FLY

a s s a s s i n o

Pierre deu um trago longo e demorado em seu cigarro, em seguida, soprou a fumaça para cima e me encarou.

_Eu me encontrei com a Karla ontem à noite. - ele disse naturalmente e travou o maxilar.

Molhei os lábios e pisquei algumas vezes abalada com a notícia. Eu não gostava dela e gostava menos ainda quando ela estava perto dele.

_Achei que ela tivesse saído da cidade. - comentei olhando para baixo. Tentei esconder ao máximo o escárnio do meu tom de voz, mas não consegui.

_Não, ela não tem grana mal para comer, quanto mais para sair da cidade. - Pierre respondeu obviamente como se meu comentário fosse ridículo. Ele fumou seu cigarro em silêncio, e após terminar continuou: - Estou preocupado com ela.

Eu encarei Pierre inexpressiva.

Ele estava sentado comigo em um estofado de couro, parecia bem relaxado ao mesmo tempo tenso na mesma intensidade. Estávamos em um boate quase no fim da cidade. Uma banda de rock amadora cantava no palco desafinadamente, entretanto, eu sequer conseguia prestar atenção no que eles diziam. Pierre me deixava assim. Ele tinha o poder de preencher meus pensamentos quando distante e simplesmente esvaziar minha mente quando no mesmo lugar que eu.

Dei um gole no meu drink e olhei adiante. As pessoas dançavam e se misturavam umas com as outras. Cores e tamanhos diferentes, era lindo ao mesmo tempo que assustador, pois eu estava ali entre elas, mas era como se pudesse enxergar tudo de fora. Era como se de alguma forma eu não pertencesse aquele lugar simplesmente por não me encaixar em lugar algum.

As sombras entravam em confronto com a escuridão e a música com o silêncio dentro daquelas pessoas tão barulhentas.

Eu não dizia nada, mas sentia tudo. Um pouco de ciúmes talvez ou desespero. Mas eu sentia mais do que todo mundo naquele lugar porque minha intensidade sempre seria superior a de todos eles.

_Hazel! - Pierre chamou de repente, se aproximando ainda mais de mim. Com uma das mãos colocou minha franja atrás da orelha e com a outra virou meu rosto na direção do dele para que assim pudesse encarar meu olho roxo.

_O quê? - minha voz rouca cortou todas as outras e em uma fração de segundo evaporou.

Pierre analisou minha expressão curiosamente e eu deixei que ele lesse o que ela tinha desenhado: medo.

Medo de ridiculamente perder alguém que eu não possuía. Medo de morrer por aquele amor.

_Ela é uma velha amiga. - Pierre sussurrou, perdido. Suas sobrancelhas negras de leve franzidas e os lábios entreabertos. A respiração se misturava com a minha. Eu sentia o calor, sua radiação. Eu o sentia como ele sentia a si mesmo, e aquilo era assustador.

_Eu também.

_Sim, mas ela é diferente.

Meus olhos ficaram pesados, portanto, me senti na obrigação de parar de olhar para Pierre porque eu realmente não queria que ele enxergasse a raiva que eu estava sentindo.

_Hazel... - Pierre suspirou, encostando a testa no meu ouvido. Ele estava tão perturbado quanto eu, mas porra, aquele era o nosso encontro. Por que então falar de outra mulher? - Ela abortou.

Naquele momento uma onda elétrica percorreu por toda a superfície da minha pele. Eu senti a dor de Pierre e eu vivi aquela emoção com ele, porque eu era o reflexo da sua alma.

_Eu sinto muito. - sussurrei entristecida, finalmente olhando para os olhos castanhos dele. Naquele momento percebi que ele estava lutando contra as lágrimas, então automaticamente eu o abracei, prendendo-o em mim, em meu mundo porque eu não desejava que ele sofresse daquela maneira embora a maior parte das vezes ele não se importasse com a minha dor.