Diante da porta, sorri indecente.Yago olhava pra mim chocado. Não estava apenas surpreso ao me ver, estava assustado em me ver naquele estado. Claro, os hematomas o assustavam mais do que minha presença em si, mas o fato de eu não estar desesperada e sim sorrindo, certamente o impressionava mais do que qualquer outra coisa.
_Puta merda, Hazel! O que aconteceu? - ela praticamente gritou, abrindo mais a porta do apartamento e vindo em minha direção para tocar em meu rosto. Desviei de suas mãos e escorreguei para dentro do apartamento.
Em uma mão meus sapatos e em outra minha garrafa de uísque.
Eu estava exausta e apenas levemente embriagada apesar das várias doses que tomei pela minha volta na cidade. Não estava realmente bêbada, eu era uma álcoolotra experiente, mas o álcool que corria nas minhas veias me deixava mais indecente que o normal e com pensamentos sórdidos que eu certamente não teria sóbria.
Ouvi Yago fechar a porta atrás de mim, mas não me virei para conferir apenas caminhei até o sofá, joguei os sapatos longe e me deitei.
Encarei o teto branco e respirei fundo.
_Você pode me explicar o que aconteceu? - Yago apareceu logo depois na minha frente com os braços cruzados no peito.
Eu o encarei.
Yago estava sem camisa. Usava apenas uma calça jeans que marcava bem o "V" no final do seu quadril. Aquilo era tão sensual.
Olhei em seus olhos.
_É uma longa história. - eu disse simplesmente. - E eu preciso de um cigarro. - chequei os bolsos do casaco, mas não achei nenhum. Yago ignorou meu último comentário.
_Conte-me. - seu tom soou mais ríspido e autoritário. Eu olhei para ele excitada. Sim, eu gostava de receber ordens. Porém isso não significava que eu as obedecia.
_É uma longa história. - repeti pausadamente, me levantando em seguida.
Fiquei frente a frente com Yago. Seu corpo estava muito próximo do meu.
Seus olhos azuis mais escuros e intensos do que nunca fixos nos meus. Ele não tinha expressão nenhuma. Estava sério e firme como uma rocha.
O cabelo loiro que caía pela testa parecia úmido. Yago tinha cheiro de gel de banho e menta. Parecia estar sóbrio e consciente do que estava acontecendo, além de um tanto irritado comigo.
_Por favor, estou cansada - suspirei revirando os olhos. - Podemos falar sobre isso depois?
Yago travou o maxilar e me encarou duro. Parecia estar realmente irritado.
_Você está machucada, Hazel. - bufou quase em desabafo. - Precisa ir no hospital.
_Eu sei - sorri provocativa, tirando o meu casaco na frente dele. - Mas já faz dois dias ou três que estou assim. Não acho que faça diferença agora. Infelizmente ainda estou viva.
Yago passou a mão pelo cabelo e sorriu irônico.
_Por favor, Hazel, não seja tão infantil. Você realmente precisa de ajuda.
Eu respirei profundamente e dei um passo na direção de Yago. Ja não havia distância alguma entre nossos corpos. Estávamos colados e o meu peito tocava sua barriga, pois ele era muito mais alto que eu. Mas embora a diferença de altura fosse grande, nós ainda podíamos nos encarar fixamente nos olhos sem desviar.
Então eu disse seriamente com a voz fria e levemente rouca:
_Yago, eu não quero ser ajudada.
_Não é o que parece. - franziu as sobrancelhas.
_Nada é o que parece. - eu retruquei.
Continuamos nos encarando por alguns segundos sem dizer nada.
Sentia seu corpo quente, apesar de não tocar com as mãos. Sentia seu olhar penetrar em mim e aquilo me fazia imgianr coisas ainda mais indecentes.
Sorri.
_Por favor, falamos sobre isso depois.
Yago franziu as sobrancelhas intrigado.
_Pierre sabe que você está aqui?
