Cara a Cara

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Segunda-feira chego ao trabalho e meu chefe entra na minha sala logo atrás de mim.

- Bom dia Cecília, como foi seu final de semana?

- Foi bom Sr. Ramirez, e o seu?

- Foi ótimo! Mas o motivo da minha visita tão cedo é outro. Eu quero que você cuide da conta de um grande amigo meu. Ele tem muitos negócios e precisa de um contador que dê atenção em tempo integral, por isso resolvi passar para você, que é a profissional mais competente da empresa.

- O Sr. vai me passar os detalhes da conta?

- Esta tarde te chamarei na minha sala para que você possa conhecer o cliente. Mas aqui está a pasta com todas as informações para que você dê uma olhada antes da reunião.

-Ok. Até mais tarde então!

-Até! Boa sorte com as declarações Cecília, serão suas últimas, agora você subiu de nível.

Meu chefe me deixou sozinha e eu resolvi ler um pouco sobre o figurão. Seu nome é Raul Garra, filho único, herdou a empresa de engenharia de seu falecido pai. Uma empresa grande.

"Com certeza um velho chato podre de rico". – Pensei - "Não era Raul o nome do amigo da Bárbara? Pena que não deu tempo de conhecê-lo".

Hoje eu saí de casa com uma saia lápis preta justa, uma blusa branca de cetim e scarpin. Gostaria mesmo de estar menos sexy, mas agora é tarde demais. Está na hora da reunião e eu fico tensa, pois é minha primeira conta grande. Olho no espelho e penso que com esses meus óculos quadrados e rabo de cavalo posso conseguir impressionar esse velhote sem que ele olhe para as minhas roupas. Meu chefe com certeza espera que eu dê o meu melhor. Bato na porta e entro na sala de reuniões. De costas para a porta está um homem alto, moreno e me parece bem mais jovem do que imaginei.

- Que bom que chegou Cecília! Este é meu amigo e nosso cliente, Raul Garra – Diz o Sr. Ramirez.

Então o homem se vira e minhas pernas amolecem. "É ele!"

O moreno alto, gostoso e perfumado está na minha frente agora. Ele sorri, estende a mão e pega a minha cumprimentando com um beijo. Só de sentir seu toque meu corpo respondeu com muito calor. Estou sem palavras, de novo! "Abre a boca e fala 'Olá'". – Pensei, mas não disse nada.

Sento-me ao seu lado, de frente para meu chefe. Então eles começam a falar sobre os negócios e Raul explica todos os detalhes, como se nunca tivesse me visto antes. Isso me perturba.

Não me concentro em nenhuma palavra, fico pensando se ele me reconheceu. Eu fugi no outro dia, mas gostaria de saber o que teria acontecido se eu tivesse ficado.

Sou puxada dos meus devaneios e o Sr. Ramirez me diz que nos deixará a sós para que possamos discutir os detalhes necessários. Eu olho para meu chefe com olhar suplicante, mas antes que ele pudesse perceber que eu o olhava, saiu e nos deixou na sala.

Assim que Sr. Ramirez saiu, ficamos em silêncio, não consigo olhá-lo, mas sei que está me encarando. Então ele fala:

- Quero exclusividade.

Não entendo o que ele quis dizer então olho para ele.

- Você será somente minha!

Ainda não entendi, ou pelo menos finjo que não entendi.

- Tenho clientes de anos, não posso deixá-los de uma hora para outra, tenho que passar essas contas para outros contadores progressivamente. Creio que nesses termos não poderemos trabalhar juntos. Vou avisar o Sr. Ramirez para que lhe encontre outro profissional.

Amor TardioOnde histórias criam vida. Descubra agora