r u í n a

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A corrente de ar fria me envolve silenciosamente e lentamente até que eu esteja presa em uma espécie de cápsula térmica. Janelas abertas, cabelos ao vento e lá vou eu pisando fundo no acelerador por uma estrada que não tem começo e nem tampouco fim.

As luzes do cenário urbano noturno não passava de borrões, os sons eram zumbidos e eu, fantasma.

Há quase 200km por hora eu tentava fugir de quem eu a via me tornado. Tentoava fugir das mentiras que criei, das verdades que omiti, dos demônios que não matei. Era perturbadora a sensação de sentir o mundo desmoronando em minha cabeça.

Pierre me destruiu com sua maldita carta e eu que acreditava que estava quase curada assistia mais uma vez o meu sangue jorrar para fora das minhas veias. Um turbilhão de sensações que de tão intensos chegavam a roubar meu ar.

Eu nunca desejei aquele carro que Damon havia me dado, entretanto, eu nunca precisei tanto dele quanto naquele momento.

Meus instintos mais selvagens diziam que eu tinha que chegar a tempo, porque na verdade, eu já não tinha tempo. Eu era a mariposa atraída pela luz e se o calor queimasse minhas asas eu poderia dizer no fim que fiz bom proveito delas. Não imaginava o que iria encontrar ao chegar até o dormitório de Pierre, e por essa razão eu tinha que ir até lá e dizer de uma vez por todas que para mim estava tudo acabado.

Exatamente. Eu não estava indo para reatar a nossa problemática e fodida relação, muito pelo contrário, estava disposta a por um fim definitivo naquilo. E talvez quando esclarecesse os pontos do presente e do passado, eu pudesse ser livre para voar como sempre sonhei. O dinheiro arrecadado da herança dos meus pais que estava na poupança me levaria para outra cidade ou até mesmo outro país. A verdade é que eu estava buscando um recomeço para minha vida devastada e para isso iria até os extremos do planeta, até mesmo no final.

Porque é chegado um momento em nossas vidas que finalmente conseguimos despertar, mas nem sempre a realidade é tão doce quanto nos sonhos, por isso devemos nos adaptar mesmo tendo pela frente as maiores dificuldades. E é chegado um momento em nossas vidas que vemos que há coisas mais importantes que o amor. Aquele era o meu momento.

Estacionei de qualquer maneira no estacionamento da faculdade e atravessei o campus correndo até o prédio onde ele morava. Passei correndo pela entrada e fui direto ao elevador. Cada segundo que se passava era uma tortura.

E quando cheguei no corredor que dava para o meu antigo quarto e consequentemente para o seu, um frio subiu pela a espinha e eu travei. Meu corpo estava paralisado e meus pensamentos também. Os olhos de leve arregalados, boca seca, respiração desenfreada, adrenalina pura no sangue.

Pisquei algumas vezes ao dar um passo para frente e sair de dentro do elevador. Eu estava assustada e já não tinha tanta certeza de que desejava continuar com meu plano infalível. Perguntas eram lançadas no meu subconsciente, tais como: "Eu devo continuar? É isso o que eu quero? Ele realmente me ama?"

Respirei fundo e soltei o ar pelo o "O" que formei com a boca. Cocei os olhos e espalhei o restante de rímel pela minha cara. Sabia que deveria estar igual um panda com a sombra negra e a máscara de cílios borrada, mas eu não me importava.

Pensei em desistir, mas logo mudei de ideia. Apertei os dedos contra a mão, travei o maxilar, franzi as sobrancelhas e decididamente eu caminhei até o final do corredor. As paredes de concreto eram brancas e as luzes no teto amareladas. Extintores de incêndio lá fora e um vulcão ativo aqui dentro de mim.

Chegara o momento em que tive que ficar frente a frente com a porta de madeira tingida de marrom. Foi aí que eu realmente sentir que iria explodir.

Pisquei mais algumas vezes e bati na porta três vezes até que ela fora aberta.

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