aconselhado a usar, mas ele tinha lavado seus tênis de corrida mais cedo e estes ainda estavam secando na parte de trás de sua casa ―, pegou sua mochila com a roupa de treinamento e saiu correndo em um ritmo normal de casa, gritando para os avôs que estava indo para a casa de Oliver.

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