FLY

i n f e r n o

Ele era tão explosivo e imprevisível. Suas tatuagens não significavam nada, a bagunça do seu cabelo não se comparava com a da sua mente. Ele era um barril de pólvora e eu era a chama. Ele era o fim apenas esperando por um começo, e eu o incio de tudo esperando por um trágico final.

Vi o momento em que ele passou pela porta do apartamento de Yago, desviou de mim e foi até a janela. Eu o segui com os olhos e suspirei cansada.

Pierre parou rente a janela e encarou a escuridão da noite brilhante lá fora. Eu me apoiei nas costas do sofá e fiquei observando-o silenciosamente até que a primeira palavra fosse dita.

_Não ligue para eles, querido. Eles são muito filhos da puta. - falei calmamente.

_Nós também.

Eu ri.

_Mais até que eles, mas isso não vem ao caso. - coloquei o cabelo atrás da orelha e caminhei até Pierre devagar. Abracei seu corpo por trás e respirei todo o seu perfume com os olhos fechados. - Eu te amo!

_Eu também amo você, Hazel. - e se virou para mim ficando de costas para a luz, sendo assim a própria escuridão. Segurou em minha cintura firmemente, eu prendi a respiração. Era tudo tão calmo ao mesmo tempo que agilizado, eu não conseguia entender porque há poucos minutos nós estávamos em guerra na casa dos pais dele e naquele momento já estávamos no apartamento do Yago. - Sou bom o suficiente para você?

Aquela pergunta me atingiu como um soco no estômago. Seus olhos de mel eram tão tristes que me partia em mil pedaços o coração.

_Mas claro que é! - respondi mais que abruptamente, então coloquei as mãos em seu rosto. - Pierre, você está sendo o melhor para mim.

_Eu te fiz tanto mal... - Pierre murmurou amargamente.

_Isso é passado.

_É recente.

_Eu já nem me lembro mais. - o olhei dentro dos olhos enquanto escorregava as minhas unhas azuis por sua bochecha sentindo de leve sua barba de três dias. - Você não pode sentir uma dor que é só minha.

_Posso se eu tiver a provocado. - ele rebateu, me encarando com mais voracidade.

_Então sinta o amor que me incendeia e queime comigo. Sinta a alegria que estou sentindo e sorria. Sinta a vida e se mantenha vivo por mim, por nós. Eu sei que você tem muitos problemas, eu também, mas nós não precisamos resolver tudo hoje. Deixa pra amanhã...

E antes que eu pudesse dizer só mais uma palavra, Pierre calou minha boca com um beijo e me puxou para si. Um beijo longo e suave diferente de tudo e de todos. Naquele beijo eu senti necessidade, urgência, fogo, amor. E foi tudo tão esperado quanto repentino, pois eu poderia beijar aquela boca um milhão de vezes, mas ainda assim seria como a primeira vez.

Pierre segurou em meu cabelo e eu estremeci em resposta.

_Posso? - ele perguntou em meu ouvido enquanto sua outra mão segurava o zíper traseiro do meu vestido.

Sorri.

Pierre não me esperou responder.

Suas mãos escorregaram pela minha costa nua em uma carícia doce e quente, em seguida seus dedos começaram a puxar as alças do meu vestido para baixo e nesse mesmo instante o som de algo rolando escada a baixo explodiu em nossos ouvidos.

Nos entreolhamos assustados e automaticamente corremos.

_YAGO! - Pierre gritou se ajoelhando diante do seu melhor amigo no chão rente a escada.

_Meu Deus, Yago! - eu exclamei me ajoelhando também ao seu outro lado. O garoto loiro fitava o teto desnorteado, sua expressão era de dor e confusão. Eu não sabia se ele estava consciente, mas jurava que não porque a verdade era que ele sempre tinha heroína nas veias. - Olhe para mim. Você está bem?

Ele franziu o cenho e olhou em minha direção.

_O que aconteceu? - Yago gemeu de dor logo em seguida ao tentar se levantar inutilmente.

_Você caiu da escada. - Pierre respondeu antes de mim.

_Ah... - Yago suspirou se lembrando. Então tornou a encarar o teto. - Eu quero ver a Melinda.

_Você tá chapado, cara. É melhor ir se deitar. - Pierre disse olhando brevemente para mim.

_Eu quero ver ela, porra! - Yago gritou.

_Por favor, Yago, se acalme. - implorei. Ele não poderia simplesmente sair naquele estado.

_Eu quero ir ver ela, Hazel. Eu acho que to gostando dela, porra. Meus Deus, eu preciso daquela filha da puta agora! - e nesse instante o loiro se derramou em lágrimas, um choro alto e compulsório. - Ela é tão linda e gentil... Não precisei levá-la para cama para saber disso. Eu vi no mesmo instante, mas eu a assustei mostrando o pior lado de mim. Agora ela deve estar me odiando e tudo o que eu mais quero é que ela volte a gostar de mim tanto quanto eu tô gostando dela. O meu tempo está acabando.

Eu fiquei sem entender nada, mas tentei não pensar muito sobre isso. Yago estava em um estado deplorável, eu só conseguia pensar que aquilo poderia explodir sua cabeça.

Sem camisa com todas as veias estouradas, tatuagens amostra e a mente bagunçada. Ele estava tão vulnerável... Vê-lo naquele estado era a pior tortura.

_Pierre, leve ele para o quarto. Eu vou ligar para a Melinda. - eu disse ao meu namorado e ele balançou a cabeça em concordância.

Melinda precisava ver Yago naquele estado, só assim ela saberia quem ele realmente era. Isso não significava que eu estava desejando o pior para eles, muito pelo contrário.

Eu precisava trazer ela até aqui porque assim faria o meu irmão feliz e saberia, finalmente, se ela estava disposta a sobreviver ao inferno em nome do amor.

Porque eu e Pierre estávamos totalmente preparados, mas e ela?

Nós nunca iríamos desistir de Yago, mas e ela?

Eu precisava de respostas.

Urgentemente.

Não sabia se Yago sobreviveria e isso estava me matando. Os dias estavam passando rápido demais e porra, aquela merda estava destruindo a todos nós.

Motel Hell - spoiler

"_Você quer passar alguns dias no meu inferno? - então seus olhos verdes firmaram em mim e ele prendeu a respiração esperando pela resposta.

_Férias no inferno? - eu perguntei rindo para aquele estranho desconhecido.

_Por que não?"