e x p l o s ã o

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Não tínhamos para onde fugir e se tínhamos, jamais chegaríamos a tempo. Mas eu estava com Pierre e essa, claramente, seria uma aventura única. Viajar até o submundo da mente de alguém...

Mas lá estava eu, com um instinto selvagem que me arrastaria por uma enxurrada de ilusões perdidas.

— Eu não acredito... Porra, eu não acredito! — Pierre dizia impressionado enquanto acelerava o carro, dividindo a atenção entre o trânsito e eu. Finalmente fixou os olhos em mim. — Hazel, você agrediu uma pessoa.

Pierre estava definitivamente perplexo em como eu havia narrado os acontecimentos da noite. Era como se ele nunca tivesse imaginado que um dia eu tomaria uma atitude não racional. Pierre me enxergava como uma garota fria e apática, nunca movida pela raiva.

— Eu não sou assim, Pierre. Você sabe, mas... — afundei o rosto nas palmas da mão, suspirando. — Eu não consegui me controlar. Eu não consegui ficar com tudo dentro de mim enquanto ela me atacava.

— É exatamente assim como eu me sinto. — Pierre sussurrou do escuro, protegido pelas sombras do passado.

Eu olhei para ele, e ele ignorou.

Os vidros do carro permaneceram fechados a viagem inteira. Ao seu lado, no banco do passageiro, eu tinha um campo de visão mais amplo. Enxergava não somente as ruas aleatórias, mas a nossa fulga como um todo. Éramos dois fugitivos, mas ele não havia feito nada de errado daquela vez.

Não tinha muito movimento na cidade. Mas conforme íamos avançando encontrávamos bares, bêbados, fumantes e marginais. Passávamos por becos e vielas sem nunca olhar para trás.

A luz pálida dos postes de energia refletia no rosto de Pierre. Ele já não dizia nada. O silêncio fez-se a melodia mais alta.

Eu não fazia ideia sobre o que ele poderia estar pensando. Ele era blindado. A mandíbula tensionada, mas ele não parecia nervoso, apenas concentrado.

— Pierre — chamei sem respostas. Suspirei. — O que vamos fazer agora? Por favor, diga alguma coisa.

Eu olhava para ele em busca de alguma solução. Pierre, entretanto, se manteve fixo em algum ponto da estrada. Ele era um cara difícil de se lidar. Tudo sempre foi feito do seu jeito. Ele não lidava bem com críticas.

E eu não gostava da sensação de estar dependente de qualquer boa vontade ou sinal de comoção. Não aceitava a sensação de estar viciada em algo que eventualmente me arruinaria.

Eu só queria que ele olhasse para mim.

Mas ele me ignorava.

Nada no mundo poderia ser tão confuso.

— Hazel — sua voz cortou o silêncio algum tempo depois. — Você não... — abaixou um pouco a cabeça, respirou fundo e prosseguiu —, você não está sozinha. Eu estou aqui para você e por você.

Seu olhar finalmente procurou pelo o meu. Agora mais contido e misterioso, mas não menos impactante. Era incrível como Pierre tinha o equilíbrio entre o bem e o mal. Ele era imprevisível e fascinante.

No céu, a estrela mais brilhante.

No inferno, a brasa mais quente.

O pior de tudo era sentir que meu corpo pedia por aquilo. Pedia uma dose única e letal de todo o seu veneno.

— E por que você me ajudaria? — Ergui uma das sobrancelhas.

— Porque nós somos amigos, porra.

— Somos?

Nesse instante, sua mão grande e quente segurou a minha coxa. O seu toque era seguro e firme.

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