HazelEu errei com todas as pessoas que eu disse amar. E isso não é algo do qual que eu me orgulhe, mas é um fato, uma triste realidade.
Todos estão condenados com um erro ou outro agora ou depois, mas quando isso passa dos limites se torna um vício, e é quando as coisas já estão irreversíveis que você se dá conta do estrago que causou.
Eu errei imensamente com muitas pessoas. Eu errei comigo e isso não tem perdão. Mas naquela época eu só pensava em álcool e cigarros, não tinha espaço para mais nada na minha vida. Dezenove anos e uma saúde de oitenta. Era assim que eu me encontrava afinal.
Abrir os olhos doeu mais que o inferno, e encarar a realidade também.
Não me recordo muito daqueles dias em que estive inconsciente ou dopada a tal ponto. Mas me lembro daquela expressão preocupada que meus amigos tinham no rosto. Isso era terrível. Eu não merecia sequer um pingo daquela misericórdia porque eu era a culpada.
Já fazia algumas horas desde que eu tinha feito os exames que determinariam o rumo da minha vida, mas o resultado ainda era um enigma para mim. Meus avós e os pais de Pierre estavam no hospital, eles se diziam preocupados comigo assim como Melinda e Yago, entretanto, eu não conseguia pensar em mais nada além do fato dele não estar ali.
Eu sabia que Pierre deveria estar com muita raiva de mim e eu entendia isso perfeitamente. No entanto, eu esperava no mínimo um pingo de consideração e amizade dele para comigo. Nós éramos amigos de infância, nós tínhamos uma história. Então como ele poderia ser tão insensível a ponto de me deixar sozinha no pior momento da minha vida?
Eu tinha acordado no dia anterior e desde aquele momento eu senti a sua falta. Viver não teria significado algum se eu não tivesse algo que me despertasse a sede de vida. Sem Pierre, enfim, eu estava pouquíssimo preocupada com o diagnóstico que receberia cedo ou tarde.
Deixei o celular de lado e suspirei olhando para Yago. Ele estava sentado em uma poltrona perto da maca hospitalar fazia um bom tempo em silêncio. Eu não podia sair do quarto por ordens médicas e naquele instante, a propósito, eu tomava soro fisiológico na veia de modo que eu realmente não pudesse sequer pisar no chão.
O quarto era branco e sem graça. Eu nunca gostei de hospitais, não a ponto de querer me mudar para algum ou ficar hospedada em uma das salas. Então isso de fato era uma experiência desagradável.
_Onde está o Pierre? - eu perguntei sem mais delongas. Eu não poderia simplesmente fingir que eu não estava sentindo a sua falta.
Yago desviou os olhos azuis da tela do seu celular e me encarou com as sobrancelhas franzidas.
_Eu não sei. - respondeu parecendo honesto.
Eu fechei os olhos brevemente tentando canalizar os meus pensamentos e o encarei em seguida seriamente.
_Você está me escondendo alguma coisa.
Yago me lançou um olhar surpreso e até um tanto assustado, como o de uma criança que tenta enganar os país.
_Não... - ele balançou a cabeça e os cabelos loiros se movimentaram majestosamente.
_Não minta para mim, Yago. Eu sei que você sabe de algo e não quer me contar. Isso talvez justifique o fato de Pierre não estar aqui. - o tom de irritação em minha voz era palpável.
_Hazel, ele não está aqui porque não quer, ok? Eu não tenho culpa disso. - Yago respondeu rispidamente.
Olhei para ele magoada. Por que ele estava falando comigo daquela forma?
Desviei o olhar machucada. Eu estava me sentindo tão sentimental e solitária.
_Desculpa por falar assim. Eu não quis ser grosso. - Yago murmurou algum tempo depois.
Então eu sorri amargamente.
_O que você ainda faz aqui? Ele que deveria estar sentado no seu lugar.
Dizer isso foi de uma estupidez ridícula, mas quando me dei por conta já era tarde demais.
_E onde ele está agora? - rebateu tão amargo e ferido quanto eu. - Mas não seja por isso, Hazel Jenner. Eu jamais tentaria ocupar um lugar que não é meu, não novamente. - disse se levantando.
_Não, Yago! - tentei impedir que ele fizesse, mas mesmo assim ele o fez. - Sinto muito por isso. Eu apenas estou me sentindo abandonada. - olhei no fundo dos seus olhos. Ele já estava em pé ao lado da minha cama me encarando com os olhos cheios de lágrimas. Então em meio aquela tempestade ele sorriu. Um sorriso meigo e doce que só ele possuía.
_Você não está sozinha, Hazel. - segurou a minha mão e a encarou por alguns segundos antes de me olhar nos olhos novamente. - Você tem a mim, tem a sua família, tem aos pais do Pierre, tem a Melinda, tem ao bebê.
Eu sorri achando graça.
_Que bebê? - franzi a testa com um sorriso de estranheza.
Foi quando ele pousou delicadamente a mão na minha barriga e eu gelei.
_O seu bebê. - sussurrou em resposta olhando para a sua própria mão.
Pisquei algumas vezes assistindo àquela cena medonha.
_Que brincadeira sem graça é essa, Yago? Do que você está falando? - voltei a ficar irritada. Ele não poderia simplesmente brincar com algo assim. Era ridículo.
_Você está grávida, Hazel. O médico nos disse ontem e o Pierre foi embora logo em seguida. Talvez isso justifique o fato dele não ter voltado. Eu pensei que ele deveria te dar essa notícia, mas eu realmente não sei se ele quer isso. - Yago abaixou o olhar entristecido e naquele instante, apenas naquele instante, eu senti algo parecido com horror.
Minha boca ficou seca e de repente eu já me sentia fora de mim. Era como se minha alma tivesse abandonado o meu corpo sem mais e nem menos. Tudo estava instável, eu já não me sentia segura nem mesmo se colocasse os pés no chão. Se eu tivesse me jogado de um prédio de onze andares a sensação teria sido um pouco menos desesperadora.
Mas então eu pisquei algumas vezes com o coração palpitando no peito e olhei em direção a porta que acabara de ser aberta.
Lá estava ele com o olhar cabisbaixo ao mesmo tempo que fixo em mim. Ele usava um jeans claro e um moletom cinza. Os cachos do seu cabelo estavam molhados e a barba de alguns dias por fazer.
Como eu me lembro de tudo isso? Simples: a primeira visão do homem que você ama é a mais difícil de esquecer.
Pierre estava lá e eu aqui. Nós estávamos de início separados, mas o fim conheceríamos juntos.
E santo Deus, foi tão assustadora aquela troca de olhares.
Mas estávamos ali interligados de uma forma intracelular, de modo que nem o tempo e nem ninguém pudesse separar.
_Hazel. - ele disse quase em lamentação.
_Pierre. - eu chamei desesperada.
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FLY
RomanceLIVRO COMPLETO NO HINOVEL, DISPONÍVEL PARA ANDROID E IOS. Hazel Jenner assinou a sua própria sentença de morte ao se apaixonar por Pierre. Ele era problemático. Tudo naquele homem brilhava e queimava. Hazel acreditou que poderia salvá-lo, mas cada...