Sete dias depois
Assim que o despertador de Peter tocou, ele forçou-se a erguer o braço para desligar o aparelho e fazer parar aquele barulho irritante. Rolou mais alguns minutos na cama, sabendo que ainda estava dentro do horário aceitável. Porém, assim que percebeu que não podia enrolar por muito tempo, decidiu se levantar logo.
Como fazia todos os dias, afastou seu cobertor, colocou os pés para fora da cama e ficou em pé de uma vez só. Ou pelo menos teria ficado, se houvesse chão para pisar. O garoto mal acreditou quando se viu despencando de sua cama em direção ao solo. Isso mesmo: ele estava despencando. Porque, como se estivesse em um show de mágica ou em algum filme de ficção científica, a cama de Peter Cartwright estava flutuando, quase batendo no teto do quarto. Sua mesa de cabeceira, a mesa de estudos, o guarda-roupa, até as coisas que ele deixava espalhadas pelo chão... Tudo estava no ar.
Com um estrondo, Peter caiu de mau jeito no chão, soltando gemidos de dor pela queda de considerável altura que tinha acabado de sofrer. Junto com ele, todos os móveis de seu quarto voltaram ao solo, emitindo um ruído razoavelmente alto ao atingirem o piso.
Merda.
― Pete? Está tudo bem aí? ― ouviu sua mãe berrar do andar de baixo. Ainda atordoado e sem saber o que fazer ou como diabos sua cama tinha ido parar quase no teto, ele gritou em resposta:
― Tá tudo bem, mãe!
― De onde veio esse barulho, Pete? ― seu pai quis saber e ele ficou apavorado. Certamente não poderia dizer que era a mobília do seu quarto despencando de uma altura superior a dois metros. Não era como se coisas daquele tipo acontecessem todos os dias em todas as casas.
― Eu caí da cama, pai! Mas não foi nada demais, podem relaxar.
― Tem certeza, querido? Eu posso subir aí e... ― ele ouviu passos começo da escada e bufou em frustração.
― Não! Tá tudo bem comigo, não preciso de ajuda! ― praticamente gritou, sentindo-se um pouco mal por repelir sua própria mãe daquele jeito.
Maldito ônibus. Maldito motorista. Maldito acidente. Desde aquele fatídico dia, seus pais (em especial sua mãe, é claro) se tornaram um pouco mais (paranóicos) preocupados que o normal. Ele não podia fazer nada sem que os dois quisessem saber se estava bem, se ia para algum lugar, para onde e com quem ia, que horas ia voltar e mais mil coisas. Aquilo estava o deixando imensamente frustrado, já que era educado o suficiente para prender o "por favor, eu não tenho mais cinco anos de idade" que ecoava em sua cabeça toda vez que precisava encarar outro interrogatório.
Forçando-se a tirar aquilo da cabeça, Peter observou seu quarto cautelosamente. Cada centímetro, cada canto... Nada escapou os olhos azuis intrigados que dissecavam o ambiente em busca de uma resposta coerente para aquela ― ele não tinha nem palavras, por Deus ― bizarrice que tinha acabado de acontecer. Assim que percebeu que estava tudo em seu devido lugar, acabou por convencer a si mesmo de que talvez ainda não tivesse acordado direito. Talvez fosse só um sonho, uma ilusão de sua cabeça ou um devaneio matinal.
É, relaxa, Pete, tá tudo certo, foi o que ele pensou antes de se dirigir ao banheiro para realizar sua higiene matinal. Mal ele sabia que aquela manhã mudaria toda sua vida.
[...]
Alguma coisa estava queimando.
Foi o primeiro pensamento consciente que Oliver teve naquela manhã. Um pensamento estranho, aliás. Seu quarto era o último do corredor do segundo andar da casa. O cheiro do café-da-manhã nunca alcançava aquele cômodo. Então, de onde vinha aquele cheiro?
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POWER
Teen FictionP O W E R conta a história de Peter Cartwright, Oliver Fleshwood, Wendy McGarden, Ellen Fawkner e Robert Johnson, cujas vidas passam a se interligar profundamente a partir de um acidente em uma excursão escolar. Aos poucos, os cinco começam a sentir...