Eu tinha doze anos quando coloquei o primeiro cigarro entre os meus lábios.
Sim, eu sabia que aquilo me mataria, mas o fiz mesmo assim. Não que eu desejasse a morte, embora procurasse por ela. Eu apenas gostava da sensação de ter algo realmente perigoso entre meus lábios, assim não me sentiria tão sozinha.
Ninguém tem culpa do rumo que tomamos. Todos nós fazemos nossas próprias escolhas. Somos responsáveis por aquilo que escolhemos ser.
Nenhuma vítima está totalmente livre de pecados. E ninguém se torna vilão sem antes ter sido injustiçado.
Mas bem, com doze anos eu acreditava que meu pai era capaz de voar. Que ele podia tomar os céus com suas asas de ferro e pilotar um avião por dias e noites sem nunca se cansar. Ele era um pássaro grande e forte, tinha bravura e competência para seu cargo.
Então, ainda aos doze, eu recebi a notícia que mudou toda a minha maldita vida: o avião que ele transportava desapareceu dos radares.
Ele simplesmente sumiu. Evaporou no ar.
E durante centenas de noites de tormentas eu cheguei a conclusão de que nem ele e nem nenhum de seus passageiros jamais voltariam.
Suas asas foram cortadas e com elas o meu sonho de voar.
Eu tinha o perdido para sempre.
Mamãe havia morrido no parto, então tive que ir morar com meus avós paternos. Uma família nutrida a base do conservadorismo e que naquele instante estava completamente arruinada.
Dividir o mesmo teto com pessoas que você não suporta nunca é uma tarefa fácil. Ainda mais quando você é uma pessoa como eu que teve tudo arrancado de si em um piscar de olhos. Jogada à maré do destino, teve que aprender a nadar.
Minha família e eu nunca nos damos bem. E não demorou para que os problemas de relação ficassem ainda mais estreitos. Foi quando os vizinhos novos se mudaram, eu tinha quinze anos. O casal na casa do outro lado da rua eram os pais de um garoto marrento de dezessete, ele que por sinal, transmitia um enorme ar de problema.
Seus pais não eram conversadores como os meus avós nem tinham imagens extremistas espalhadas por cada centímetro da parede assim como na minha casa. Eles apenas eram o que tinham de ser e o que queriam ser.
Com seu filho, meu primeiro e talvez único amigo, foi com quem eu tive o primeiro acesso a drogas além do cigarro tradicional.
Aquela fora uma experiência nova e talvez engraçada, mas as primeiras palavras que ele trocara comigo foram exatamente essas: "Tá afim de fumar uma erva depois da escola?"
Após nosso comprimento oficial, uma amizade brotou do pó ou melhor dizendo, da erva.
Mas apenas aos dezenove que eu realmente vi minha vida mudar.
O amor nunca esteve no topo da minha lista de prioridades, mas ele apareceu de repente tomando um grande espaço dentro de uma pequena proporção de tempo. E quando me dei por conta, aquilo já estava em cada parte do meu ser atuando em meu sistema imunológico como uma doença infecciosa.
Talvez isso deva ter sido um erro. Um erro absurdo, afinal.
Pois apaixonada pelo meu vizinho eu aprendi que a dor nunca seria demais.
Pierre me ensinou a amar a morte.
Por ser o meu melhor amigo, eu era capaz de enxergar os defeitos de Pierre assim como ele também era capaz de enxergar os meus. Ele era explosivo e descontrolado. Eu era silenciosa e intuitiva. Pierre odiava tudo e todos a sua volta, ele era rebelde e não respeitava nenhuma regra sequer.

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FLY
RomanceLIVRO COMPLETO NO HINOVEL, DISPONÍVEL PARA ANDROID E IOS. Hazel Jenner assinou a sua própria sentença de morte ao se apaixonar por Pierre. Ele era problemático. Tudo naquele homem brilhava e queimava. Hazel acreditou que poderia salvá-lo, mas cada...