Capítulo 16 ― Sequestro (Parte 1)

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Apesar de seus olhos estarem fechados, uma dor profunda os acometia. Seu corpo estava torto, e suas costas e pescoço doíam tanto quanto seus olhos: apesar de seu pouco tamanho, o lugar no qual se encontrava era obviamente pequeno demais para ela. Tentando se manter o mais imóvel possível enquanto sua cabeça trabalhava para voltar ao normal, ela forçou o cérebro a acordar do torpor inesperado que tomava conta de si.

Passados alguns minutos, Ellen finalmente conseguiu processar o que havia acontecido. Ela tinha deixado o galpão no intuito de evitar outro iminente confronto com Wendy, andado na direção do carro de Oliver e se encostado ali para esperar que o namorado retornasse, uma vez que ele não deveria demorar muito tempo. Estava mexendo em suas unhas pintadas de preto quando uma pessoa encapuzada surgiu de absolutamente lugar nenhum e pressionou um pano molhado em seu rosto. O álcool impregnado no tecido pareceu queimar suas narinas, fez sua cabeça girar e, antes que um grito de desespero pudesse deixar seus lábios ou o fogo pudesse dominar seu corpo, ela perdeu a consciência.

Agora, enquanto a recobrava lentamente, se esforçava ao máximo para entender o que havia acontecido, mas as perguntas eram muitas e duvidava que possuísse respostas a todas elas. Se fosse ser sincera, era difícil até mesmo responder as mais básicas... O que dizer daquelas para as quais não possuía nenhum palpite?

Onde estava? Quem a levara até ali? E por qual motivo? O que pretendia fazer com ela? Será que sabia o que ela podia fazer? Pretendia matá-la? Ela morreria naquele dia? Ou levaria mais algum tempo?

Nunca passou pela cabeça de Ellen a ideia de morrer aos dezoito anos de idade. Apesar de saber que aconteceria eventualmente, toda vez que pensava sobre a morte, um cenário fixo aparecia em sua cabeça: ela, com cabelos grisalhos substituindo os ruivos, sentada em um sofá ao lado de Oliver, cujos cabelos estariam da mesma cor que os seus. Os dois estariam de mãos de mãos dadas, casados há anos, com os filhos já crescidos e morando fora de casa. Ela teria feito tanto sucesso como escritora quanto ele na área de informática e os dois teriam vivido a melhor das vidas, sempre lado a lado, sendo um o companheiro do outro e tendo amor em cada um dos dias que viriam a viver. Ela, independente de quantos filhos tivesse, passaria ao lado deles todos os minutos que fossem possíveis, ao contrário do que sua mãe havia feito quando lhe deixara.

Porém, aquele cenário jamais viria a se concretizar caso morresse ali. Ao contrário, ela teria uma lápide indicando uma idade curta, sem mais nada. Provavelmente, apenas seu pai, Oliver, Robbie e Peter iriam ao funeral. Talvez Merritt e Marilyn. Ela não havia marcado a vida de ninguém; ao contrário, passara seus dezoito anos afastando as pessoas tanto quanto fosse possível. Menosprezara toda e qualquer companhia, se recusara a sentir algo pelas pessoas e apenas agora podia visualizar o quão sozinha era. Robbie era o primeiro amigo que fizera em toda sua vida e podia dizer com certeza que não entendia sequer o motivo de Oliver ainda continuar com ela. Era apaixonada por ele, e sabia que ele podia ter alguém muito melhor que ela. Para começo de conversa, poderia ter alguém que não repelisse qualquer um que chegasse perto de seu espaço pessoal. Poderia ter alguém tão inteligente quanto ele, alguém que soubesse conversar sobre tudo, alguém agradável... Mas ele havia escolhido ficar com ela. Havia escolhido insistir até conseguir quebrar sua proteção, havia escolhido insistir até que ela finalmente se rendesse ao sentimento e aceitasse amá-lo tanto quanto ele dizia amá-la.

Antes de conhecê-lo, quando Ellen via casais apaixonados pelos corredores da escola ou andando pela rua, ela sempre repetia, dentro da própria cabeça, que jamais teria aquilo para si. Jamais teria alguém para se preocupar com ela, olhar para ela com amor ou planejar um futuro com ela. Jamais teria alguém para dizer palavras doces nos momentos difíceis ou que se sentisse confortado com sua mera presença. Não teria fotos bonitinhas para colocar em porta-retratos ou um par para o baile de formatura. Aquela era sua realidade: ela terminaria sozinha. Talvez adotasse uma criança quando fosse mais velha para que tivesse a oportunidade de ser mãe, mas, caso não adotasse, terminaria tão solitária quanto se pode ser.

Mas naquele momento, enquanto considerava sua provável morte, a única coisa que poderia pensar era que, tudo bem, ela não teria uma festa de formatura ou o cenário dos cabelos grisalhos. Mas havia tido alguém. Ou melhor, havia tido Oliver. Ele era tão dela quanto ela era dele e, juntos, haviam compartilhado preocupações, olhares amorosos, palavras doces em momentos difíceis, silêncios confortáveis e fotos bonitas em porta-retratos e, o mais importante, compartilharam diversos planos para um futuro que pretendiam passar um ao lado do outro.

Ele era inegavelmente apaixonado por ela, e Ellen tinha tanta certeza daquele sentimento quanto tinha do seu próprio. Amavam-se, talvez até mais do que fosse aconselhável, considerando que ambos tinham dezoito anos e nenhuma certeza a respeito de um futuro.

Onde estaria Oliver naquele momento? Será que já havia percebido que ela se fora? Estaria bem? Choraria a morte dela?

Apesar da maior parte de sua mente gritar pelo namorado, jamais conseguia tirar o rosto de Lennon de seus pensamentos. Se ela morresse, como seu pai reagiria? Escreveria livros em sua homenagem? Conseguiria superar sua morte ou apagaria por completo qualquer evidência como fizera quando sua mãe partira? Será que ele se casaria com Tina McGarden?, ela se perguntou. Lennon já tinha superado tantos obstáculos e diversidades em sua vida

E Wendy... Será que assumiria seu lugar no coração partido de seu pai, em sua casa e tomaria seu quarto como dela? Talvez até voltasse para Oliver, agora que o relacionamento com Peter havia acabado. Ou não. Talvez lamentasse sua morte. Ou não. Talvez se arrependesse do que tinha lhe dito, como a própria Ellen se arrependia naquele momento. Ou não.

Ela nunca saberia.

Porém, todas as suas conjecturas foram interrompidas por uma voz. Uma voz quase infantil, com um timbre inocente, mas com uma malícia quase palpável.

― Você já pode abrir os olhos, Ellen. Eu sei que você já acordou, querida.

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Att (10/06): NEM ACREDITO QUE ESSE CAPÍTULO CHEGOU. VOTEM E ME DIGAM O QUE ESTÃO ACHANDOOOOOO, PELO AMOR DE DEUS!!!!!! Já tô meio cansada de implorar comentários aqui, mas vou continuar pedindo do mesmo jeito, porque ainda tenho esperança de quem não comenta sentir piedade da minha alma e resolver me dizer o que achou antes de eu passar a regular posts por causa disso.

Volto com a próxima parte e a revelação depois que vocês votarem e comentarem! ;)

Beijossss xx

P.S.: Sim, eu ainda tô atrasada com as respostas pros comentários, mas me desculpem, pfvr, não desistam de mim.

POWEROnde histórias criam vida. Descubra agora