Como não ceder?

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Mesmo com o coração em pedaços não vou ceder. Começo a passar por ele devagar para não acordá-lo, mas meus saltos fazem barulho no chão e ele acorda sonolento.

- Princesa - ele me olha assustado - onde você está indo? - Levanta rápido.

- Bom dia Raul, estou indo trabalhar. - Viro e começo a andar. Ele me segura.

- Por favor Cecília, não vá assim, vamos conversar. - Me viro e olho para ele.

- Não tenho nada para te falar, mas tenho muito que escutar, pode começar. - Ele me olha perdido.

- Princesa não é nada disso que você pensou. Eu...eu...não queria te incomodar. Aquele dia você estava dormindo como um anjo, não queria que se preocupasse. Aquela mulher apareceu aqui em um estado deplorável, a mandei embora na mesma hora e não vi que ela deixou a jaqueta aqui, deve até ter sido de propósito, mas você encontrou e entendeu tudo errado. Então hoje fui falar com ela para pedir pra não vir mais aqui e não me procurar, nunca mais. Você estava lá e nem me olhou direito. Você nem me olhou. Caramba, você não deu a mínima para mim. Você entende agora? Viu que não era nada demais?

- Se não era nada na época por que não me disse na hora? Por que esconder? Realmente eu te vi, vi ela te tocar, vi você chegar de braços dado com ela, a vi beijar seu rosto ao sair. O que eu vi, foi muita intimidade de uma pessoa que você diz que pediu pra não voltar mais Raul, e realmente não falei com você, afinal você não estava falando comigo. Primeiro não se deu ao trabalho de me explicar nada, depois não me avisou que tinha um almoço com sua amiga - faço sinal de aspas com a mão - então Raul não me cobre nada sobre conversa. - Ele ficou assustado.

- Princesa não é por aí. Entenda, só não queria te incomodar com coisas bobas. Iria resolver tudo para nunca mais acontecer isso.

- Raul, tenho que ir, essa conversa não vai dar em nada, só vou me atrasar e você também. Quer saber, não acredito no que disse, mas deixa pra lá. Só vou te dar um aviso Raul, não tenho paciência pra isso. Se isso acontecer novamente, vamos ter uma conversa muito séria. Agora tenho que ir.

Viro as costas e começo a sair, ele agarra meu braço.

- Princesa, vou te provar que não era nada, você vai acreditar em mim.

- Que seja Raul.

- Agora, por favor, não faça isso comigo, não se separe de mim. Você acabou comigo essas duas noites, por favor, não durma mais neste quarto mesmo se eu for um completo imbecil no futuro, não consigo ficar longe de você. - Raul me abraçou forte eu fiquei sem reação. - Por favor Princesa, me abraça.

Eu também senti muita falta dele essas noites.

- Você está bem comigo? estamos bem?

- Sim Raul, vamos deixar como está.

- Tudo bem, obrigado.

- Agora preciso ir. - Beijo seu rosto e saio.

Raul não me para agora mas sinto que me observa até eu sair do seu alcance. Realmente ainda estou chateada com ele, mas não adianta nada eu brigar.

Estou morrendo de fome, isso me faz lembrar o Pedro, a convivência com ele está me deixando mal acostumada. Como Carlos sabia que dormi aqui, ele já estava pronto para me levar até a empresa. Antes passo em uma confeitaria, compro algumas guloseimas para mim e Pedro. Ele vai amar, é uma criança grande, adora doces. Chegando à empresa vou para minha sala deixo minha bolsa e vou à procura de Pedro. Paro a sua porta e ele está em uma ligação, então espero ele terminar. Assim que ele me vê faz sinal para esperar. Quando termina vou logo falando:

- Preciso de companhia para um café. Comprei muita comida e não tenho com quem dividir. -Levanto o saco que estou carregando para ele ver, seus olhos brilham.

- Como assim? Sabe que estou sempre aqui para tudo, principalmente te economizar uma fadiga nessa busca incessante de alguém para comer açúcar. Ele já está vindo em minha direção enquanto fala:

- Bom dia! Então vamos lá acabar com tudo isso.

