75- Que dia!

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No final daquele dia Luiza resolveu ir para a terapia e de lá voltou para a minha casa.

— Desculpe Isadora, mas não consegui voltar pra casa hoje. Posso ficar aqui só mais essa noite?

— Luiza, você pode ficar o tempo que quiser, querida.  Fique tranquila.

No dia seguinte pela manhã acordamos Laura com muitos beijos e um bolo de Parabéns.

—Parabéns minha pequena pelos seus dois aninhos. Mamãe te ama muito.

Laura estava toda sorridente ela era muito carinhosa, então amou receber Abraços de aniversário.

Cantamos Parabéns eu, Tati e Luiza Laura apagou sua velinha, estava toda feliz e como aquela manhã estava leve.  Contemplar a vida de Laura me fez sentir-me muito bem. Ela era o melhor presente, a melhor coisa que aconteceu em minha vida em meio a tantas tristezas.

Os sorrisos logo saíram novamente do meu rosto quando atendi o telefonema do meu advogado, ligou para dizer que  a audiência pela guarda de Laura, estava marcada para daqui a dois dias.

Meu coração gelou.

Eu fiz vários exames para provar que estava lúcida e que tinha saúde mental para cuidar de Laura.

Não tinha tido crises de pânico recentemente, apesar de ter muitas crises de choro.  Porém andava constantemente angustiada temia que uma crise pudesse aparecer a qualquer momento.  E aconteceu.

Desliguei o telefone e as meninas já perceberam minha aflição:

—O que foi Isadora? Tá tudo bem? Perguntou Tati.

—A audiência pela guarda de Laura será nessa quarta feira.

—Ai, já... Calma, vai dar tudo certo.
—Rafael, ele sempre usando de sua influência para adiantar as coisas, odeio ele.

Luiza tentou entender:
—O que está acontecendo? Rafael quer a guarda de Laura é isso?

—Sim Luiza. Ele quer tirar minha filha de mim... alega que não tenho saúde emocional pra cuidar dela. E usa da influência dele como advogada para agilizar tudo.

—Sinto muito. Situação difícil. Mas você vai conseguir provar que está bem para cuidar dela. 

—Não sei. Cada dia tenho mais raiva do Rafael.

Tati tentou me acalmar:

—Calma Isa, não vamos estragar esse clima de festa vamos continuar comemorando o dia da Laura.  E sábado teremos a festinha dela.

— Nem sei se terá festinha e se ela não estiver comigo? Estiver com o pai?

—Isso não vai acontecer. Você vai ganhar a guarda. Sábado vamos comemorar a vida de Laura e a sua vitória.

O aniversário de Laura caiu em uma segunda - feira e a festa seria no sábado seguinte. Mas essa audiência ser na semana do aniversário dela me desanimou com a festa e o medo de perder a guarda dela crescia dentro de mim.

Refleti que ela chegou na idade que o Theo tinha quando eu o perdi. Dois anos.  Perdi o Theo quando ele tinha dois, agora posso perder a Laura também.

Tatiane percebeu que eu estava alterada, nervosa eu andava pela casa inteira.

—Isadora, precisa se acalmar. Não quer sair? Pra gente distrair?

— Não de maneira nenhuma. Lá fora tá muito perigoso.  Quero ficar aqui com Laura.  Só com ela.

Eu andava para lá e para cá com Laura nos braços. Ela queria correr, andar pela casa e eu apenas queria manter ela em meus braços.

Em minutos Rafael chegou para desejar feliz aniversário para Laura.

Ao chegar ele tirou Laura dos meus braços para abraçar a filha, eu senti uma profunda tristeza.

Ele também percebeu que eu estava nervosa e com a sua presença eu só piorei. Me movimentava muito.

—Isadora está tudo bem?
—Sim, Rafael.
— Já sabe que a audiência será na quarta?
—Sim, Rafael.

—Bom, eu vou levar Laura para passear e..

—NÃO. GRITEI !tirando Laura dos braços dele.

—O que houve? Quero sair com a minha filha.

—Não.  A Laura não vai sair.
—Quero comemorar você mesmo falou que sempre que eu quisesse poderia vir pega - lá. 

—Agora não pode mais. Só a verá aqui.

—Você não está bem. Por que tá falando assim? Tá assustando a Laura.

—Rafael, vai embora da minha casa.
—Eu vou sair com a minha filha.

Ele disse tentando pegar Laura dos meus braços.

—Não!  Por favor, não, não, não. Digo chorando assustando Rafael e Tatiane.

—Tá bom, calma não precisa chorar. O que está acontecendo?

Rafael se dirigiu a tati:
—Tati leva a Laura daqui. Vou conversar com Isadora.

Assim que Tati saiu Rafael questionou - me:

—O que está acontecendo Isadora?
— Estou com medo! Com medo! Ela está com dois anos, mesma idade do Theo e quero proteje-la. Não quero que nada de mau aconteça com ela. Não quero perder ela também.

Rafael se comoveu mas ficou claro que eu não estava bem emocionalmente e isso seria péssimo na briga pela guarda de Laura.

—Tudo bem. Por respeito a você não vou sair com ela. Mas você não tá bem. Precisa se cuidar.

Eu fiquei arrasada e tive mais uma intensa crise de choro. Mas não parou por aí. Além dessa minha crise.

Descubro porque minha mãe ficou tanto tampo sem me visitar. Na briga para que ela viesse ao aniversário de Laura, desliguei o telefone na cara dela, visto que parecia que ela não queria vir. Em seguida uma mulher me ligou, se apresentou como cuidadora da minha mãe e me contou a verdade. Minha mãe estava doente. Ela estava com câncer de mama. Isso, câncer, tinha feito uma cirurgia para a retirada da mama. Minha mãe sofreu por um bom tempo sem querer me dizer, querendo me poupar. A cuidadora dela, me contou que agora estava tudo bem e que na próxima semana ela iria fazer um exame para saber se tinha saído todo o tumor.

Fiquei arrasada por imaginar tudo que minha mãe passou, sozinha.

Conversei com ela novamente, pedi perdão, choramos as duas. Ela tentou me acalmar e ainda sentia culpa por não ter me ajudado. Ao desligar chorei horrores tentando imaginar o quanto ela sofreu sozinha. E fui muito mais longe, se eu tivesse um irmão ele nos ajudaria, mas sou filha única, igual Laura será já que perdeu o irmão. E sofri por não ter ajudado minha mãe. Me sentia uma inútil.
Eu não aguentava mais tanto sofrimento, só me restou rezar para que minha mãe estivesse livre desse câncer, eu não poderia perde - lá também.  Eu não estava em clima de festa, estava destruída.

Que dia difícil.
Laura me viu chorando, mais uma vez....passou seus dedinhos sobre o meu rosto, me deu um sorriso e me Abraçou.

Laura era o meu remédio.
Luiza e Tati conversaram muito comigo naquele fim de dia. Luiza decidiu ir embora no dia seguinte para conversar com a mãe.

Na manhã seguinte sem que Tati percebesse sai de casa sem rumo, sem saber para onde ir. 

Luiza e Tati ficaram preocupadas, Tati sabia que eu não saia para canto nenhum.

—Tô com medo Luiza, Isa não sai de casa sem avisar. Ontem estava tão abalada. Amanhã audiência da Laura.
Meu Deus Onde será que ela está?

DEPOIS DAQUELE DIAOnde histórias criam vida. Descubra agora