FLY

a f r o d i t e

Damon

Eu não poderia dormir sabendo que ela estaria em todos os meus pesadelos e nunca ao meu lado. E se as minhas funções neurológicas fossem prejudicadas de nada adiantaria pois eu ainda estaria bebendo e tentando de todas as formas esquecer o quanto doía e queimava as memórias mais nítidas daquele seu sorriso insano.

Hazel não era um corpo bonito, ela era uma deusa grega.

Afrodite.

Minha adorável Afrodite.

E ela era tão intensa. Seus olhos não tinham uma cor definida assim como seu rosto, porque olhar para ela era como encarar o sol ao meio-dia. Ela era tão brilhante que poderia cegar. E de fato cegou.

Nos melhores e nos piores pesadelos ela estaria lá e também em todas as bebidas, em todos os cigarros, em cada trago, em cada ex trago. Ela estava em tudo o que eu tocava, em tudo o que eu sentia, em cada segundo de vida, em cada átomo, em cada palavra não dita. Ela estava lá, fora do meu alcance.

Eu tentei cortar suas asas para força-la a ficar, mas isso só fez com que eu me prendesse mais e mais a ideia de possuir algo que nunca pertenceria a ninguém além de si. E enquanto eu pensava em como amarra-la, ela voava livre com outros amores roubados.

Então o que dói mais: a ideia de ter perdido o amor da minha vida ou o fato de eu nunca ter o encontrado?

Porque de todas as dores, de todos os pecados, de todas as mortes ela foi a pior e o pior de tudo. Ao mesmo tempo que me trouxe vida, inundou meu caminho com lágrimas.

Sorri perguntando sozinho comigo mesmo por que eu me importava tanto. Ela seria mãe, estava do lado das pessoas que a amavam e estava assumindo o controle. Eu deveria estar feliz por ela ou deveria amaldiçoar aquela deusa demoníaca?

Balancei a cabeça em negação. Hazel deveria de fato viver bem e bem longe de mim, pois eu a destruiria se ela ficasse. Isso não significava em si que eu era um louco desequilibrado, mas o que eu poderia dar a ela senão a minha escuridão? Isso era tudo o que eu possuía. Cada pedaço de mim era podre.

_Promessas falsas - eu disse amargamente -, nunca preenchem um coração.

_Falando sozinho, Damon? - uma voz sensual soprou em meu ouvido.

Franzi as sobrancelhas e olhei para o lado.

_Eu te conheço? - indaguei ao me deparar com aquele grande par de olhos cinzas.

_Não - deu de ombros se sentando ao meu lado no balcão da boate. - Mas eu sei quem você é.

_É mesmo? - sorri ironicamente sem achar graça.

Ela desviou o olhar da sua bebida e me encarou mais uma vez. Ela usava uma maquiagem muito forte e sombria, mas também muito bonita. Seu rosto era fino e ela tinha grandes lábios vermelhos.

Talvez ela fosse uma das prostitutas da minha boate e eu nem soubesse ainda.

_O que você acha?

_Não acho nada. Agora você pode me dizer seu nome? - respondi friamente sem nenhuma expressão no rosto e ela sorriu em resposta, um sorriso malicioso.

_É incrível como você pode ser tão ridículo, Damon. Obviamente eu sei que você esquece os nomes das garotas com quem você transa, mas não imaginei que o álcool te deixava tão morgado assim.

_Do que você está falando?

Eu não conhecia aquela garota e nem ao menos conseguia entender o que ela falava. De fato eu estava um pouco alcoolizado, mas minha memória se mantinha estável.

_Sou eu, Selen, a sua irmã!

_Puta merda, sua vadia do caralho! Como você mudou! - eu praticamente gritei em espanto e admiração olhando para ela completamente abismado.

Selen soltou uma gargalhada gostosa e me abraçou com saudade.

Sentir ela em meus braços após tantos anos foi como voltar no passado. Ela era, assim como eu, quente igual ao inferno e tão intensa quanto a Hazel. Eu odiava aquela filha da puta, mas a amava mais que a mim mesmo.

Mentalmente me perguntei como pude não a reconhecer. Eu tinha visto ela pela última vez quando eu tinha uns dezessete anos e ela treze. Desde então fizemos contato poucas vezes por telefone.

Dez anos depois e lá estávamos nós juntos novamente.

_Por onde você andou? - segurei o rosto dela com as mãos e olhei bem no fundo dos seus olhos de serpente. Era incrível como ela se parecia comigo desde os cabelos negros até a maldade no olhar.

_Nem eu sei. Desde que você foi embora a nossa família nunca mais foi a mesma, então com dezoito foi a minha vez. Eu estou administrando os negócios na Itália e pelo visto você tem tudo sob controle aqui. Fico feliz por você, irmão. Papai ficaria orgulhoso.

_Eu não me importo com a opinião dele mesmo que depois de morto, mas fico feliz em saber que o legado da nossa família está seguro em nossas mãos. E a propósito - olhei em volta -, onde está a mamãe?

Selen River deu um passo para trás, sorrindo. Pegou sua bebida e deu um grande gole.

_A última vez que falei com ela foi há nove meses atrás, ela estava na Bélgica.

Balancei a cabeça sorrindo. Mamãe era uma pessoa incrível, mas ela me odiava. Eu não a culpava por isso, depois de tudo o que eu fiz não poderia receber nada melhor.

Ela não me perdoara por sair de casa e involuntariamente ter causado a morte do meu pai. Entretanto, eu não dava a mínima. Eu sempre odiei meu pai e isso sempre fora totalmente recíproco, sua morte nada me comovia. Já o ódio eterno de mamãe ainda me deixava um pouco entristecido, mas o fato de saber que ela estava bem e feliz me deixava totalmente renovado.

Nossa família era a máfia azul: contrabando, sexo e lavagem de dinheiro era a parte mais leve. Nós éramos podres e gostávamos disso. Éramos os governantes do inferno e não havia nada acima de nós.

Tios, primos, netos e bisnetos espalhados pelo mundo, cada um comandando uma parte do negócio e todos unidos de uma forma ou outra. Tínhamos o mesmo sangue e isso era o mais importante de tudo.

Após alguns minutos de conversa Selen disse que não estava sozinha e logo me apresentou seu marido e a melhor amiga que por sua vez me pareceu mais interessante que todos os outros.

_Alina. - a ruiva disse sorrindo.

_Damon. - respondi com os olhos brilhando.

Meu ponto fraco era vermelho.

_É um prazer te conhecer. - Alina disse se aproximando para beijar a minha bochecha.

_Acredite, Alina, o prazer é todo meu. - sussurrei em seu ouvido com uma mão na sua cintura e a outra em seu pescoço.