p r e s e n t e

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_Eu tenho um presente para você. - Damon disse sem cerimônias, sorrindo.

_O que é isso? - eu perguntei assustada.

Ele rolou os olhos e me encarou como se aquilo fosse patético.

_Não está vendo? É uma boneca Barbie! - ele revirou os olhos no mesmo instante que eu, então balançou o chaveiro em sua mão. - A chave do seu carro.

_Mas eu não tenho um carro.

_Agora você tem. - Damon deu de ombros e eu o encarei como quem pergunta "que porra é essa?"

_Você está louco? - sim, ele estava. - Como você aparece com um carro na porta da minha casa sem mais nem menos?

_Mágica - explodiu com as mãos no ar e abriu um daqueles sorrisinhos sapecas que só ele e Pierre possuíam. - E dinheiro também.

Respirei fundo, penteei o cabelo com os dedos e soltei o ar de uma só vez. Meus olhos foram de encontro com o carro preto zero km do outro lado da rua. Era lindo, mas eu realmente não podia aceitar, pois se o fizesse me sentiria em dívida com Damon e eu realmente não queria dever para um mafioso.

_Obrigada, Damon. Mas isso não é meu. - eu disse simplesmente voltando a olhar nos olhos dele que ainda tinham o mesmo brilho de maldade.

Damon cruzou os braços e piscou algumas vezes. Eu não conseguia ler sua expressão.

_Você não vai fazer isso comigo, não é? - ele perguntou sério.

Eu o encarei sem dizer nada e então dei de ombros.

_Eu não posso aceitar.

_Mas por que não? É só um carro.

_Não, Damon. Não é "só um carro" é um presente muito, muito caro que eu não devo aceitar porque não faz o menor sentido.

_Claro que faz sentido. Somos amigos e eu estou te dando um presente, simples assim. A única coisa que não faz sentido é você agir como se isso não significasse nada, porque ao menos para mim significa. - respondeu ele irritando-se.

_Você não entende. Eu vejo o significado disso e não gosto. Damon, eu não posso aceitar, ok? - o encarei como uma mãe encara um filho desobediente.

Damon travou o maxilar e assentiu com a cabeça.

_Era só a porcaria de um presente, mas você conseguiu estragar tudo.

_Eu sinto muito. - sussurrei.

_E agora o que você quer que eu faça com isso? - apontou para o carro e eu encarei o mesmo, pensativa.

_Não sei... Dê a alguma de suas amantes. Você não é casado? - sorri amarelo e ele não gostou. Na verdade, Damon irritou. Nunca até então eu tinha o visto daquela maneira.

_Primeiro, eu não sou casado. Segundo, lembre-me de nunca mais tentar agradar você. - Damon me encarou com um ar de superioridade, um olhar enojado que me destruiu por dentro.

Eu franzi os lábios e me aproximei, mas Damon esquivou.

_Damon, eu não quis... - tentei dizer.

_Tanto faz, Hazel. Não importa mais quais eram as suas intenções, elas não iriam fazer você retirar o que disse ou me fazer esquecer o que ouvi. - Damon se virou simplesmente, jogou a chave do carro na calçada e saiu andando na direção oposta sem olhar para trás.

Eu fiquei observando ele se distanciar sem poder fazer nada. Foi quando o arrependimento bateu na minha porta. Eu realmente não deveria ter sido tão grosseira com ele.

_É um belo carro. - Yago apareceu de repente bem atrás de mim e eu o encarei entristecida. Estávamos na frente do prédio onde morávamos. - Mas você fez bem em não aceitar. Eu não gosto desse cara.

_Por que não? - indaguei o encarando. Seus olhos estavam mais azuis do que nunca, pois os raios solares invadiam diretamente a sua alma e a trazia para fora.

_Ele é mau. - Yago respondeu friamente sem ao menos olhar para mim. Pegou a chave do chão e me entregou.

Eu tinha dúvidas, mas não as revelaria naquele momento.

Yago estava ali e isso fazia tudo ficar mais leve. Logo eu esqueceria aquele acontecido e seguiria como se nada nunca tivesse acontecido. Pretendia devolver a chave ao respectivo dono, mas não naquele momento. Esperaria algum tempo até a poeira baixar.

Olhei para Yago com o rosto iluminado e então disse sem mais nem menos:

_Tá com fome?

Ele me encarou meio sem entender minha mudança drástica de assunto, entretanto entrou no jogo e relaxou.

_Muita. - respondeu sorrindo.

_Quer ir comer um hambúrguer? - eu nunca pensei que eu fosse perguntar isso para alguém, mas lá estava eu torcendo para que ele dissesse sim.

_Claro, mas você paga. - Yago passou na frente rindo e eu encarei suas costas largas enquanto ele se distanciava.

Uma risada foi inevitável.

_Você é um bastardo. Me espere aí! - e fui correndo para alcança-lo.

A verdade é que eu não precisava de um carro se eu podia ter um verdadeiro amigo.

E lá estava eu e Yago, caminhando juntos através da escuridão.

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