j o g o s

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Eu sei que em algum dia eu disse que o amor jamais me danificaria, mas a verdade é que eu nunca tive o controle sobre isso.

Amor.

Sim, eu jamais consegui domar tal sentimento.

Pelo o contrário, não seria eu quem teria o controle sobre a situação e sim o oposto. O amor me controlava, o amor me seduzia e me matava.

Amar sempre fez mal. Até mesmo o sentimento mais puro de uma filha para com o pai. Lembro-me da dor de ter perdido quem me direcionava ainda quando criança e nada no mundo poderia ser tão doloroso quanto aquilo. Pois eu o amava e saber que eu nunca mais beijaria suas bochechas machucava tanto...

O mesmo aconteceu com Pierre.

Quando eu percebi que já não tinha o controle da situação, eu simplesmente enlouqueci, pois a verdade, é que ele provocou. Oh, e como provocou.

Aconteceu em uma noite de quinta-feira. Todos os conhecidos da faculdade estavam reunidos em uma festa da fraternidade.

Meu intuito principal seria beber e fumar alguns baseados até que isso perdesse o sentido, mas com o passar do tempo, aquilo que eu chamava de diversão, se transformou em uma disputa infantil e arriscada com Pierre Montgomery.

Dinah, uma das minhas colegas de quarto, propôs um jogo. Ela era popular e sabia prender as atenções de todos a sua volta, inclusive, a de Pierre.

Estávamos sentadas com uns outros caras no sofá da sala. Na nossa frente, uma mesinha de centro com uma garrafa de vodka vazia.

Seu sorriso era imenso e brilhante enquanto falava e ria alto.

— Quem está afim de jogar "verdade ou desafio"? — Correu os olhos azuis pela a multidão lentamente.

Ouve alguns segundos de silêncio e também algumas risadas abafadas no meio da turma. Todos pareciam meio inseguros quanto a isso, pois não tinham nada a ganhar e nem tampouco a perder.

Um ruivo alto apareceu cortando caminho em meio a multidão. Ele já estava com os olhos vermelhos de maconha e outras drogas.

— Eu quero! — Se manifestou em alto e bom som. Parecia que, sozinho, ele havia fumado um quilo de erva.

Dinah sorriu maliciosamente.

Eu tirei a franja vermelha de frente dos olhos e a prendi atrás da orelha, sorrindo.

— Eu também. — Falei e, pela a primeira vez naquela noite, as pessoas se voltaram a mim. Era como se eu estivesse invisível até aquele exato momento. A maioria das pessoas ali sequer me ouviram minha voz em toda a vida.

_Uou, gatinha. Vai com calma. Você tem certeza que deseja fazer isso?

A voz grave e rouca de Pierre surgiu do nada e fez-se tudo dentro de mim.

Meu estômago virou de cabeça para baixo no maldito instante em que pus meus olhos nele.

Cretino.

Ele sorria de canto como sempre fazia quando olhava para mim. Agora estava do outro lado da mesa, bem de frente para mim, me encarando fixamente nos olhos.

Ele parecia possuir o controle de tudo e de todos. Ninguém dizia uma só palavra, apenas olhavam para nós.

Pierre era bonito. Mas não uma beleza natural como estamos acostumadas a ver nas capas de revista. Ele era o moreno mais sensual que eu já havia visto ao mesmo tempo que o mais estranho. Ele nunca seguia padrões de beleza. Pierre era descolado de tudo. Deixava os cabelos cacheados naturais e usava a primeira roupa amassada que encontrasse jogada pelo quarto. Ele tinha um estilo próprio, gostava de roupas pretas e cores neutras, mas mesmo assim chamava a atenção desesperadora de todas as mulheres que cruzassem o seu caminho.

Naquela noite usava um moletom preto e calça jeans. Parecia ter saído de uma transa e vindo parar diretamente em uma festa na fraternidade, pois seus cabelos estavam úmidos e suas bochechas coradas.

Pensar nele dando tudo de si era algo tentador. Uma parte de mim estava sempre tentando me encaixar em uma fantasia irreal enquanto a outra me trazia de volta a realidade.

Mordi os lábios, não por desejo, e sim por ódio.

A primeira intenção que tive foi a de me levantar e ir embora, mas depois percebi que não deveria proporcionar aquele doce deleite a ele. Ficaria ali e o confrontaria seguramente. Sempre quando alguma coisa acontecia era eu quem recuava.

— Por quê? Você não? — Rebati, e seu sorrisinho tornou-se malicioso.

— Não tenho medo de jogos. — O olhar escorregou até o meu decote, em seguida encontrou as minhas pernas cruzadas e por fim traçou todo o caminho de volta ao meu rosto. — Sou eu quem dita as regras.

Eu desejava me levantar, ir até ele e socar aquele seu maldito sorrisinho até que ele desaparecesse completamente de seus lábios. Mas tudo o que fiz foi suspirar, tirar novamente a franja dos olhos e então dizer, vagarosamente:

_Todos os seus jogos, seus truques, nada disso é forte o suficiente comigo.

Ele ergueu uma das sobrancelhas negras, curiosamente.

_O que você quer dizer com isso?

_Quero dizer que, se você deseja jogar comigo, terá que recriar suas trapaças porque eu conheço todos os seus truques e pretendo usar isso contra você.

Obviamente havia dois sentidos naquilo que eu estava dizendo. Pierre como um bom entendedor logo perceberia o alvo principal da palavra.

Eu queria dizer que não estava disposta a entrar em seus jogos, que ele não iria me manobrar e fazer maldades igual com suas vadias.

Eu era diferente. E ele não poderia fazer com que isso se tornasse normal.

Eu estava olhando diretamente para ele sem poder desviar. Ele enxergava além da minha pele. Fazia o sangue em minhas veias congelar. Aquela era uma sensação assustadora e meu Deus, como aquilo me deixava vulnerável.

— Hazel, nunca se tratou de jogos para mim. — Sua voz rouca vagou por noites e noites dentro de mim incansavelmente, e antes mesmo que começassem as apostas, eu perdi. — Vem comigo. Precisamos conversar.

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