FLY

a m o r

Meu amor por Pierre era como um cigarro. Cada trago um estrago e aos poucos a matéria ia sendo consumida pela chama enquanto aquele desejo insaciável colocava tudo a perder.

Mas eu era viciada, louca e estava apaixonada. Eu sabia que o melhor seria me virar e sair andando, mas nunca importou a direção por onde caminhei, já que meu destino final era próximo ao dele. Estávamos predestinados, tínhamos que ficar juntos, nos tocar e em seguida inflamar. Tinha que ser assim.

Eu logo saberia o porquê.

Três batidas na porta e então eu disse me sentando na cama:

_Pode entrar.

Lá estava ele encostado no batente com uma das mãos no bolso e a outra segurando a maçaneta. Os olhos castanhos de Pierre estavam mais brilhantes que nunca e ele tinha um sorriso amigável nos lábios.

_Oi, Hazel. - ele sussurrou, me observando em admiração.

_Oi, Pierre. - sussurrei de volta com uma das sobrancelhas erguidas. Estava confusa. - O que você quer?

_Conversar. - ele deu de ombros. - Não consigo dormir com o pé gelado do Yago encostando no meu e o sofá não é tão confortável quanto sua companhia.

_Certo. - concordei com a cabeça colocando a franja atrás da orelha.

_Posso ir até você? - ele perguntou cautelosamente.

_Sim, você pode.

Pierre sorriu e então caminhou até minha cama. Passos lentos e macios, era como se ele estivesse flutuando em minha direção. Ele estava sem camisa, usava apenas uma bermuda de tecido escuro. Seu abdômen sarado estava exposto assim como as tatuagens sobrias em seus braços repletas de profundidade e expressão.

O cabelo cacheado estava uma bagunça louca e seu perfume pairava sobre o ar quase como uma poeira invisível. Era incrível e quente. Eu sentia minha pele arder.

Quando chegou até mim, sentou-se ao meu lado na borda da cama, sua costa nua virada em minha direção, mas seu pescoço estava virado para o lado e ele me encarava pelo canto dos olhos. O abajur estava ligado e a luz amarelada permitia uma imagem clara sobre seu corpo. Na verdade, eu enxergava mais sombra do que cor, mas ainda assim eu sentia ele ali comigo.

Eu estava sentada e metade de mim queria apenas me deitar com ele e a outra expulsa-lo dali as pressas.

_Eu sinto sua falta, Hazel. - murmurou inexpressivo e eu mordi os lábios em silêncio. - E eu também sinto muito por tudo o que aconteceu. Sei que nos últimos meses eu tenho agido como um babaca com você, mas isso tudo para te proteger.

_Proteger? - franzi as sobrancelhas. - Proteger de quê?

_De mim. - rosnou. - Te afastar é a única maneira de te manter segura, entretanto, não consigo te deixar ir embora porque a mesma força que te expulsa é a que te faz voltar.

O silêncio se derramou sobre nós e eu fiquei ali calada observando tudo ao mesmo tempo que nada.

_Eu sempre vou voltar. - eu soltei de repente algum tempo depois quebrando o silêncio.

Pierre se ajeitou ficando sentado de frente pra mim. Eu o encarei seriamente e percebi que ele estava com um olhar confuso e repleto de emoção.

Ele tinha olhos tão bonitos e uma boca tão macia e gostosa. Era como uma escultura divina e sagrada feita de carne e banhada por pecado. Ele era o oitavo pecado capital.

E me aproximei dele e meu rosto ficou a centímetro do seu. Eu sentia o seu calor queimando minha pele e a energia vital correndo por nossas veias. Eu sentia tudo o que ele sentia e isso era uma tortura.