_Não faço a menor ideia - dei de ombros, me virando para pegar a minha garrafa encima do sofá.
_Você está diferente, Hazel. - ouvir Yago dizer atrás de mim enquanto eu caminhava em direção as escadas.
_É mesmo? - eu virei o quadril em sua direção encima do terceiro degrau.
_Sim. Você não parece mais com a mesma - Yago balançou a cabeça confuso, estava do outro lado da sala atrás do sofá olhando pra mim.
_O que mudou? - perguntei baixinho com um meio sorriso.
_Tudo. - ele deu de ombros. - E eu não sei se gosto disso.
_Espero realmete que não goste - eu respondi quase em um sussurro, meus olhos fixos nos seus e um sorriso perverso nos lábios. Dei um gole grande no uísque, senti o álcool corroer minha garganta e o calor descer até minha calcinha. - Não nasci para agradar ninguém.
Yago franziu as sobrancelhas e mordeu os lábios pensativo.
_Você não vai começar a usar drogas, ok? - Yago disse apontando pra mim.
Eu dei de ombros sorrindo e ele fechou a cara. Sua expressão me lembrava muito a de Pierre quando irritado.
_Relaxa. Eu não vou fazer nada que você e o Pierre não fariam.
_Esse é o problema - Yago falou seriamente. - Nós só fazemos merda.
Yago olhava fixamente nos meus olhos sem desviar. A intensidade como ele me tocava sem necessariamente usar as mãos me deixavam desesperada.
Eu entendia que ele estava tentando me trazer de volta a realidade, que ele queria a versão boazinha de mim, mas aquilo realmente não fazia o menor sentido pra mim. Eu não queria mais ser a mesma. Eu queria ser simplesmente e exclusivamente eu mesma. E nem Damon, nem Pierre e nem Yago iriam me impedir de encontrar a minha verdadeira identidade mesmo que para possuí-la eu tivesse que vasculhar o lixo.
Olhei de relance nos braços de Yago. Sua pele clara deixava visível todos os pequenos hematomas causados pela seringa que ele usava pra injetar heroína em suas veias. Eram pequenas manchinhas roxas ou meio azuis que pareciam profundas se vistas mais de perto. Aquilo sim era desesperador.
Estava mais do que claro que Yago precisava de ajuda, que ele sim não estava bem. Eu via, ele estava se destruindo, preso em uma gaiola, um vício oculto. Mas quem eu era para tentar salvá-lo? Eu não era ninguém. Apenas uma álcoolotra solitária que passava mais tempo ouvindo do que falando onde doía.
A situação de Yago me deixava triste e a realidade que ele vivia não se encaixava na minha. Eu não queria ser como ele e Pierre, mais uma viciada em heroína e sabe Deus em mais o quê. Eu estava bem com o meu álcool, maconha e cigarro. Não precisava ir além disso. Bom, não naquele momento.
Mas a nova versão de mim não confessaria suas fraquezas e seus medos. E se eu pudesse usar aquilo contra Pierre e Damon eu usaria mesmo que apenas através de palavras.
Eu gostava de Yago. Sabia que ele se importava comigo. Mas eu realmente não conseguia confiar em mais ninguém. Então também não iria dizer quais eram meus medos tão facilmente, até porque ele era melhor amigo de Pierre Montgomery.
Sorri de lado, dei mais um gole e suspirei.
_Não se preocupe quanto a isso, Yago. Eu posso fazer pior - e me virei para subir até meu quarto, deixando o homem loiro para trás.
Lá de cima ainda pude ouvi-lo dizer:
_Eu sei e é disso que eu tenho medo, Hazel. Você sempre piora a situação.
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FLY
RomanceLIVRO COMPLETO NO HINOVEL, DISPONÍVEL PARA ANDROID E IOS. Hazel Jenner assinou a sua própria sentença de morte ao se apaixonar por Pierre. Ele era problemático. Tudo naquele homem brilhava e queimava. Hazel acreditou que poderia salvá-lo, mas cada...