m u n d o

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Acendi um cigarro e olhei por cima do ombro, Yago vinha logo atrás. Dei um trago e me virei para encarar seu rosto pálido.

_Como você está, cara? - ele perguntou aflito.

_Estou ótimo! - sorri ironicamente e revirei os olhos fumando meu câncer.

_Ela vai ficar bem. Ela é a mulher mais forte que eu conheço. - ele murmurou ao meu lado, mãos nos bolsos e olhos fixos na estrada mais a frente.

Eu abaixei o olhar e encarei meus coturnos sujos.

_Yago.

_O quê?

_Por que beijou a Hazel? - e então finalmente fitei seus olhos azuis e naquele momento, só naquele momento, tive vontade de socar sua cara sem parar.

Yago fechou os olhos brevemente, respirou fundo e por fim levou as mãos até a cabeça. Era como se ele estivesse aflito, envergonhado ou qualquer coisa relacionada.

Eu pisquei algumas vezes, desviei o olhar e coloquei o cigarro na boca novamente. Tive vontade de me virar e sair andando de volta ao hospital porque eu queria muito ouvir o que ele tinha a dizer, mas também não queria pôr em risco a nossa amizade.

Estávamos parados na frente do hospital onde Yago tinha ficado internado. Hazel estava lá dentro e nós não tínhamos ideia do que estava acontecendo com ela. Já haviam se passado umas duas horas desde que chegamos ali e esses foram incrivelmente os piores momentos da minha vida até então.

Era uma madrugada fria, uma daquelas que demoram muito a passar e eu no fundo sabia que iria enfrentar muitos leões para que o dia pudesse amanhecer.

_Bom, não sei se quero saber. Esquece isso! - eu disse simplesmente algum tempo depois, joguei o cigarro no chão e o amassei com a sola do sapato, me virei para ir embora, mas Yago segurou em meu braço forçando-me ficar.

Eu o encarei bem no fundo dos seus olhos sentindo uma pontada de raiva. Eu realmente não queria perder a cabeça, mas sempre foi muito difícil controlar meus instintos ainda mais quando eles estavam de alguma forma relacionados a Hazel.

Yago me soltou ao perceber que eu não gostei de ser tocado. Ele deu um passo para trás e balançou a cabeça negativamente. Seus lábios estavam entreabertos e meu maxilar estava travado.

_Você ama ela... - Yago suspirou em desabafo.

_Isso não vem ao caso. - minha voz soou como em um rosnado.

_E eu não deveria ter feito essa loucura sabendo disso. Porra, eu não sei o que me deu. Eu realmente não sei. Eu estava chapado, deve ser isso então. - parecia estar sendo sincero, no entanto, por alguma razão eu não conseguia acreditar em nenhuma palavra que saía da sua boca.

_Você me machucou, Yago. Eu sei que sempre dividimos as mesmas garotas, mas a Hazel não é uma comum. Eu a amo desde criança, desde o exato momento em que a conheci e eu sempre te disse que ela não merecia caras como nós. - apontei para mim e para ele. - Ela merece alguém que a ame intensamente e que a tire de toda essa podridão em que ela está enterrada.

_Pierre, eu sei disso. - Yago sussurrou quase sem voz e perdido em meu olhar. - Mas ela de alguma forma atraí caras como nós, é inevitável, ela é magnética. Isso não quer dizer que eu a ame da mesma forma que você, mas seria mentira se eu falasse que não gostaria de tê-la em meus braços também.

Nesse instante eu virei o rosto bruscamente para o outro lado, fechei os olhos e respirei fundo. Meu coração batia tão rápido e forte a ponto de rasgar o meu peito.

Punhos fechados, garganta seca e então disse esvaziando a minha alma:

_Não fale dela assim! Eu não quero machucar você.

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