l i n h a s

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O silêncio faz tudo parecer mais alto. E nessas horas não sabemos o que é real ou não.

No silêncio é quando voltamos a ser crianças, é quando ficamos nus. O silêncio faz tudo parecer mais alto, inclusive aqueles pensamentos que tentamos ignorar uma vida inteira relacionado a dor e a culpa.

A enfermeira entrou no quarto minutos depois e fez o procedimento necessário para bloquear a entrada de soro fisiológico na minha veia e em seguida saiu juntamente com Yago me deixando assim a sós com Pierre.

Eu me sentia exausta após tantos exames e toda aquela medicação, mas meu cansaço não era pálio para o meu interesse em Pierre. Eu queria ouvir o que ele tinha para falar mesmo que doesse bem no fundo do meu coração. Eu precisava ouvir independente de tudo.

Meus olhos estavam fixos nos dele como se silenciosamente eu o perguntasse qual era o próximo passo, muito embora eu soubesse que assim como eu ele não tinha ideia do que fazer.

Pierre caminhou silenciosamente até a minha cama, se sentou na beira do colchão e sem desviar o olhar em nenhum momento tomou minha mão na sua. Seu toque foi quente como fogo e aquilo ardeu dentro de mim mais do que se pode imaginar. Ele entrelaçou nossos dedos e respirou profundamente buscando estabilidade.

_Onde você estava? Senti muito a sua falta. - eu disse mais que desesperada, mas em um baixo tom de voz que não deixava completamente nítida a minha emoção.

Pierre apertou minha mão em um carinho reconfortante e então sorriu de lado triste e docemente.

_Por aí. - respondeu ele em um sussurro rouco. - Mas o que importa é onde estou agora. E eu estou aqui, Hazel, com você, por você.

Eu franzi o cenho e mordi os lábios.

Ele não poderia estar falando sério. Pierre era rancoroso demais, ele nunca me perdoaria pelo o que eu fiz mesmo que isso significasse a minha morte.

_Por quê? - balbuciei quase sem voz. - Por que está tentando ser legal comigo depois de tudo o que eu fiz com você?

_Porque você é minha melhor amiga, Hazel, e pode ser também a mãe do meu filho.

Naquele instante eu simplesmente esqueci de respirar. Pierre estava bem diante de mim me falando coisas bonitas em um curto espaço de tempo, e eu não sabia ao certo se aquele era um devaneio ou a mais crua realidade.

Mãe.

Essa palavra era um enigma para mim e para ele também.

E ser mãe soava ainda mais estranho para os ouvidos de uma mera alcoólatra.

_Hazel... - de repente os seus olhos castanhos ficaram bastante arregalados e ele segurou o meu rosto com suas grandes mãos com muita urgência. - Você está... porra, você está chorando? - ele praticamente gritou incrédulo.

Eu neguei com a cabeça sentindo uma espécie de formigamento na garganta.

Aquela sensação... Aquela estranha sensação de estar com uma bomba relógio dentro do peito e uma doce vontade de explodir para sempre.

Eu não poderia suportar. Não mais. Não depois de tudo o que eu tinha vivido, não depois daquela descoberta.

As lágrimas pareciam reagir com a minha loucura e a cada segundo que se passava a tempestade que desabava dos meus olhos se tornava mais violenta a ponto de me afogar.

Enquanto isso Pierre me observava chocado com a boca aberta sem reação alguma.

_Eu nunca te vi chorar. - ele confessou pasmo.

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