23- Destiny

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Loucura? Pode até ser, mas lá estava eu às quatro da manhã, sentado numa mesa de bar em um lugar completamente desconhecido, bebendo e conversando abertamente com o carinha de anjo que eu acabara de conhecer.

Quem diria que o cara possivelmente foi meu vizinho na infância, e tinha tantas outras coisas em comum comigo?

Não sabia se eu me assustava com tanta coincidência ou com o fato de eu estar adorando.

- Então, Jungkook... - me mexi na cadeira, fazendo menção de levantar - Eu preciso ir, infelizmente. Como eu te disse, segunda-feira é o meu primeiro dia na escola nova, e eu nem sei bem onde ela fica...

- Ah é. - ponderou, levemente mais bêbado do que eu - Você mencionou a escola nova... Onde mesmo você vai estudar?

- Não sei se você já ouviu falar na Cathedral...

- Se eu já ouvi falar? - ele se empolgou, batendo na mesa - Eu estudo lá!

- Mentira!? - arregalei os olhos.

- Verdade! - exclamou, começando a rir.

Segui sua risada, encantado com seu jeito.

- Meu Deus, mais uma coincidência. - refleti, pondo as mãos sobre a cabeça - Que louco!

Sua risada cessou de repente, e notei um sorriso muito sugestivo na minha direção, seu olhar perfurava a minha alma e isso me incomava.

- Você acredita em destino, Park Jimin? - semicerrou os olhos.

Assenti, me mexendo na cadeira.

- Então, você acredita que nós ainda vamos nos ver depois de hoje? - continuou o questionário.

- Eu espero sinceramente que sim.

Ficamos nos encarando por um tempo. Ele deu um ar de riso, e eu não pude evitar sorrir também com a sensação de que estava derretendo por dentro.

- Se eu te deixar ir embora agora... - concluiu - Eu vou me arrepender? Ou eu vou poder dormir em paz, sabendo que a noite de hoje não será apenas uma lembrança boa?

Dei uma risadinha de leve. Tenho certeza que meu rosto estava vermelho.

- Você fala de uma forma tão bonita. - suspirei involuntariamente - Parece um romântico.

- Talvez eu seja... - arqueou uma sobrancelha, tentando disfarçar o sorriso - Só talvez.

Respirei fundo, aquilo não estava nada certo. Eu estava aceitando o flerte de um cara que eu nem conhecia! Que errado, Jimin! Errado. Errado...

Me levantei de súbito, pegando alguns dólares na carteira e deixando encima da mesa.

- Tchau Jungkook. - mordi o lábio inferior, e tentei sair rapidamente.

- Espera Jimi... - ele levantou na intenção de me impedir, mas parou, se apoiando na mesa com a cabeça baixa, aparentemente se sentindo tonto.

- Droga Jungkook! - praguejei num sussurro, voltando depressa para ajudá-lo.

O segurei pela cintura, dando tapinhas de leve em seu rosto para que abrisse os olhos.

- Jeonggukie? - chamei baixinho.

Ele sorriu, ainda de olhos fechados. Suspirei aliviado, pelo menos ele não ia desmaiar. Ainda.

- Eu esqueci de pegar seu número. - riu.

Revirei os olhos.

- Você consegue ir embora sozinho? - perguntei sem esperanças de obter uma resposta positiva - Se eu te puser num táxi?

- Não se preocupa comigo. - riu, passando as mãos pelo rosto na tentativa de se recompor - Eu moro perto, não preciso de táxi.

- Andando é que você não vai, nesse estado! - decidi por ele.

- Fine! - brincou.

Enrolei seu braço em volta do meu pescoço, e me esforcei a guiá-lo até o ponto de taxi no início da rua.

- E seu telefone? - jogou outra vez, quando o joguei dentro do táxi - Eu não vou conseguir mesmo?

Ri, tornando a revirar os olhos.

- Esqueceu que eu acredito em destino? - brinquei - A gente não pode interferir no trabalho dele, não é mesmo?

Ele piscou um olho, sorrindo de lado. Eu bati a porta do carro, e ele deu a partida.

Eu devo ter continuado sorrindo os cinco minutos seguintes, até eu me dar conta de uma coisa muita séria.

Olhei para os lados, e o desespero bateu ao me lembrar que eu não estava mais na Coréia! Aquele não era o lugar onde eu nasci e fui criado, não era o lugar que eu conhecia de olhos fechados. Eu não sabia voltar pra casa.

- Pensa Jimin... Pensa cara! - falei sozinho, olhando em volta - Aish, se apenas eu soubesse falar inglês!

Sem escolha, entrei num táxi e usei o mesmo método que usei quando cheguei no aeroporto e aquele irresponsável do meu colega de quarto não tinha ido me buscar.

- Destiny? - perguntou o motorista.

- Ah... Sir... Please... - tirei da carteira o papelzinho que dizia o nome da rua e o número do prédio - Can you...? Ah... Street-ah...

- Let me see it. - o homem pegou o papel da minha mão ao ver que eu não conseguiria pronunciar - Oh, alright.

Ele me devolveu o papel depois de ler, e deu um ar de riso, negando com a cabeça. Cruzei os braços, fechando a expressão. Me senti humilhado. "Às vezes eu queria ter um Namjoon portátil" - pensei, suspirando de saudade do meu primo.

Na verdade, se eu soubesse o caminho, não precisaria nem de condução. Logo eu estava de volta ao meu prédio, o único lugar que eu conhecia nessa bendita América.

Suspirei fundo ao sair do elevador e ver a porta do meu apartamento.

- Home, sweet home. - ri ao pronunciar uma das poucas frases que eu sei em inglês.

Entrei em casa, com a única intenção de tomar um banho e dormir até não aguentar mais ficar deitado, mas meus planos foram adiados, pois alguém já estava tomando banho. Vi roupas jogadas encima do sofá, um par de tênis no canto da porta e um celular encima da mesinha.

- Ah, então o safado resolveu aparecer em casa. - resmunguei amargurado.

Ouvi a porta do banheiro sendo aberta, e me preparei pra conhecer a cara de pau do meu colega de quarto fantasma, mas quando ele finalmente apareceu...

Ele gritou ao me ver.
Eu gritei ao vê-lo.

- O que você está fazendo aqui? - exclamei, começando a ficar nervoso.

- Eu moro aqui! - respondeu Jungkook, parecendo tão assustado quanto eu - E você? O que você está fazendo aqui?

- Bom... Eu também moro aqui... Não pode ser. - ponderei, rindo da situação.

- Então, você é o meu colega de quarto fantasma? - concluímos em uníssono.

Ok, coincidências existem, mas aquilo já estava ficando ridículo.

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