Capítulo 6 ― Segredo (Parte 1)

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Wendy começou a se esticar para tentar aliviar as dores que sentia pelo corpo e levantou de sua cama, ainda tentando se acostumar com as suas novas "amigas". Ela dormira sem a blusa do pijama, como vinha fazendo desde que as asas tinham começado a crescer e a lhe dar problemas.

Há uma semana, Wendy estava dormindo mal em virtude delas, vivendo na cama para escondê-las de sua mãe, se cobrindo com o lençol a todo o tempo para esconder sua nudez. A verdade era que estava vivendo um pesadelo. O fato de olhar no espelho e parecer radiante cercada por duas asas majestosas não significava que aquilo era a coisa mais fácil do mundo. Ela não conseguia sequer usar um sutiã do modo correto.

No sábado, tinha descoberto que não estava sozinha. Agora, na segunda, todo o conforto que sentira havia ido embora. Peter, Oliver, Ellen e Robert não tinham sofrido nenhuma mudança física. Ela era a única que tinha ganhado de presente duas asas gigantes e, o pior, não era como se pudesse usá-las. Sair voando por aí estava fora de cogitação. Para que ia usar aquilo?

Balançando a cabeça em negação, ela se dirigiu ao banheiro para tomar um banho - com dificuldade, é claro, era muito difícil realizar o ato com suas "amigas" lhe atrapalhando - e, após isso, resolveu tentar se trocar para ir à escola. Perdera uma semana inteira de aulas e isso não seria lá muito bom para seu histórico, visto que, até então, tinha sido uma aluna exemplar sem nenhuma falta. Era Outubro e o ano letivo ainda estava relativamente no começo, porém Wendy sabia que era importante se manter em dia no início para não se atrapalhar depois.

Depois de separar algumas peças de seu guarda-roupa, ela começou a tentar se vestir. Coisas comuns e fáceis para todo mundo, como tomar banho, trocar de roupa e dormir em uma posição confortável, tinham se tornado extremamente complicadas para Wendy. Ela estava tendo que se adaptar a fazer tudo de novo e não se sentia nada bem em ter que lidar com aquilo sem a ajuda da mãe, que sempre estivera lá para lhe dar apoio. Todavia, imaginava que seria melhor guardar segredo. Não sabia como Tina reagiria àquilo tudo e queria poupar sua mãe de mais preocupação.

Pegando o sutiã que havia separado, Wendy tentou, tentou e tentou mais algumas vezes arrumá-lo corretamente sobre seus seios, porém não obteve sucesso. Ela grunhiu e o atirou longe, empurrando as roupas para fora da cama, jogando-se na mesma apenas para se arrepender um segundo depois. Suas asas foram esmagadas por seu próprio corpo, fazendo com que ela sentisse várias pontadas de dor nas costas. Gemeu com o incômodo, tentando achar uma posição mais confortável no colchão e puxando o cobertor para cobrir sua nudez e suas "amigas". Encolheu-as da maneira que tinha aprendido depois de muito observá-las. Ainda não tinha total controle sobre elas, porém já sabia algumas coisas. Juntas, suas asas poderiam ficar ocultas sobre o lençol sem que sua mãe pudesse vê-las.

No sábado, tinha conseguido vestir-se de manhã com um esforço sobrenatural e depois tinha tido uma ajuda inesperada de Ellen. Agora, ela se sentia cansada demais para aquilo. Fechou os olhos e, quando estava quase conseguindo adormecer, ouviu sua mãe gritar da porta:

— Hora de acordar, fadinha!

Wendy já sabia o que vinha depois disso. Sua mãe pensava que ela já estava saudável outra vez e isso significava que teria que ir à escola. Com um suspiro, ela verificou se suas asas estavam bem escondidas - ainda bem que sua cama era um pouco maior do que as camas de solteiro, possuindo um espaço suficiente para que seu pequeno segredinho não fosse percebido embaixo do lençol - e fingiu estar dormindo. Passados os cinco minutos de praxe, Tina entrou em seu quarto e foi abrir as cortinas. Porém, antes que ela pudesse puxar os lençóis, Wendy abriu os olhos e, colocando sua melhor expressão doente, murmurou em uma voz propositalmente falha:

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