- Então como você está hoje? - Pedro me pergunta.

- Um pouco melhor, obrigada. E como foi ontem com a Bah?

- Nossa linda, foi demais, levei ela em casa. - Ele fala sorrindo.

- Então foi bom apressar as coisas, ainda vão sair hoje?

- Claro, ontem foi um encontro inesperado muito bom. Mas hoje vamos mesmo nos encontrar, vou buscar ela para jantar, depois ir a algum lugar legal.

Sorrio para ele.

- Estou torcendo muito para dar tudo certo.

- Gata, já deu certo, ontem vi o quanto sua amiga é demais e confesso estou louco para vê-la novamente hoje.

- Acho que vejo namoro à vista.

Rimos.

- Vamos gata hoje o dia vai ser puxado.

Nos levantamos e vamos para nossas tarefas. Às nove horas, Raul me manda uma mensagem:

*Princesa, almoça comigo hoje?*

Leio sua mensagem, ainda sinto o incômodo no peito, mas como falei, vou deixar para lá este assunto então resolvo que, para isso passar, tenho que ficar próxima dele novamente.

*Claro, te espero ao meio-dia.*

Envio a mensagem e volto ao serviço. Antes da hora marcada vou até a sala do Pedro novamente.

- Pedro, hoje não posso almoçar com você, vou me encontrar com Raul. - Ele me olha com ar desconfiado.

- Gata, segundo dia consecutivo que você me dá bolo no almoço. Por acaso na última vez que comemos juntos eu peguei a comida com as mãos ou arrotei na mesa? – Dou risada dele.

- Não é isso bobo, só preciso resolver umas coisas com ele.

- Tudo bem linda, estou te enchendo. - Mando um beijo para ele e saio novamente para minha sala.

O tempo passa bem rápido na minha manhã de sexta. De hoje não pode passar a nossa conversa sobre a viagem. Vou aproveitar e usar isso como um tempo para refletirmos. Mas hoje ele tem que saber, afinal de contas nós vamos ver meus pais amanhã, voltamos no domingo e já viajo na segunda! Não terei mais tempo. E se ele não souber com alguns dias de antecedência, vai dar briga!

Preparo-me para encontrar o Raul. Sinto-me um pouco enjoada, também, depois de tantos bolinhos, essa bomba de açúcar, qualquer um ficaria enjoado. Vou ao banheiro e molho uma toalha para passar no rosto, está um calor insuportável.

Assim que saio do elevador Raul já está me esperando. Ele me recebe com um beijo e um abraço apertado. Abre a porta do carro e espera até que eu entre. Logo depois senta ao meu lado. Pergunto-me por que vamos de carro, o restaurante é tão perto.

Assim que saímos, percebo que não estamos indo para o restaurante e sim para sua casa. Fico apreensiva e empolgada, o que será que Raul está tramando?

Raul

Tirei a manhã para preparar um almoço para Cecília, já que o jantar não deu certo. Espero que ela goste e que possamos ficar bem logo. Não aguento ficar longe dela e preciso me desculpar pelos últimos acontecimentos. Eu deveria ter contado para ela. Ouvi-la chorando me quebrou e farei de tudo para que não aconteça nunca mais.

Cecília

Chegamos ao apartamento do Raul. Fizemos o percurso em silêncio. Um silêncio, por incrível que pareça, agradável. Entramos no elevador e quando as portas se fecham, Raul me abraça e beija o topo da minha cabeça, me sinto tão bem.

Saímos do elevador e nos dirigimos até a porta do apartamento. Raul abre e, como na noite anterior, minhas pernas bambeiam de tanta emoção, ele logo diz:

- Cozinhei para você. Espero que aprecie.

Neste momento começo a chorar e abraço Raul com todas as minhas forças.

- Raul eu não quero mais brigar. Eu adoro você. Vamos ficar bem. Esquece tudo. Alice, almoço, quarto de hóspedes. Só fica comigo, me abraça e me ama.

Amor TardioOnde histórias criam vida. Descubra agora