i n s a n i d a d e

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O amor é trágico.

Digo isso com plena certeza porque já amei e me afoguei em uma só pessoa. E quando se ama verdadeiramente alguém, o egoísmo fala mais alto que todas as outras vozes. Talvez eu tenha sido egoísta comigo mesma ao aceitar que eu amava alguém que me fazia tão mal. Isso é imperdoável, eu sei. Mas é uma verdade que eu terei de aceitar hoje, e amanhã ou simplesmente por todos os dias da minha vida.

Era um dia até então tranquilo, mas que trazia um sentimento enorme de perda, quando decidi escrever uma carta a Pierre. Ele merecia conhecer o monstro que havia se transformado. Eu sabia que talvez seria doloroso para ele, mas eu tinha de o fazer.

Sentei a mesa na cafeteria ouvindo a voz rouca de Kurt Cobain sussurrando as letra de uma de suas músicas dentro dos meus fones de ouvido e então, dolorosamente, comecei a dar voz aos meus sentimentos.

"Eu te liberto" foi uma das últimas palavras, mas a verdade, a mais dolorosa verdade, é que quem estava presa era eu e não ele.

Sorri triste colocando um ponto final naquilo que eu sequer havia começado.

(...)

Os dias vooam e quando finalmente percebo já se passaram anos desde o momento em que coloquei o primeiro cigarro entre meus lábios. Eu tinha doze anos, apenas doze anos, mas eu sabia exatamente o que eu estava fazendo. Naquela idade eu já tinha consciência de que as drogas matam e os sentimentos mais ainda. Eu desejei e procurei sem saber a forma mais rápida e fácil de me autodestruir.  Eu me considerava uma adolescente muito esperta, entretanto, eu não sabia de nada. Porque a verdade é que se eu soubesse o que viria após, logo teria me livrado daquele maldito cigarro e teria também me libertado daquilo que me aprisionaria para todo o resto da vida.

E pensar que um simples cigarro poderia ser algo tão devastador.

Olhei para a minha taça de vinho tinto e em seguida para Damon. Ele franziu de leve as sobrancelhas e sorriu bem superficialmente quase sem perceber. Seus olhos redondos me observavam vagarosamente enquanto eu escorregava o dedo polegar envolta da taça.

Damon estava com um terno preto e uma camisa vermelha escura por baixo. Estava impecável e esplendoroso. A barba bem feita, os cabelos negros alinhados. Damon River parecia a porra de um diabo de tão bonito que era.

Ele piscou algumas vezes com aquele sorriso desentendido e então olhou para o seu prato encima da mesa do restaurante mais caro da cidade.

_Você está me deixando excitado fitando-me assim. - sua voz rouca e grave soou como um sussurro encoberto pela melodia do pianista. 

_Não seja tão baixo, Damon. - revirei os olhos, saboreando em seguida um gole do meu vinho tinto. O sabor era forte e levemente amargo, mas tinha algo tão suave entre isso que parecia nunca ter fim.

_Oh, - ele se inclinou discretamente em minha direção por cima da mesa, sua altura permitia tal movimento - baixo é a última palavra que me define neste momento, baby.

Eu neguei com a cabeça enquanto ele se afogava no seu próprio humor ácido.

_Você que pensa.

_Nunca subestime o que você não consegue ver - avisou e eu o encarei debochada.

_Algumas coisas na vida não precisam ser visualizadas ou tocadas para serem nitidamente baixas e pequenas. - debati com a ironia escorrendo por entre meus lábios.

_Opa! Eu não falei nada sobre toque, mas se você se interessar... - me lançou uma piscadela.

_Poupe-me, Damon. Não estou interessada nessa sua minúscula minhoquinha que você apelidou de pênis. - gesticulei o tamanho com os dedos.

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