O vagão estava praticamente vazio, apenas Yoongi encolhido num canto e uma senhora dormindo uns dois metros à frente.
O rapaz observava pela janela, com o olhar totalmente perdido, a paisagem que corria diante de seus olhos. Sentiu certa raiva de si mesmo ao perceber as lágrimas correrem por seu rosto sem controle algum, estava em público, mesmo que sozinho, não podia fraquejar assim.
Desceu do trem e caminhou sem direção até chegar à sua casa. A casa onde cresceu, a casa onde iria morrer, seu destino, sua maldição.
Seu coração batia descompassado, sua respiração era irregular, sua visão já estava turva e suas pernas mal aguentavam o próprio peso de seu corpo.
Seu estômago embrulhou ao olhar em volta e ver tudo exatamente como sempre foi. A visão de todos os seus momentos ali dentro lhe atingiram como uma bala bem no coração, o coração que já parecia não servir pra mais nada.
Instintivamente foi direto até o armário da cozinha, onde sempre havia um considerável estoque de bebidas.
Pegou uma garrafa de soju e encolheu-se num canto da sala, abraçando a garrafa como se fosse algo muito valioso ou um amigo querido. Pegou o celular e discou o antigo número de Jungkook, o número que o mais novo usava quando morava com ele.
"Este número não existe" - disse a voz robótica. Uma lágrima escorreu pelo canto de seu nariz, passando direto pela boca e pingando através do queixo.
Começou a passear por sua lista de contatos e parou onde tinha o número de Taehyung. Seu dedo intencionou a opção algumas vezes, mas parecia que algo o impedia, então apenas largou o celular no chão e abriu a garrafa, tomando grandes goles num ato de desespero enquanto as lágrimas saltavam de seus olhos. Desejou não existir mais, a cada gole desejava mais nunca ter existido.
~*~**~*~
Eram quase 21:00h quando Seokjin chegou da aula de japonês. A casa estava escura e silenciosa, o fazendo pensar que não havia ninguém.
Exausto, largou a mochila no chão da sala e foi direto à cozinha na intenção de afogar seu estresse em comida, mas ao se aproximar percebeu uma pequena luz e alguns suspiros angustiados. Diminuiu assim seus passos, entrando no cômodo tão suavemente que sequer fora notado por seu irmão que estava sentado na bancada de mármore, com os olhos focados na tela do celular e digitando rapidamente como se discutisse com alguém por mensagem.
- Minjae, eu não estou te pedindo nada demais. - falou finalmente o loiro, via áudio. Sua voz claramente carregava extrema agonia - Só diz pro Yoongi me ligar quando você encontrar com ele, tá? Só isso.
Quando Taehyung desligou o celular, se assustou ao dar de cara com Seokjin encostado no batente da porta da cozinha, o observando atenciosamente.
- Ai hyung, que susto! - exclamou, descendo da bancada num pulo - Parece um fantasma!
- Já viu fantasma bonito assim? - brincou, tentando amenizar a tensão que sentia em seu irmão.
O mais novo o ignorou, passando por ele e caminhando apressadamente em direção à escada.
- Esse Minjae que você estava falando é o mesmo que estudou com a gente? - Seokjin não se aguentou de curiosidade.
- Ih! Fofoqueiro. - esbravejou, interrompendo seus passos.
- Eu só me preocupo com você, peste!
- Não tem nada com o que se preocupar. Eu estou bem.
- Estou vendo que você está ótimo! A essa hora, no escuro, na cozinha... Ei, nós somos irmãos, cara. Vai ficar me escondendo seus problemas?
