v i n h o

879 118 41
                                    


Pierre M.

Eu havia passado o restante da semana tentando evitá-la o máximo possível e quando a via, tentava disfarçar. Não era como se eu estivesse fugindo, na verdade, era como se estivesse esperando-a me alcançar.

Eu nunca tinha sentido nada parecido por alguém, e me sentia culpado por isso. Talvez se eu tivesse mais experiências com sentimentos não teria assistido ao meu própio coraçao ser partido daquela maneira. A rapidez e a crueldade como tudo tinha acontecido me deixou sem chão, pois sequer me restara chances de defesa. Meu mundo simplesmente fora destruído sem mais e sem menos.

Depois do que Hazel me fez eu simplesmente segui como se nada tivesse acontecido. Era a primeira vez que eu tinha sido traído por alguém, mas eu ainda poderia lidar com os fatos melhor do que ela. Hazel era impulsiva e indomável. Ela desejava tanto ser livre que se aprisionava em si mesma. Todas as vezes que ela começava a criar laços ela simplesmente se soltava com medo de se enforcar. E eu não a julgava por isso porque eu também era assim. Mas eu estava mudando e sequer entendia o porquê. Mas eu já não a procurava em outras mulheres, não metia os pés pelas mãos e também não pensava demais antes de fazer algo. Talvez eu estivesse atrás de equilíbrio, embora eu não soubesse onde encontrar. Em uma busca eterna, uma sede insaciável por vitória na guerra e não mais destruição. E quando falo em guerra, me refiro a mim mesmo.

Kurt Cobain sussurrava uma melodia forte em meus fones de ouvido, mas eu nem ao menos prestava a atenção. Naquela tarde tão fria e nublada eu segui com o capuz encima da cabeça e as mãos enterradas nos bolsos do moletom. Eu não prestava atenção em ninguém. Eu simplesmente não me importava.

Minha última aula da semana tinha se encerrado há pouco tempo e eu não tinha planos de sair para beber com os meus novos colegas de quarto. Desejava apenas tomar um longo banho, desligar o celular, queimar uma erva e me apagar a minha existência até o dia seguinte.

Eu sempre pensei que eu a machucaria, mas não acreditei no contrário. Esse foi o meu pior pecado: subestimar demais uma mulher tão louca como ela.

Quando eu estava quase chegando no prédio do meu dormitório, algo pequeno entrou na minha frente me forçando a parar.

Travei o maxilar e olhei para baixo devagar.

Franzi o cenho.

_O-oi. - uma garota baixinha e de cabelos cacheados sussurrou.

Eu pisquei algumas vezes tentando lembrar dela, mas nada me vinha na memória, nada mesmo.

Ela era pequena, mas tinha um corpo moreno muito bonito. Ela era mais o tipo de Yago do que o meu, mas eu provavelmente ficaria com ela sem problemas se eu quisesse, mas eu não queria.

_Eu te conheço? - eu murmurei olhando-a fixamente nos olhos. Então ela corou.

Merda, mais uma daquelas nerds chatas?, pensei.

_Não exatamente, mas cursamos medicina juntos desde o começo do ano. - ela respondeu desconcertada com um sorriso tímido nos lábios.

Eu fiz careta.

Merda, aquela garota estava na mesma sala que eu há sete meses e eu ainda jurava nunca tê-la visto em toda a minha vida.

_Ah!... - assenti com a cabeça confuso, mas nem um pouco interessado no restante da história.

Houve um pequeno espaço de tempo curto e constrangedor onde nenhum de nós falou algo ou ao menos se mexeu.

Aproveitei esse pequeno instante que mais pareceu uma eternidade para analisar seu corpo. Ela vestia uma calça jeans folgada, uma camisa larga e tênis all-star surrados. Sua pele morena em um tom mais claro que a minha parecia ser macia, eu não poderia deixar de notar. Ela tinha lábios grossos assim como os meus e olhos incrivelmente cristalinos por trás da armação redonda dos seus óculos. Seu cabelo cacheado cor-de-areia era uma linda bagunça e, olhando-a daquela maneira me fazia repensar se eu não a pegaria.

FLY Onde histórias criam vida. Descubra agora